Capítulo 5

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O casal Dreschler chegou no início de uma tarde de clima agradável em Bertbury Park; trouxeram as malas recheadas de notícias frescas das grandes cidades. Todos os funcionários do castelo estavam em seus devidos lugares para receber o Sr. Paul Dreschler e a Sra. Mary Dreschler vindos de Londres. O motorista ajudou a Sra. Dreschler a descer do carro, Sophie cumprimentou a amiga enquanto Philippe apertava a mão de Paul. Logo em seguida, os conduziu para dentro. Charlize acompanhou as damas e todos se acomodaram no salão principal. Um suntuoso lustre destacava-se na decoração clara em tons pastel. Nada era chamativo naquele ambiente, o alinhamento do degradê das cores verde e azul sobrepostas formavam a suave harmonia esperada. Sophie havia reformulado recentemente o salão de visitas para algo mais moderno, tentava resgatar a alegria para os novos tempos.

O casal recém-chegado era amigo da família havia dois anos, tinham se conhecido em uma festa em Londres. Mary sempre teve um ar muito mais exótico do que Sophie, ela tinha os cabelos pretos e acabara de cortá-los curtos, na altura do queixo, seguindo as tendências da moda em Paris. Seus olhos negros com cílios longos estavam agora mais ressaltados no novo visual. Sophie divertia-se com toda aquela inovação e jeito extravagante da amiga, justamente por ser o oposto de tudo aquilo. Lady Powell era clássica na maneira de se vestir e mantinha sempre uma fala ponderada, quase que medindo cada palavra que saía de sua boca, já Mary tagarelava todas as notícias possíveis que poderia contar, muitas vezes era algo insano de acompanhar. Poucos sabiam sua idade e quando era abordada sobre isso dizia ter menos que seus documentos. Seu visual era tão condizente que com o passar do tempo a própria Mary havia se convencido de que tinha 37 anos apenas.

– Estão chegando de Londres ou de Paris? – perguntou Charlize.

– Estávamos em Londres na última semana, mas ficamos uma longa temporada em Paris. Ah... Paris – suspirou Mary apoiando delicadamente a mão no peito. – Como uma cidade pode ser moderna e antiga ao mesmo tempo? E por que não dizer efervescente, levando em conta que temos todos aqueles cafés lotados! Vocês sabiam que escritores buscam inspiração para seus personagens nos bairros de Montparnasse e Montmartre? – mais uma vez ela suspirou sem esconder os trejeitos. – Andar pelas ruas de Paris é o mesmo que receber um convite para abrir as cortinas de um espetáculo grandioso.

Charlize ouvia a amiga de sua mãe e não escondia estar encantada com todo aquele cenário artístico. O enfoque divertido que Mary dava a seus relatos e sua desenvoltura ao gesticular usando as mãos provocava risos contínuos nos lábios da menina. Sophie também escutava atenta as histórias, mas imaginava ser tudo um pouco surreal para os padrões ingleses.

– E como anda a moda em Paris? Ouvi dizer que os estilistas modificaram muito a última temporada! – comentou Lady Powell, querendo saber um pouco mais sobre o assunto.

– Sedas coloridas e brilhantes tomaram conta das ruas da cidade, Paul Poiret inovou sua costura com inspiração no orientalismo dos balés russos. Calças bufantes de harém, turbantes franjados e fios de pérolas foram incorporados no guarda-roupa da mulher moderna.

Charlize revirou os olhos de excitação.

– Vi roupas nesse estilo na última edição da revista de moda que li. Azuis e verdes da Persa, tudo muito vivo, luminoso.

– Isso é verdade – concordou a Sra. Dreschler. – Parece que a austeridade da guerra ficou para trás. – Mary alisou o seu novo look lembrando a si mesma como os tempos eram outros. Usava unhas nacaradas em um tom profundo para completar a imagem chique que sustentava com afinco.

Os homens estavam de pé próximos à janela, conversavam e tragavam seus charutos no mesmo entusiasmo da conversa delas, porém para eles nada importava a moda e sua transformação. Estavam totalmente envolvidos na economia mundial e interessados na nova fase financeira de seus negócios.

O Vestido de ÉpocaWhere stories live. Discover now