Capítulo 15

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Saint Michel, França – 2016

Os olhos de Christopher ficaram perdidos no horizonte por um bom tempo, ele não saberia dizer ao certo por quantos minutos ou se talvez estivesse ali por mais de uma hora na mesma posição, com o corpo esticado na espreguiçadeira localizada na sacada do seu quarto do hotel. O espaço não era grande, uma espreguiçadeira de alumínio, uma mesa pequena na lateral, uma cadeira e floreiras penduradas, com uma incrível vista virada diretamente para o pôr do sol. Os telhados alinhados quase que da mesma cor pareciam um enorme tapete que finalizava na linha das águas do mar. Nem ao menos o celular estava ao seu alcance e, isso de certo modo, contribuiu para que perdesse a noção total do tempo transcorrido. Ele havia se perdido de todos, de uma hora para outra, e achou que pudesse encontrá-los na descida da abadia. Como não cruzou com nenhum deles, tomou a decisão de voltar ao hotel para aguardá-los. Seu pensamento estava preso em algum lugar da casa de sua família quando ele tinha entre nove e dez anos. Christopher conseguiu ouvir perfeitamente a voz de seu pai, ao se transportar a uma época em que os dois deveriam ser bem próximos. Noah esbanjava vivacidade e dinamismo, mas mesmo nas brincadeiras ele encaixava um conteúdo mais sério ou um conceito que faria Christopher pensar naquela lição por dias. Seu ímpeto por envolvê-lo em diferentes assuntos deixava Christopher abalado, porque, às vezes, o menino queria apenas jogar bola com o pai ou escalar um morro alto em vez de ouvir conceitos de integração em equipe ou de como aumentar seu desempenho para atingir o topo no menor tempo. Noah, da maneira dele, era um pai atencioso, entretanto, exigia demais do garoto para que transmitisse segurança em tudo o que fizesse na vida. O filho sentia que de alguma forma o pai não confiava que ele venceria os obstáculos impostos. Dessa maneira, foi ficando cada vez mais difícil a situação entre pai e filho, Christopher foi se isolando da família e dos amigos no decorrer da sua adolescência, por essa razão trancara os quadros no sótão, queria que seu pai se sentisse preso como ele por muitos anos se sentiu. Mas analisando a situação, começou a pensar: "Afinal para que isso lhe serviu?".

A porta da sacada foi aberta e Isabelle entrou de mansinho, espiando se o marido estava cochilando ou apenas deitado quieto. Ele notou a presença de alguém chegando e sorriu ao vê-la; ela ficou imediatamente mais tranquila quando descobriu o seu paradeiro. Era de imaginar que ele estivesse em segurança porque a personalidade dele não ostentava preocupação, Isabelle é quem carregava um medo de quem viveu por muitos anos em uma cidade grande e violenta. O pôr do sol estava quase no fim, riscando o céu de laranja e azul cinzento, com uma beleza própria para ser admirado. Ela decidiu sentar-se ao lado de Christopher na única cadeira que restava, e conseguiu sentir a mesma paz que ele vinha absorvendo por um tempo.

Foi Isabelle quem quebrou o silêncio que habitava naquela sacada.

– Eu juro que não vou mais me descabelar quando você sumir – sentenciou decidida. – Eu liguei várias vezes no seu celular, procurei-o dentro dos estabelecimentos, de cada loja de souvenir dessa cidade, e você no deleite dessa paisagem incrível?

Ele virou-se de lado olhando-a. Até quando a esposa ficava brava ele achava-a linda e imponente, como se carregasse uma coroa no topo da cabeça. Ela esbravejava e fazia bicos, mas ele não se importava com nada daquilo, porque sabia perfeitamente como amolecer a fúria que ela mesma criava dentro de si.

– Nada disso foi planejado, isso eu lhe garanto, Belle. Não faço a menor ideia de como me perdi de vocês, só sei que chegou uma hora que os turistas invadiram cada canto de onde estávamos. Eu fui e voltei algumas vezes pelo caminho que tínhamos percorrido e sentei por um tempo dentro da igreja, imaginando que você fosse querer fazer uma oração ali.

– Eu queria mesmo, você estava certo. Mas não consegui, a Julia estava inquieta fora da igreja. Depois constatei que você não estava com meus pais, como eu havia pensado, então decidimos descer para procurá-lo. Pode inventar uma desculpa convincente para os meus pais, não vou querer dizer que você estava nesse cochilo tranquilo aqui no quarto – advertiu ao marido.

O Vestido de ÉpocaWhere stories live. Discover now