Capítulo 14

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Charlize estava inquieta desde a manhã anterior, perambulou pelo castelo quase que o dia todo e ainda assim não conseguiu gastar a energia que o seu corpo insistentemente pedia para gastar. Tentou aquietar-se por um tempo sentada no sofá da biblioteca, olhando para o jardim bem estruturado cultivado com ternura por Sophie, e a imagem que vinha na sua mente era do jardim fabuloso em frente à modesta cabana na estrada. Tudo ali era um pouco intrigante na opinião dela, porque a riqueza das espécies das flores contrastava com a simplicidade do chalé rústico de madeira. Algumas plantas daquele jardim, Charlize tinha certeza de que nem ao menos conhecia, talvez a mãe pudesse ter visto tais espécies, mas ela não estava familiarizada com todas.

E, novamente, na manhã seguinte, a filha do conde e da condessa de Bertbury Park saiu sozinha do castelo para sua cavalgada costumeira, resgatando a energia do sol para dentro de seu corpo. Nem havia se preocupado em tomar o desjejum adequadamente. A sensação de espaço dos hectares de terras de sua família era ilimitada, permitindo que Charlize cavalgasse despreocupada e em segurança. Por um tempo ficou livre, absorvendo a brandura do vento no rosto e sentindo a intensidade dos raios de luz do verão, porém seus pensamentos ainda estavam presos na cabana e essa curiosidade estava perturbando sua tranquilidade. Ela decidiu mudar novamente o seu caminho de rotina e tentar achar a estrada de terra do dia anterior. Charlize sempre se orgulhou de sua ótima memória e, com o senso de direção bem aguçado, ela pôde achar rapidamente a estrada que procurava. A cerca branca destacou-se na paisagem dominada pelo verde, e o portão continuava aberto, permitindo que qualquer pessoa pudesse entrar com facilidade. É claro que não era de bom tom aproximar-se da casa sem ser convidada pelo anfitrião, pensou Charlize, mas ela estava considerando que a situação ali era diferente, porque a cabana estava aparentemente desabitada. Ela desceu do cavalo e amarrou-o em segurança próximo a árvores frutíferas. Então, permitiu-se olhar mais de perto cada flor daquele jardim. Um forte sentimento de entusiasmo tomou conta de Charlize quando ela reconheceu uma flor rara que sua mãe havia lhe mostrado recentemente em um de seus livros preferidos sobre jardinagem, mas ela não recordava o nome. Ela ousou tocar em suas pétalas e sentiu a maciez da delicada flor. Admirou as flores amarelas de narciso e reconheceu rapidamente as rosas-de-maio. Quando Charlize se deu conta, tinha percorrido todo o jardim e, no fim desse estreito caminho, situava a cabana encoberta por árvores ao redor. No dia anterior ela espiou tudo de longe e agora que estava bem próximo da porta de entrada, Charlize percebeu que a casa não era tão pequena como imaginara e, embora simples, a estrutura de madeira estava muito bem cuidada. Ela chegou tão perto da casa que seu nariz tocou na janela de vidro fechada e percebeu que a cabana era mobiliada. Ao tomar consciência de sua tamanha audácia em satisfazer uma curiosidade infantil, Charlize virou-se de costas para a casa e apressou-se em direção a Hércules. Seus pensamentos estavam tumultuados enquanto subia em seu cavalo e galopava de volta à estrada. Mais de duas horas haviam se passado desde que saíra de casa e o sol do meio-dia estava no auge, logo acima de sua cabeça. A sombra do chapéu não fora suficiente para protegê-la do calor. Ele estava tão intenso que causou desconforto e moleza no seu corpo. Ela estava com o coração batendo forte e tentava manter-se concentrada em cima do cavalo. Teve consciência de que havia se alimentado pouco naquela manhã, mas mesmo com a insistência do Sr. Hoffmann em servi-la com um copo de suco de frutas ela bebeu apenas uma xícara de café para despertar e não conseguiu colocar mais nada sólido no estômago. De fato, poderia ter comido uma ou duas torradas com geleia porque isso iria reverter-se em mais energia para o exercício de cavalgar. Em uma fração de segundos sua visão embaçou e Charlize sentiu perder o controle do comando das rédeas. Suas mãos afrouxaram-se do couro e a velocidade em que estava gerou desequilíbrio, fazendo-a cair desprevenida na encosta da estrada e bater a cabeça no chão. O cavalo saiu desgovernado e quase foi de encontro a outro que vinha na direção contrária. O homem que estava em cima do cavalo foi muito ligeiro e conseguiu desviar com exatidão, evitando a batida desastrosa. Tomado pelo susto do incidente, o cavaleiro saiu de seu cavalo e apavorou-se quando viu uma jovem mulher caída na estrada a poucos passos dele. Quando ele se agachou e chegou bem perto de seu rosto, um fio de sangue correu das têmporas de Charlize e o estranho delicadamente tocou em sua testa. Ela abriu os olhos quase que imediatamente ao sentir o toque dele, mas, ao tentar levantar a cabeça e tomar consciência do acidente, a tontura veio novamente.

O Vestido de ÉpocaWhere stories live. Discover now