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Andrew PoV

Eu levei as crianças pra passear hoje e eles chegaram exaustos do parque, o que é ótimo porquê dormem fácil mas lidar com duas crianças com sono, aí já não é tão fácil assim, enquanto eu acordo os dois pra saírem do carro, eu penso em como seria bom ter alguma ajuda com eles, não alguém como a Nana, ela já faz tudo e todo funcionamento da minha vida, depende da ajuda dela, mas seria bom ter alguém...

- Papai, eu to com sono

A Bê reclama

- Eu sei, já vamos subir
- Me leva no colo?

Ela pede

- Eu também

O Matt insiste, eu respiro fundo

- Vamos andando, só até o elevador
- Não, eu to com sono
- Por favor, Papai

Eu fecho o carro

- O elevador já tá ali, gente

Os dois ameaçam chorar, eu respiro, sei que é o sono aliado ao cansaço, pegamos um trânsito horrível na volta pra casa e isso fez passar muito da hora de dormir, eu consigo levá-los até o elevador, sob uma chuva de reclamações e pedidos de colo, mas o elevador não chega, parece que tá parado em algum andar, eu sigo apertando o botão e nada, os dois choram abraçados comigo, algumas pessoas já aguardam o elevador também e eu ouço os sussurros

- É sempre mais difícil sem a mãe
- Isso é só sono, dá tanta pena
- A mãe sempre sabe o que fazer né?

Eu respiro fundo e conto até três, antes eu respondia, hoje, eu aprendi que não vale mais a pena, eu só me abaixo, coloco os dois no colo de uma vez, eles deitam no meu ombro e o elevador chega.

===

Depois de colocar as crianças na cama, eu volto pra sala, a Nana foi dormir na casa de uma amiga que está doente e eu estou sozinho, sento no sofá, eu não sei porquê mas hoje os comentários me incomodaram, um nó na garganta, uma sensação horrível de incapacidade, um peso quase insustentável de insegurança, tudo que eu quero é que eles estejam felizes e se sintam muito amados, eu faço o possível pra compensar a falta da mãe deles, mesmo sabendo que não vai dar, mas eu tento, continuo tentando, todos os dias, eu acordo com o mesmo pensamento, tudo é por eles mas nada parece suficiente, eu fecho os olhos e deito no sofá, os olhos ardem e tudo o que eu queria era que fosse diferente.

===

Meu celular vibra, eu alcanço no bolso, uma mensagem da Meredith

"Eu queria aquele risoto"

Eu não consigo evitar uma risada, eu começo a escrever uma resposta, mas mudo de ideia e ligo

- Achei que você estava ocupado

Ela diz assim que atende
- E eu estou, então agora você quer o risoto?
- É, eu to com fome
- Agora eu não posso fazer
- É, eu sei, mas vai fazer?
- Hum, você quer que eu cozinhe pra você?
- Eu quero que qualquer pessoa cozinhe e se você diz que sabe, eu vou tomar vinho enquanto admiro

Eu dou risada

- Admira é?
- Você só ouve a parte que quer da conversa, você vai fazer, amanhã?
- Me convidando pra um encontro, é?
- O QUE?

Ela pergunta rápido e eu tampo a boca com a mão pra segurar a risada e não acordar as crianças

- Calma, eu to brincando, jamais te desejaria algo tão horrível quanto ir a um encontro
- Se esse assunto vai por aí...
- Queria estar aí agora só pra te calar com um beijo
- E eu queria que passasse bastante de um beijo
- Você me deixa em cada situação difícil

Ela ri baixo

- Falando em situação difícil, a Maggie tá dando em cima de você?
- Ciúme, é?

Eu provoco

- Você leva alguma coisa a sério?
- Só você

Ela solta o fôlego e eu dou risada

- Responde

Ela insiste

- É claro que não
- Eu acho que está e você não percebeu
- Eu acho que você tá com ciúme e não percebeu
- Cala a boca, eu não to com ciúme, só não quero confusão com a minha irmã
- Como é que vocês são irmãs? Eu não a vejo chamando a Chefe de mãe
- A Biologia explica que temos que ter pelo menos um dos genitores iguais

Ela diz em tom de brincadeira

- É sério, ela é mesmo filha da Chefe Grey?
- É, e do Richard
- E por que vocês não foram criadas juntas? Pelo menos eu ouvi que ela apareceu há pouco tempo
- Por que minha mãe entregou ela pra adoção assim que nasceu
- O Webber concordou? As vezes, eu acho que ele evita ela
- Qualquer pessoa em plena consciência, evitaria, mas ele não sabia sobre a Maggie
- Eita

Então nós ficamos muito tempo no telefone, falando sobre essa confusão entre a Ellis, o pai da Mer, que agora eu sei que é Tatcher e o Richard, ficou claro pra mim também que a maneira com que a Ellis trata as duas filhas, está diretamente ligada a quem é o pai delas e isso só me deixa com mais raiva ainda, independente de qualquer coisa que a Sam tenha feito, os meus filhos são meus, eu jamais pensaria em cobrar ou culpa-los de qualquer coisa.

- A gente precisa mesmo ir dormir

Ela diz, depois de bocejar pela quarta vez em dez minutos

- Você ainda não me disse o que queria falar comigo hoje
- Ah, faz meu risoto que eu conto
- Então é mesmo um encontro, não é?
- Andrew
- Vamos comer e conversar
- Para

Eu dou risada

- Boa noite, Mer
- Boa noite, Andrew

E é incrível como eu vou dormir muito mais leve.

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