O Vestido de Época

Capítulo 23

Daniel e principalmente Sophie relutaram com a decisão de mudar-se de Bertbury Park. Uma parte da história da família e grandes recordações estavam cravadas em qualquer parede do castelo: alegrias, tristezas, conquistas e muitas festas tornaram o ambiente cheio de vida por vários anos.

Com a perda do marido, Sophie buscava conforto em permanecer próxima de todos os objetos dele, visualizando por algum tempo qual seria o próximo passo que ele daria dentro da rotina, caso ainda estivesse vivo. No período da manhã, Philippe estaria na biblioteca despachando seus papéis, onde gastava boa parte do seu tempo. À tarde, o conde caminharia ou cavalgaria por sua propriedade. Ora sozinho, ora acompanhado de seu administrador. Mantinha os olhos vivos a tudo e a todos. Ao anoitecer, Sophie o via, claramente, levando sua taça de vinho, que tanto apreciava, e ambos conversariam bastante sobre diversidades. Estar na companhia do marido era reconfortante. Bertbury Park estava ainda mais desperta à noite.

Charlize desvinculou-se do castelo no momento em que decidiu se casar com Anthony e possuir um espaço somente deles, mas nem por isso ela não se comoveu ao ver as coisas serem embaladas ou seguindo destinos incertos. Ela visitava a mãe praticamente todos os dias, mantendo sua caminhada e suas cavalgadas pelas extensas terras verdejantes.

A situação pedia medidas urgentes e Anthony soube usar muito bem sua diplomacia para ajudá-los, sugerindo que arrendassem o castelo como forma de pagarem as dívidas. Lorde Powell vivia preocupado com o futuro de Bertbury Park, ele era rico em patrimônios, que nem sempre tinham boa liquidez, e isso poderia trazer problemas nos anos seguintes. Mesmo com um controle acirrado das despesas, seu herdeiro enfrentaria alguns desafios sendo o maior deles pagar uma conta substancial de impostos. Todos os temores de Philippe se concretizaram, porque os impostos de transmissão de uma geração a outra aumentaram incrivelmente, assombrando as noites de Sophie e depois, mais tarde, as de Charlize. Como se não bastasse ter esse problema em vista, Daniel continuava bebendo excessivamente, era desregrado e voltara ao vício dos jogos. As dívidas e os impostos geraram uma quantia exorbitante a ser paga, deixando claro para todos que deveriam se desfazer de quase tudo para quitá-las. Anthony conseguiu um bom preço para o arrendamento das terras e ainda negociou para que a família pudesse morar em uma casa menor, dentro dos limites da propriedade. Não era o melhor dos mundos, no entanto, era uma saída considerável para o momento.

Sophie estava desafiando as habilidades da filha quando pediu para que ela embalasse suas recordações dentro do baú que levariam para a nova casa.

– Mamãe, por favor, pondere seus desejos. Não será possível levar todos esses vestidos para seu novo lar.

Sophie discordou no mesmo instante, lamuriando-se aos quatro cantos.

– Minha querida, muitas dessas coisas eu não vendo nem por decreto – teimou relutante. – Por gentileza, coloque esse vestido branco dentro do baú, não irei vendê-lo, esse foi o meu vestido de casamento.

– Ah, mamãe, é lindo mesmo! – disse Charlize, soltando um arquejo. – Mas você tem certeza, você não irá usá-lo e pode valer muito dinheiro nesse momento.

– De jeito nenhum, o do meu casamento com o seu pai irá comigo – afirmou com veemência. Tenho um vestido dourado com muitas pedrarias que, com certeza, vale muito mais, se a nossa questão é dinheiro.

Charlize foi obrigada a concordar com ela. O vestido dourado exibia glamour e muito brilho, o de casamento estava um pouco amarelado em alguns pontos. Tinha permanecido guardado no baú, sendo mais útil nas lembranças do que nas finanças. Era compreensivo que fosse difícil se desfazer de tanta coisa, não queria julgar ninguém. Ela mesma estava presa na galeria de arte do castelo, seria improvável não selecionar alguns para si. Vivendo ali boa parte da sua vida, foi possível admirar cada pedacinho pintado nos quadros. Seu pai gostava de ensinar-lhe história da arte desde pequena e Charlize, ainda menina, abria os olhos para detalhes escondidos como enigmas deixados pelo pintor.