Capítulo 4

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        Minha mãe planeja o meu futuro desde que sou muito nova. De acordo com ela, eu não farei faculdade e dedicarei toda a minha vida ao balé, me casarei aos trinta com um homem bem sucedido e terei filhos dois anos depois. Se eu estou feliz com isso? Não. Mas o que eu posso fazer? Que opinião eu tenho?

O que eu quero seguir é muito diferente disso.
Eu quero cursar literatura inglesa e usar a dança como um hobbie, viver sem me preocupar em ser perfeita.

Olho para o relógio em minha frente e sou rápida em terminar a xícara de café em minha mão.
Ontem o dia foi cheio. Os professores começaram a passar os assuntos e eu não tive tempo nem para respirar.
Hoje, quarta-feira, espero que tudo seja mais calmo.

Minha mãe está em seu quarto quando saio de casa. Gritei um "tchau mãe" como sempre faço e segui o caminho de sempre.
Como não estou atrasada como no primeiro dia, a escola está quase vazia quando chego. Há apenas um grupo de garotas sentadas em um banco e dois meninos mexendo no celular.

Sento em um banco para esperar o tempo passar. Pego meu celular na mochila e observo as mensagens. Há apenas um "estou com saudades" do meu pai e April falando que está quase chegando.
Respondo ambos e abro o Instagram. Adele postou uma foto de seu café da manhã, e Pierre, uma selfie exibindo seus cabelos loiros bagunçados. É engraçado pensar que muitas pessoas tiram fotos assim que acordam. Fala sério, se eu tirar uma foto assim que eu acordo, nunca publicaria. Eu não sou a pessoa mais bonita depois de uma noite de sono.

Guardo o eletrônico na mochila novamente quando avisto Lola vindo em minha direção, com o rosto amassado e o cabelo bagunçado.

— Por que as aulas dessa escola precisam começar tão cedo? — pergunta com uma voz sonolenta e em seguida boceja.

— Eu não faço a mínima idéia, mas é sempre mais produtivo começar o dia cedo — declaro, e ela nega com a cabeça.

— Só é produtivo quando você não dorme às duas da manhã — resmunga e esfrega os olhos.

— Com certeza — rio da sua expressão engraçada.

— Cadê todo mundo? — ela questiona e olha ao redor. A escola já está começando a encher.

— Provavelmente April vai chegar daqui a pouco, e bom, você sabe que o Will costuma ignorar o despertador — a lembro e ela concorda.

Ficamos em um silêncio desconfortável por alguns minutos até eu ver minha melhor amiga passando pelo portão com uma garrafa pequena de água.
Ela vem até nós e se senta ao meu lado.

— Precisamos fazer algo hoje a noite. — Ela sugere antes de dizer "oi".

— Por quê? — Lola pergunta, franzindo o cenho.

— Alguns amigos do meu pai vão para um jantar e eu não estou afim de ouvi-los gritar e rir enquanto contam as histórias da faculdade — April diz enquanto mexe na tampinha de sua garrafa.

— Por mim tudo bem — diz Lola, dando de ombros.

— Eu não... — começo a dizer, mas April me detém.

— Nem vem com essa. Você nunca topa sair, mas hoje você vai. Eu sei que não tem nada para você fazer, e se tem, é para daqui a duas semanas — diz, com as sobrancelhas erguidas e com a voz autoritária.

— Mas e o balé? Eu só saio de lá às sete — falo, tentando me livrar.

— É só irmos depois. Eu também tenho treino de vôlei até às sete, mas e daí? Temos a noite toda.

Forte como o Sol [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora