Capítulo 7

1 0 0
                                    


Primavera, maio de 1919

– Milady, a senhorita está bem? – Hoffmann perguntou à Charlize na manhã de sexta-feira. – Não parece disposta como de costume.

– Um pouco de dor de cabeça, nada de mais.

– Aceita uma xícara de chá de camomila? Talvez uma bebida quente melhore um pouco.

Charlize estava sentada em uma poltrona macia próxima ao hall de entrada do castelo.

– Não será necessário, Sr. Hoffmann. Eu lhe agradeço. Deve ser apenas uma pequena enxaqueca para aborrecer o meu dia.

Os dois ouviram os passos de Sophie se aproximando e o mordomo ficou ereto, segurando a maçaneta da porta, abrindo-a em seguida.

Ela se levantou da cadeira, cumprimentou a mãe e ambas seguiram para o carro. Charlize animou-se de ficar sentada por mais um tempo. Elas estavam a caminho de uma garden party e tudo o que menos teria ao longo do dia seria paz.

– Venha aqui, querida, sente-se perto de mim – Sophie disse à filha, indicando uma cadeira livre ao lado de Lady Feltz. A condessa ainda estava conversando com a senhora sentada do outro lado.

– Obrigada – Charlize agradeceu educadamente, tentando esconder seu desconforto pela dor de cabeça insistente. Ela gostava muito de Lady Feltz, uma antiga amiga de sua mãe e seria um prazer ficar em sua companhia.

Os olhos violetas da Lady se voltaram para Charlize.

– Sabe que gosto muito de você, Charlize? – pronunciou melodiosamente. Seu olhar profundo e seus gestos determinados transmitiam segurança no que dizia. – Você me lembra muito a sua mãe nessa mesma idade, sempre fomos grandes amigas.

– Sempre moraram bem próximas uma da outra, não?

Eve Feltz recorreu às antigas lembranças de sua tenra idade, onde tinha o espírito ingênuo.

– Sim. Eu era muito jovem quando minha família se instalou aqui na região, uma menina cheia de energia e sem comprometimentos. Fui criada solta por essas terras e, por essa razão, vinha atrás da sua mãe para brincarmos todos os dias.

Charlize estampou um largo sorriso nos lábios. Ela conseguia imaginar Lady Feltz correndo entre os adultos, desfrutando de sua liberdade como um pássaro plainando no ar. Sua mãe tinha mencionado uma vez como conhecera a amiga. O pai de Lady Feltz era um abastado comerciante da região de Lincolnshire e viviam a meros dois quilômetros da propriedade da família de Sophie. Eve ora caminhava sozinha até a casa da amiga, ora realizava o percurso a cavalo, mas sempre aparecia sem avisar, e as duas conversavam bastante. Enquanto Sophie e as irmãs tinham aulas de Arte, de música, lições alternadas de filosofia, química, latim e grego com seu preceptor, Eve permanecia no seu mundo desregrado e cheio de aventuras, fazendo tudo no seu próprio ritmo. Essa amizade engrandecia ambas, porque Sophie precisava do entusiasmo excessivo de Eve e ela adquiria cultura e refinamento na companhia de Sophie.

A mãe de Sophie era presença constante na alta sociedade, preenchia suas manhãs cuidando de sua beleza, as tardes eram consumidas por visitas a outras damas da mesma classe social e as noites ocupadas por bailes. Não demorou muito para que as duas famílias se conhecessem e estreitassem os laços de amizade das meninas.

A postura refinada de Eve veio com o amadurecimento e sutis observações ao seu redor. Embora não prevalecessem os estudos dentro de sua casa, os pais exigiam-lhe o mínimo de compostura e educação nos eventos sociais. E o ciclo natural de desenvolvimento também seguiu sua ordem na vida da menina, que falava alto e tinha o corpo redondo. Eve casou-se com um banqueiro irlandês que se apaixonou, provavelmente, por toda essa espontaneidade e seu bom coração.

O Vestido de ÉpocaWhere stories live. Discover now