O Vestido de Época

Capítulo 1

Inglaterra – 2016

Aquele dia em Derbyshire estava diferente dos outros dias de janeiro. O céu tinha um azul intenso e o frio estava um pouco mais ameno que nas últimas semanas, dando fôlego aos afazeres do dia. Isabelle preparava deliciosos cookies de chocolate na cozinha do castelo, enquanto sua filha Julia dava pulinhos de alegria aguardando-os assarem. O cheiro adocicado do biscoito já havia penetrado no recinto, o que deixava o ambiente do castelo Barsac agradável como um lar para os moradores e para os hóspedes que por ali passavam.

Isabelle Fantini estava cada dia mais interessada em experimentar novas receitas para o cardápio do hotel e, com isso, aprimorar a experiência dos visitantes. Desejava proporcionar momentos únicos que ficassem verdadeiramente guardados na memória de quem se aventurasse a ir para aqueles lados da Europa. Ela terminava de organizar os biscoitos na assadeira juntando a primeira fornada com os outros pré-aquecidos quando a pequena Julia saiu correndo da cozinha na velocidade de um tornado – ou até mesmo mais rápido que um fenômeno da natureza – e pulou para abraçar o pai que acabara de chegar a casa. Ele fez um movimento rápido com as pernas e agachou-se em frente à filha, suavizando a diferença da sua estatura alta e magra.

O sorriso da menina ia de uma ponta à outra em seu pequeno rosto delicado. Seus olhos azuis transpareciam felicidade ao acalentar-se nos braços do pai.

– Olá – disse Christopher com a voz suave feito uma melodia.

– Papai, você está sentindo um cheiro delicioso? – quis saber com grande interesse. – Estou ajudando a mamãe a fazer cookies de chocolate – denunciou no mesmo instante.

Christopher beijou-a delicadamente na testa e apertou-a ainda mais, provocando um abraço demorado.

– Os cookies, papai!

– Venho correndo para casa e sou trocado por doces? – relatou sorrindo. – Quero provar, você divide comigo?

O pai sabia que cookie de chocolate era o favorito de Julia. Poderia convencê-la a fazer qualquer coisa em troca de um pouco de açúcar na sobremesa.

– Claro, papai! Eu e a mamãe fizemos um montão, mas a mamãe disse que não podemos comer todos, porque são para os novos hóspodos – cochichou no ouvido dele.

Christopher divertiu-se com o erro de sua menininha, ela tinha quase quatro anos e possuía um vocabulário vasto para a sua idade, mas, às vezes, se atrapalhava. Por isso, ele pronunciou pausadamente a palavra para corrigi-la: hóspedes. – Os biscoitos são para os hóspedes, filha.

Julia pegou a mão do pai e o guiou até a cozinha.

Isabelle lavava a louça; tudo o que havia usado para cozinhar estava sujo dentro da pia. Christopher aproximou-se, pôs o dedo sob o queixo dela e virou seu rosto para beijá-la. Ela estava com os cabelos presos no alto da cabeça – uma pequena madeixa rebelde por trás da orelha, estava fora do coque – seu pescoço nu provocou no marido doces lembranças da noite passada. Em poucos segundos, Christopher foi transportado ao momento em que a conhecera no hotel Les Lits Paris. O feitiço que os olhos verdes dela provocaram nele foi marcante. No dia da entrevista, seus longos cabelos castanhos estavam presos naquele mesmo coque e ele sentiu a suave fragrância do Chanel 5. O famoso perfume penetrou nas narinas de Christopher desde a primeira vez em que a viu e nunca foi esquecido. Isabelle foi indicada ao cargo por um gerente da rede de hotéis Les Lits da unidade de São Paulo. Além disso, ele sabia que ela tinha experiência para a vaga, pois apresentava um ótimo currículo e Christopher, no cargo de gerente geral, ficou mais do que satisfeito em tê-la na sua equipe de trabalho.

Não lhe restavam dúvidas que, naquele momento presente, Isabelle estava bem à vontade na sua atividade de planejar o menu, coordenar a cozinha e toda a organização que era necessária para receber os hóspedes no castelo Barsac. Cozinhar, com certeza, não era a função de uma profissional de Relações Públicas como ela, porém naqueles quatro anos juntos, ele a conhecia muito bem para perceber o brilho de felicidade em seus olhos. Era fato que ela vinha relutando na contratação de uma cozinheira permanente, mesmo ele ponderando o tamanho do castelo e suas necessidades.