O Vestido de Época

Capítulo 21

Barsac – 2016

Isabelle não era uma pessoa de deixar as coisas passarem facilmente, simplesmente por achar que não conseguiria atingir um bom resultado ou por acreditar que os resultados não seriam satisfatórios. Muito pelo contrário, ela ardia em teimosia e se realmente estivesse disposta a obter uma resposta para uma situação, nada a faria desistir sem ao menos tentar por um tempo. Sendo assim, no momento seguinte em que Tória plantou mais uma semente na cabeça de Isabelle, mostrando a foto do bisavô de Christopher como antigo proprietário de Barsac, tudo foi ficando um pouco mais misterioso. Por que o pai de Christopher, o Sr. Noah Harner nunca mencionara em detalhes o histórico da herança, nem ao menos relatava informações dos parentes? Era no mínimo intrigante imaginar uma família que nas conversas triviais das refeições ou nas festas comemorativas não abordasse peculiaridades de um parente mais velho, suas aventuras, suas afeições, seus desejos. Ela mesma inúmeras vezes se lembrava de fatos engraçados e corriqueiros acontecidos na fazenda de sua avó, uma pessoa que tinha a personalidade forte e de quem Isabelle puxara a determinação. Ao menos a neta concordava com os pais quando comparada à avó, porque suas lembranças ainda eram frescas e saudosas. Já o marido agira passivo, como se uma tela de cinema tivesse sido colocada diante de seus olhos e o filme curto, ou melhor dizendo, o trailer de sua infância tivesse sido dirigido pelos próprios pais. Christopher havia contado que Noah ficou brigado com o pai por um longo período e o restante da família não quis entrar na briga, ao menos aceitou a discórdia e ponto final. Ele era apenas uma criança e, muito provavelmente, os adultos lhe ocultaram os motivos da briga – imaginou Isabelle que este seria um procedimento realmente sensato da parte dos pais do marido.

A foto que Tória havia deixado com Isabelle era de um homem jovem de cabelos loiros, olhos vívidos e vestido com um terno muito bem alinhado. Isabelle, por um breve momento, ficou presa a foto, imaginando o que aquele homem estava pensando antes do clique e quais teriam sidos os afazeres de um dia que não era banhado de tecnologia, nem de estresse urbano. Observando cuidadosamente a fotografia, ela percebeu que a propriedade ao fundo da paisagem era nitidamente Barsac. Christopher não tinha alterado a fachada da casa na sua última reforma, apenas fizera a manutenção necessária para a preservação e, então, estava claro para ela que aquele homem fazia parte da descendência da família Harner. Um sorriso de euforia tomou conta dela, era extremamente excitante voltar décadas atrás.

Enquanto Isabelle decidia qual a urgência de falar com o marido, ela sacudiu o papel abanando-se um pouco como uma maneira de aliviar o calor daquela manhã. No movimento de vaivém da foto, ela notou que tinha algo escrito atrás com uma letra muito pequena. Não pensou duas vezes, abriu a gaveta da escrivaninha e pegou uma lupa para tentar decifrar a caligrafia miúda. Com as letras saltando em seus olhos, pôde ler o nome Daniel Powell. Quem seria Daniel Powell, perguntou-se na sequência? Daniel Powell, ela pronunciou em voz alta quase no mesmo instante em que Christopher surgiu à sua frente como um passe de mágica.

– Oi, Chris que susto! – reclamou, por estar distraída em seus pensamentos.

– Oi, Belle, caiu da cama cedo hoje?

Ela deu de ombros.

– Um pouco de insônia – relatou desanimada. – Chris, veja essa foto que a Tória me trouxe ontem – passou-a diretamente para que ele visse melhor.

Ele deu uma rápida olhada e se pronunciou.

– Por que Tória lhe deu isso? Quem é ele?

Isabelle estava sentada na cadeira da escrivaninha de sua biblioteca, uma pausa momentânea deixou Christopher em alerta.

– Ela me disse que a bisavó dela trabalhou aqui nessa propriedade por muitos anos. Estou me questionando se esse homem da foto seria o seu bisavô? – Antes que Christopher pudesse se pronunciar, Isabelle deu andamento às suas descobertas recentes. – Veja que a foto foi tirada exatamente em frente à casa de Barsac.