Capítulo 17

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Três meses se passaram e não foi nada fácil para Brianda olhar dentro dos olhos de Mike e dizer em palavras claras que estava esperando um filho dele. Ele sorriu e colocou-a em seus braços, dentro de um ninho para protegê-la, logo que recebeu a feliz notícia e os olhos dela ficaram marejados pelo desespero e pela mentira. Como seu noivo poderia ser tão maravilhoso com ela, que, em troca, retribuía-lhe com inverdades! Ninguém mais, além de Margareth, saberia o que ocorreu na cozinha do castelo naquela gélida noite de um pesadelo. Ela não ousaria e, certamente, não teria forças para expor esse assunto mais uma vez.

Tudo seguiu como ela havia planejado desde a última conversa com a sua fiel amiga. Começou a sair com Mike e, nesse ponto, foi tranquilo envolver-se com ele, porque Mike era muito amável e atencioso com todos ao seu redor. Somente uma vez Brianda cedeu às carícias calorosas do namorado e como haviam ultrapassado os limites de um namoro respeitável e chegado ao clímax, ela julgou ser o suficiente para comprovar sua loucura.

O roteiro tinha seguido o seu passo a passo e ainda que tudo tivesse se encaixado na mais perfeita ordem até aquele momento, Brianda continuava a carregar uma angústia em seu peito. O conde e a condessa tinham sido muito compreensivos quando aceitaram o pedido da Sra. Morris para que acolhessem o casal na propriedade até o nascimento da criança. Mike continuaria a prestar serviços à família, até por que precisava do dinheiro para sustentá-los, mas Brianda temia o que o futuro lhe reservaria. Talvez a própria generosidade dos patrões tenha contribuído para mexer mais ainda com os sentimentos da criada. Vestida com um simples conjunto branco de saia longa e blusa, que ela conseguira comprar para o seu casamento, Brianda lutava para terminar de prender o cabelo enquanto observava o reflexo de sua saliente barriga no espelho dourado pendurado sem jeito na sala da igreja. Só lhe restava rezar todas as noites ao deitar para que o filho que carregava em seu ventre fosse abençoado com as qualidades dos avós legítimos. A dúvida de contar a verdade ao seu futuro marido pairava no ar até aquele delicado momento, porém confiava no lado racional da Sra. Burcke, que lhe dava preciosos conselhos. Se ela contasse a verdade, seu filho ficaria sem os avós verdadeiros e também sem um pai para acompanhar o seu crescimento e ampará-lo nas ocasiões difíceis da vida. Mike era um presente divino e ela não queria perdê-lo por nada nesse mundo, nem que isso lhe custasse a escolha de guardar um segredo para o resto da vida.

Brianda resolveu colocar tudo aquilo de lado e apressou-se para finalizar o último grampo que prendia o cabelo. Seus amigos do trabalho e poucos familiares estavam aguardando-a na única igreja do vilarejo, e ela tinha consciência de que não era nenhuma princesa para deixá-los esperando por muito tempo. Sua decisão estava tomada e ela aguardava ansiosamente o seu novo destino.

Os pais de Mike vieram para a cerimônia e Jessica, irmã do noivo e sua companheira de quarto, fora escolhida como dama de honra. Brianda sentiu-se agraciada com a presença de sua mãe. Ela aparentava ter muito mais idade do que realmente tinha e as pálpebras enrugadas carregavam um olhar cansado, representado por um trabalho exaustivo de uma vida no campo. O ritual do casamento foi rápido, porém cheio de palavras afáveis e com brandura. A noiva comoveu-se no momento do sim e deixou que as lágrimas rolassem livremente em seu rosto fino e meigo, limpando de uma vez por todas a inquietude dentro do seu peito.

A Sra. Burcke e a Sra. Morris, a governanta, estavam lado a lado na Igreja e ambas se emocionaram ao ver Brianda se realizar no casamento. Margareth poderia perfeitamente visualizar a entrada de sua filha pela porta da Igreja, seria como ser abençoada eternamente por tamanha felicidade.

Jessica estava sonhando também e saberia descrever minuciosamente como imaginava o dia de seu casamento. Não tinha nenhum namorado, mas gostava de projetar-se como um par perfeito. Um vestido longo branco do tecido mais delicado que conseguisse comprar. Um dia radiante de sol cobrindo todos os cantos do vilarejo e trazendo uma luz de paz em seu coração. O perfeito romantismo que lia nos livros emprestados por Charlize da biblioteca da casa. Sonhar com um mundo que não pertencia à sua realidade era de praxe praticado por ela, que muitas vezes debruçava-se nesses livros por quase toda a madrugada, curtindo o silêncio que permeava aquelas horas.

O Sr. Walker analisava o casal em frente ao altar. Brianda permanecia linda e imaculada ao lado esquerdo do altar, de braços dados com o homem que a faria verdadeiramente feliz. Ele não ousara dizer uma só palavra de felicitação aos noivos, porque quando nada daquilo desse certo, Brianda encararia os fatos como eles são e lhe agradeceria pessoalmente com palavras de perdão.

O Sr.Hoffmann que até aquele momento não dissera uma única palavra contra, pôs-se aolado das senhoras mais velhas e curtiu as preces oferecidas. "Um novo casal,novas esperanças", pensou.

O Vestido de ÉpocaWhere stories live. Discover now