Luna Negra

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-Eu te ligo quando tudo isso aqui terminar, beijo já estou com saudades

Minha casa se transformou num verdadeiro circo, o pessoal do buffet já chegou e está arrumando o salão para meu 12° aniversário de casamento. Alfonso está empolgado e alegre como em todos os anos, ele acredita tanto nessa mentira que às vezes penso que realmente gosta de mim. Estou no meu quarto, com uma equipe de maquiadores, figurinistas e hair style, já provei mais de quatro peças e não estou me sentindo confortável com nenhuma. É sempre um martírio para mim fingir que comemoro meu casamento. 

 Queria mesmo estar em Roma com Dulce e sua família, conhecendo suas pequenas sobrinhas que parecem muito a ela, conversando com seu cunhado em italiano para ver se meu idioma está muito enferrujado. Queria estar ao seu lado degustando vinhos frescos a frente de uma paisagem montanhosa, observando a corrente de ar frio balançando seus cabelos vermelhos e ela friorenta como é, correndo para se aquecer em meus braços. -Que sonho! - digo em voz alta, chamando atenção da equipe que sorri acreditando que estou falando daquela festa.

Recebo minha mãe no quarto, e ela pede que fiquemos a sós, está agitada e eufórica, é outra que vive essa mentira tão bem que acredita ser tudo verdade.

-Você ainda não está pronta, está indecisa? - pergunta tocando meus cabelos

-Mãe para! - me afasto de seu toque

-Por que tão ríspida Giovanna? 

-Por que tanta mentira mãe? Não tenho mais 18 anos, sou uma mulher adulta e sei bem o que quero, não preciso mais de você tapando meu sol

-Não, você não vai estragar esse dia tão deslumbrante. Já viu como Alfonso está elegante?

-Dani-se mãe.. - reviro os olhos e pego meu celular

-Giovanna se eu souber que você está se aventurando novamente nessas histórias hippies de que o amor não tem sexo não tem isso e aquilo, eu terei que ser muito mais protetora a sua imagem

-Sai daqui Marichelo! 

-Termine e vá ver seu marido, os primeiros convidados já chegaram

Opto por um look negro, representando meu luto pela verdade que a muito tempo morreu nesta casa. Desço as escadas de mãos dadas a Alfonso e os fotógrafos que minha mãe contratou registram esse momento tão falso de nossas vidas, os convidados aplaudem e sua maioria são familiares nossos que estão a postos aguardando algum deslize que nos prejudique. Só quero que essa noite acabe logo. Um pianista começa seu concerto e os convidados nos cumprimentam, desejando sucesso a nossa união. Alfonso pega duas taças de champanhe e faz um brinde a nosso amor comprado, possamos para fotos com os convidados e meu maxilar já dói de tanto forçar sorrisos e gargalhadas.

-Vamos dançar meu amor? - Alfonso me estende a mão com um sorriso aberto, não posso recusar o convite pela quantidade de pessoas me nos observa.

 Ficamos no meio do salão e a valsa começa, já fizemos isso tantas vezes que adquirimos um sincronismo perfeito, enganamos a qualquer um que nos veja dançando. Ele me provoca com piadinhas ao pé do ouvido não posso responde-lo mas me vingo pisando em seus pés, ele sorri disfarçando o incômodo e continuamos até a música parar.

O fim da festa chegou como um gole gelado chega para quem está com sede, terminamos de nos despedir dos últimos convidados e assim que pude subi para meu quarto. Um banho de espumas já me aguardava, Alfonso tomou uma ducha e deitou na cama só de cueca, sai do banho enrolada no roupão e me assustei com aquela cena.

-O que pensa que está fazendo?

-Estou deitado na minha cama - abriu os braços

-Eu não vou dormir com você assim - apontei para sua roupa

Ele riu e me olhou - Giovanna até parece que nunca me viu nu, esqueceu das nossas noites?

Fechei os olhos e levei as mãos a cabeça, não queria me lembrar daqueles momentos, nada contra Alfonso seus carinhos seriam bem retribuídos por alguém que lhe deseja-se mas esse alguém não sou eu, a lembrança de nossas transas são algo que me incomoda lembrar, não fui forçada a nada fiz por insistência minha para ver se me sentia parte da relação mas o resultado sempre foi desastroso. Alfonso não me remete a nenhum sentimento sexual, nenhuma de nossas transas se compara ao que acontece entre Dulce e eu, nossa química é tão perfeita e irresistível com apenas um beijo sinto todo meu corpo arder de desejo.

Discuto com Alfonso até que ele troque sua roupa ou durma em outro quarto, ele argumenta mas acaba cedendo e se retira. Me troco, apago as luzes deixando só os abajures acesos pego meu notebook e faço uma chamada de vídeo para Dulce, já são 9 horas da manhã em Roma. Ela não me atende na primeira tentativa, tento mais uma vez e uma de suas sobrinhas atende, parece ter uns 8 anos de idade 

-Olá mocinha, poderia chamar a Dulce?

-Oi você é amiga da minha tia? 

-Sou sim, pode chamá-la?

-Ela saiu ontem com a namorada dela, ainda não voltou 

-Saiu com quem amorzinho? 

-Saiu com a namorada dela tia, não conhece a Zô? Elas são namoradas..

La Mujer de Mi Novio (Portiñon) Onde histórias criam vida. Descubra agora