O Vestido de Época

Capítulo 8

Inverno em Barsac – 2016

Os dias de espera para o baile de máscaras foram cheios de atividades para Isabelle. Manhãs coordenando o funcionamento do hotel, tardes entretendo os hóspedes e noites preparando o jantar, respondendo a e-mails, sem contar as pausas com o marido e a filha. Entre tudo isso, ela ainda arrumou tempo para encaixar as providências de reservas das passagens para os convidados do Brasil. Assim, as horas passaram depressa e num piscar de olhos mais uma semana também tinha sido riscada do calendário.

O avião de Cecília e Pedro Fantini pousou exatamente no horário previsto. Mesmo na expectativa da chegada dos pais, Isabelle surpreendeu-se com seus sentimentos quando o casal chegou à Barsac. Vê-los ali tão próximos dela foi como reviver alguns bons momentos de sua infância. As idas constantes na fazenda de sua avó, no interior de São Paulo, despertaram nela um espírito de aventura e desprendimento. A casa sempre cheia de primos e crianças da vizinhança fazia com que Isabelle não se sentisse sozinha no papel de filha única. Ainda que seus pais fossem muito amorosos e transmitissem proteção para ela desde pequena. Todo esse estímulo positivo transformou-a em uma pessoa confiante, pois ela sabia que eles estariam sempre próximos para apoiá-la. Viajar para a fazenda para respirar um ar mais puro e sair da sua rotina era maravilhoso, mas voltar para casa e receber o abraço dos pais logo na chegada era ainda melhor.

Cecília e Pedro deram todo o suporte emocional na sua separação com o primeiro marido, incentivaram-na imensamente quando ela recebeu a proposta de trabalho em Paris e vibraram com a notícia do casamento com Christopher e sua gravidez. Agora eles estavam ali, de braços abertos para festejarem juntos mais uma vez.

Julia foi a primeira a fazer uma festa com a chegada dos avós. Ela também alimentava em seus sonhos tê-los mais perto dela, já que muitos amigos da escola comentavam sobre os fins de semana incríveis na casa dos avós. Para a menina, esse quadro não era a sua realidade de sempre, a avó paterna matinha certo distanciamento por suas formalidades inglesas. Ela não cabia em si de tanta euforia porque Benito e Francesca também iriam conhecer seus avós.

As apresentações foram feitas, ora por Isabelle, ora por Julia, que balbuciava uma mistura de português e inglês. A menina ficou fascinada com o presente que ganhou de Cecília e, assim que retornaram a Barsac, levou a nova boneca para conhecer o seu quarto e seus outros brinquedos. Um mundo perfeito do faz de conta era manifestado instintivamente por Julia; seu quarto rosa e branco possuía um grande vão embaixo da cama suspensa, permitindo que ela simulasse brincadeiras e guardasse algumas bonecas naquele nicho de diversão. Uma vez que entrasse ali ela se esquecia da vida, até o momento em que ouvia alguém da casa chamá-la.

Julia gritou forte o nome dos avós e pediu para que eles viessem até ela no quarto. Sua voz fina ecoou no andar de baixo sem dificuldade para percorrer o amplo corredor. Era importante mostrar que as outras bonecas estavam felizes com a recepção de uma novata. Cecília e Pedro subiram as escadas correndo, quase pulando alguns degraus, e encontraram Julia sentadinha no último nível. Seus olhos iluminaram-se no mesmo instante; com um sorriso travesso, ela parecia triunfante em tê-los trazido tão depressa ao seu encontro.

– Seus pais subiram correndo. Dessa maneira deixarão Julia, mal-acostumada.

– Eles ainda temem essa escadaria – comentou Isabelle num gracejo – acho que não se deram conta de que Julia tem quase quatro anos.

Um som estridente repercutiu nos fundos da casa.

– Estão tocando a campainha, não estão? – observou Christopher atento.

Isabelle olhou para o relógio do seu celular e lembrou-se de que havia agendado pela manhã entrevistar uma menina para o cargo de cozinheira.

– Acredito que possa ser Tória – ponderou Isabelle. – Decididamente eu preciso de ajuda para o baile de hoje e eu ouvi dizer que ela tem muita experiência.