Capítulo 13

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Verão de 1919

Um mês inteiro havia se passado e a temperatura em Londres, no final de junho, começava a subir nos termômetros da cidade. O clima quente parecia projetar faíscas de fogo nos bailes que fervilhavam de jovens solteiros e cobiçados. A noite era recheada de fatos curiosos que envolviam os convidados das festas, e de dia multiplicavam-se os comentários nas colunas sociais do jornal local detalhando ora as atitudes dos rapazes, ora as vestimentas das damas. Mesmo que Charlize não quisesse envolver-se nesses fatos corriqueiros da alta sociedade, seu nome foi citado com grande esplendor algumas vezes, e ela não era ingênua de não esperar ou espantar-se com isso. Sua postura quieta, adotada como um disfarce no primeiro baile, não funcionou, pois caiu logo de cara nas graças do duque, deixando-o paralisado toda às vezes em que entrou nos salões. E então o que seria uma temporada animada para encontrar as amigas e a estimada prima, tornou-se algo muito mais eletrizante e inquieto. Seus sentimentos brigavam o tempo todo dentro dela, sabia que a família aprovaria e até a induzia a aceitar os convites educados de Thomas, o homem lindo, bem posicionado e cortês. Mas será que alguém estaria interessado em ouvir sua opinião? Ele era o duque de Berkeley, mas não tinha o poder de mandar em seu coração, todo aquele cenário tinha deixado Charlize bem desconfortável. Ela não perdera as esperanças de atingir um caminho menos sinuoso para todos e, milagrosamente, o conde a apoiou em sua decisão, voltaram à Bertbury Park ainda sem um pretendente.

Sophie se desesperara no começo, achando muito leviano da parte da filha. Julgou até mesmo que Charlize estivesse tendo atitudes de uma garota mimada, sem consideração pelos esforços dela em educá-la da melhor maneira possível. Philippe preferiu apaziguar a situação e ofereceu uma grande bandeira branca de paz para a filha. Ele percebia que nesses momentos de conflitos de família, Sophie tendia a remoer o passado e ela sempre se culpava pela perda do bebê que nasceu natimorto. Amália Powell não sobreviveu nem a um suspiro de respiração no mundo. Como se o acaso tivesse escolhido salvar a mãe e não a filha, um ser pequeno e frágil que não merecesse vir ao mundo e ocupar o seu lugar de direito. A pequena fora tão desejada e amada pelos pais e o destino fora muito diferente do esperado por todos daquela família. E tudo ficou como tinha que ser porque Sophie conseguiu engravidar mais uma vez e abortou antes do terceiro mês, até que por vontade própria resolveu aceitar a situação. Daniel e Charlize eram fortes, cheios de vitalidade e tentavam preencher a casa como se ali fossem em sete.

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De volta à sua rotina habitual, Charlize cavalgava naquela manhã com a lembrança de quando era pequena e de como despendia toda a energia do seu corpo para escovar o pelo de seu cavalo preferido. Um animal grande e com um porte bem maior que a altura de seus braços esticados para cima, fazendo com que a menina estendesse seu corpo ao máximo para atingir parte da crina, que quando estava ordenada reluzia um brilho intenso na luz do dia. Aquele ato de escovar e acariciar o seu bicho proporcionava um momento de paz que agora ela, adulta, sentia ao cavalgar pela estrada coberta de vegetação verde e flores silvestres. Era um tempo solitário que Charlize vinha buscando com frequência, acalmava a mente e fortalecia os músculos do seu corpo. O vento constante em seu rosto desmanchou o coque do seu penteado e fez seus olhos lacrimejarem em resposta ao estímulo do ar batendo contra seus cílios. Cavalgou com intensa velocidade até que percebeu tomar um rumo diferente do que estava acostumada. Algo inusitado chamou a sua atenção, no meio de um campo sem nada, uma estreita estrada de terra batida com uma cerca branca sem placas de direção. Diminuiu cada vez mais a velocidade e, com trotes leves, circulou na região com certa curiosidade. A vegetação rasteira mudara-se por completo, dando lugar a uma visão com cores intensas. O que viu ali fez a sua mente se agitar, porque tomou consciência de que atrás do jardim de flores escondia-se uma pequena cabana de madeira que parecia ter sido feita para compor o visual. No primeiro momento, ela se perdeu na beleza das flores e não pensou que poderia ter alguém a observando de longe. Quase que instintivamente, seu cérebro deu o comando para suas mãos e ela recuou a rédea do cavalo para virar-se e retornar. Contudo, quando tomou consciência novamente de seu raciocínio e ação, ela saiu à espreita olhando para os lados como se tentasse atingir além do seu campo de visão. Retomou o caminho da cerca e acelerou novamente o trote, agitando o seu batimento cardíaco com o pulsar de sua respiração ofegante.

O Vestido de ÉpocaWhere stories live. Discover now