Capítulo 10

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Bertbury Park – 1919

Já estava quase amanhecendo, Brianda virava-se na cama de um lado para o outro com muito desconforto. Ainda não tinha pregado o olho nem um instante e seu corpo doía por dentro e por fora. As lembranças do que passara na noite anterior martelavam fortemente na sua cabeça; por alguns segundos, teve dúvida dessas memórias. Ela olhou para o seu braço direito e constatou o roxo deixado pela força da mão de Daniel apertando-a impiedosamente. Esse foi o primeiro dos registros que ficaram em seu corpo, sem contar a dor e ardência no seu órgão genital. Tudo aquilo Brianda curaria com o tempo, mas sabia que seria difícil, quase impossível, esquecer-se do episódio.

– Ó, Deus, por favor, me ajude – implorou ela. Mais uma vez ela sentiu as lágrimas correrem sobre o seu rosto e permitiu-se soluçar baixinho uma última vez antes da luz do dia penetrar por completo no ambiente e despertar sua companheira de quarto. Jessica ainda dormia, mas por pouco tempo.

Quando a Sra. Burcke bateu à porta, Brianda já havia elaborado uma desculpa para esconder-se em seu quarto. Ela explicou ter adiantado algumas coisas para as refeições do dia e que havia caído na cozinha, na noite anterior, um pouco antes de finalizar o serviço. O roxo em seu braço já tinha formado um grande hematoma e ela usou isso para a prova da mentira. Como tinha escorregado no chão molhado da cozinha, seu corpo doía muito e ela não conseguiria levantar-se logo cedo. Foi relatando o incidente devagar e com detalhes, imaginando o cenário e a situação. Quase que ela mesma estava acreditando em tudo aquilo, porque até certo ponto a história era real e ela tinha trabalhado até tarde.

– Mas, menina, por que não gritou para alguém ajudá-la quando você caiu? – argumentou Margareth indignada.

– Eu escorreguei muito de repente e fiquei imóvel por um tempo. Meu corpo doía totalmente, uma dor muito forte. Não tive forças para gritar. – Brianda gemeu ao pronunciar as palavras. Seu sofrimento era verdadeiro ao lembrar-se de Daniel tampando a sua boca ao penetrá-la.

– Coitadinha – lamuriou a cozinheira. – Fique quieta aqui por hoje, vou tentar fazer tudo sozinha. Virei chamá-la somente se necessário.

– Se isso for mesmo possível, eu lhe agradeço imensamente.

– Claro, querida. Dê-me um minuto, vou buscar uma xícara de café para você.

Brianda conseguiu soltar um sorriso torto.

– Obrigada pela gentileza, Sra. Burcke. Tenho certeza de que mais tarde estarei bem melhor.

Margareth saiu do quarto com o intuito de providenciar algo quente para Brianda beber. Logo depois, iniciaria suas receitas na cozinha, ela não duvidava que seria bem corrido sem a ajudante por perto.

Ainda pela manhã, quando Brianda estava com os olhos fechados quase cochilando, ela ouviu uma batida na porta. Três toques de leve e uma voz masculina sussurrou o seu nome no corredor.

– Sim – murmurou Brianda amedrontada. Ela encolheu-se embaixo das cobertas tentando imaginar quem seria. Ficou pensando se daria tempo de empurrar um gaveteiro na porta para bloquear a entrada de seu quarto.

– Sou eu Brianda, Mike. Posso entrar?

– Mike? Não estou vestida apropriadamente para recebê-lo. – Foi a primeira coisa que lhe ocorreu dizer em resposta à batida.

– Eu só queria saber se está bem. Ainda não saiu do quarto, são onze horas. A Sra. Burcke disse que você caiu ontem à noite.

A cabeça de Brianda latejava de dor e ela escorregou o corpo na posição horizontal novamente.

O Vestido de ÉpocaWhere stories live. Discover now