O Vestido de Época

Capítulo 11

O trem apitou pela última vez antes de sua partida da estação de Yorkshire com destino à Londres. Charlize, acomodada no seu assento, admirava da janela a cena de uma criança bem pequena reencontrando um parente querido. O abraço apertado da menininha envolvia todo o pescoço da senhora, que, emocionada, acariciava os delicados cachos da criança. Ela curvara as costas com certa dificuldade, mas com grande entusiasmo cumprimentava mãe e filha, cercadas por duas enormes malas de couro.

A locomotiva partiu devagar e com o tempo foi ganhando velocidade ao deslizar pelos trilhos de ferro. O ar fresco de fora entrava como uma benção pela fresta da janela, permitindo que Charlize começasse o dia animada. Não era nada mal sair um pouco do seu mundo aconchegante, porém previsível de Bertbury Park, para uma rotina de bailes e mexericos. É claro que, no mínimo, seria divertido por um tempo estar nos bastidores e ler a coluna social com seus detalhes sem importância, mas que toda a alta sociedade era escrava e queria pertencer. Toda essa pompa era totalmente irrelevante para Charlize, ao contrário da condessa, que sempre ficava entusiasmada em acompanhá-la nas viagens e, certamente, iria aos bailes com o propósito de integrar-se nesse mundo e debutar a filha. Sophie obviamente já tinha passado pela adolescência como Charlize, porém não com tantas convicções. Desde bem menina ficara claro para ela que o casamento oferecia identidade para a mulher, que tinha mais chances de ditar suas próprias regras depois do matrimônio. Ela sabia que a filha também comprovaria isso brevemente.

O motorista aguardava-as prontamente. Assim que desceram na estação de Londres percorreram o trajeto curto sem imprevistos. A casa da família Powell era tão majestosa como qualquer outra em Chealse, contudo, era a última da rua e possuía um terreno um pouco maior, proporcionando privacidade. A elegância e o conforto trabalhavam lado a lado em cada ambiente daquele lugar. Um toque mais moderno com cores mais ousadas foi escolhido para serem usados na sala de estar e nos quartos, onde Sophie soube demonstrar sua sofisticação, ampliando a escala decorativa que ela mesma classificou como clássica com toques artísticos. Os grandes vasos de palmeiras que foram espalhados na ala social da casa chamavam a atenção e impressionavam até os visitantes menos atentos. Sophie quis trazer o verde também para Londres, já que Bertbury Park era cercada por magníficos jardins e, internamente, dispunha de uma coleção extraordinária de quadros de artistas da época.

Assim como na outra propriedade, eles tinham um mordomo e uma governanta de confiança que ajudavam no bom funcionamento da casa, coordenando os outros funcionários mesmo quando a família estava em Yorkshire. Para aquela importante temporada, Charlize não abriu mão de trazer a sua própria camareira e, assim, tanto Jessica como Marianne acompanhavam suas senhoras. O conde era o que menos dava ar de sua graça para aqueles lados, ele gostava mais da tranquilidade do que da agitação de Londres. Provavelmente apareceria na semana seguinte à chegada delas, um pouco depois da vinda de Lucinda, sua tia. Sophie e Charlize vinham com certa frequência visitar às amigas e familiares, cumprindo uma agenda cheia, que envolvia compras, almoços e jantares. Daniel era o membro que mais aparecia, sempre atrás de festas e badalações que a cidade oferecia.

●●●

Já era fim de abril e naquela mesma semana da chegada dos Powell eles compareceram ao primeiro baile, abrindo a temporada de festas que tradicionalmente acontecia nos grandes palácios londrinos. Lady Dawson era a anfitriã daquela noite e esbanjava alegria com um entusiasmo estampado no rosto ao receber Sophie, Charlize e Daniel assim que entraram ao salão.

Charlize gostava de uma boa festa, mas não estava correspondendo com tanta euforia quanto a sua mãe esperava. Dessa vez, sentiu-se um pouco mais pressionada a sorrir e mostrar gentileza, ela sabia que estaria sendo observada por todos ali. Ao menos ela estava excitada com o seu vestido novo, o azul intenso no brilho do tecido destacava sua implacável beleza e trazia a confiança necessária que a ocasião exigia. Sentiu-se bastante satisfeita quando, depois de um tempo dentro do enorme salão, avistou sua prima Diana. Era a pessoa que efetivamente ela buscava para distrair-se diante do elegante grupo de convidados.