❄-Capítulo XXI

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Naquele dia, a noite era uma grande escuridão enevoada.

- Tens mesmo que ir? - Freydis encarava Anzel com seus olhos cor de oceano.

Ele a abraçou, afagando seus cabelos.

- Por que é que estão tão tristes? Devem estar felizes por mim. Foi me dado uma grande oportunidade, fui agraciado com uma confiança gigantesca e estou feliz.

- Estamos felizes por ti, mas sentiremos tua falta - Anton explicou.

Era tarde da noite. Acelin já havia sido dispensada de seu trabalho e todos juntaram-se na varanda do antigo escritório de contabilidade. Já estavam acostumando-se a ter momentos como aqueles, onde os problemas eram inaudíveis diante do som alto de suas risadas e vozes altas.

- Tenho certeza de que voltarei logo para nos juntarmos novamente - sorriu com aquele sorriso caloroso que aquecia os corações.

- Acho bom voltar logo mesmo ou eu irei cruzar o oceano atrás de ti - Rurik o advertiu.

- Nunca saístes nem de Cadís, como podes dizer que cruzará o oceano? - Nukenin provocou.

- Definitivamente, não sabes do que sou capaz - o comentário os fez cair em risos.

- Nem tu acreditas nisso, quem dirá nós? - Acelin juntou-se às provocações.

- Por que todos sempre voltam-se contra mim? - Rurik bufou.

Ficaram ali conversando, imersos em suas histórias sem perceber o tempo passar, até que o sono começou a lhes vencer e decidiram, por fim, irem para seus aposentos.

Anzel foi junto de Rurik até o pavilhão de inverno, pois o mais novo tinha algo para lhe entregar.

- Não é grande coisas, apenas algo para que te faças lembrar desse lugar e bom... de mim.

- Pares de agir como se eu estivesse indo para uma viagem de anos, serão penas alguns meses - alegou.

Estavam os dois no quarto do jovem príncipe. Rurik abriu uma gaveta de seu armário de onde tirou uma caixa de madeira.

- Sei que são apenas alguns dias, mas ainda assim será estranho não ter-te conosco, pois sempre estivemos juntos - justificou.

O mais novo abriu a pequena caixa e tirou uma sacola marrom de dentro dela e entregou a Anzel.

- Abra - pediu, esfregando a nuca, pois estava sem graça.

Anzel obedeceu, tirando de dentro da sacola de tecido um floco de neve pequeno feito de cristal.

- Não é nada especial, mas carregará um pouco do meu pavilhão contigo - sorriu acanhado.

- É claro que é especial, Rurik. Muito obrigada.

O jovem príncipe o abraçou com força. Seria a primeira vez em suas vidas que iriam separar-se, mesmo que fossem apenas alguns dias.

A verdade é que só sabemos a intensidade de nossos sentimentos quando temos de nos separar, seja por um curto período ou não.

🔱🔱🔱


O sol decidira aparecer naquela manhã, mesmo que timidamente.

Anzel levantou-se cedo e seguiu até o templo da deusa Taranis, onde ofereceu-lhe um sacrifício e suplicou que a deusa da sabedoria lhe permitisse ser sábio para conseguir cumprir sua missão e trazer orgulho ao seu pai.

Em seu coração, o jovem tinha um desejo desesperado por fazer valer a pena a confiança que lhe fora concedida. Não estava com medo e nem inseguro, acreditava que seria capaz de realizar aquilo.

Ao contrário de Sandor, seu pai, que temia que seu filho não fosse capaz de fazer aquilo.

Ainda naquela manhã Anzel partiria à Palama. Então, a realeza e alguns nobres de importância, juntaram-se no salão do palácio. A nobreza estava assustada como cachorrinhos em dia de tempestade, temendo por perder seus privilégios caso a crise se intensificasse e questionavam a atitude do rei de mandar um homem tão jovem e sem experiência, mas Magnus sabia que era aquilo que devia fazer. Parte por saber que seu sobrinho era um jovem inteligente e articulado e parte por não querer mandar seus herdeiros para lá. Para ele era melhor arriscar a vida de Anzel, do que o trono.

Anzel estava ajoelhado perante o rei que estava de pé a sua frente. Com a voz firme, sem mostrar nenhuma insegurança diante de sua decisão, Magnus disse:

- Afim de negociar com o rei Farid de Palama e recuperar o comércio que havia anteriormente entre nossos reinos, eu envio meu sobrinho Anzel Masalis, membro da realeza, filho de Sandor Masalis, para o reino de Palama com uma comitiva de soldados.

O rei, então, tocou com sua espada de prata o ombro do rapaz, como uma forma de abençoá-lo.

Impossível explicar o sentimento que tocou o coração de Sandor naquele momento. Queria impedir aquilo, queria manter seu filho ao seu lado. Sentia-se perdendo o controle de tudo e aquilo lhe era desesperador.

O sorriso no rosto de Anzel contrastava com a seriedade no rosto do pai. Para o jovem cada dia lhe concedia uma nova oportunidade e aquele dia marcava o início de seu futuro.

De frente ao portão do palácio, seus amigos vieram despedir-se dele.

- Nos veremos dentro de alguns dias. Lerei muitos livros e contarei-te todas as histórias - Freydis, sempre emotiva, tinha lágrimas nos olhos.

- Pensarei em ti em todo o tempo, Frey - depositou um beijo casto em sua testa.

- Cuide-se bem em Palama. Confiamos que farás um ótimo trabalho lá - disse Acelin o abraçando.

- Obrigada. Por, favor seja paciente com Rurik e não o mate, mesmo que a vontade te consuma- brincou.

- Eu não prometo - gracejou.

Anton o abraçou, desejando-lhe uma boa viagem, assim como Nukenin.

- Cuide-se e não demore, senão eu irei buscar-te - disse Rurik, abraçando com força o amigo.

Após despedir-se de seus amigos, Anzel despediu-se de seu pai. Com os olhos cobertos de receio, Sandor disse:

- Eu confio em você filho e tenho muito orgulho de quem te tornastes - sorriu fraco e abraçou com força o mais novo.

Anzel subiu no cavalo que o levaria té o porto, onde iria de barco até Palama junto com os soldados e encarou o rosto maduro do pai.

- Estarei de volta em breve, pai. Eu te amo.

- Eu te amo, filho.

Um último aceno foi dado e logo Anzel era apenas um ponto escuro ao longe. Sandor apertou os olhos com força, rogando aos deuses que protegessem seu filho.

Aquele era o primeiro dia do futuro de Anzel.






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