Nunca Imaginei

42.

Meredith PoV

Eu ainda não posso acreditar em tudo isso, o Andrew tem dois filhos, eu saí do quarto e não consigo pensar, um turbilhão de pensamentos voam em todas as direções, o Andrew tem dois filhos.

- Mer, eu acabei de saber

O Alex me diz

- Eu também

Eu respondo

- Amélia pediu que eu passasse lá, o menino está bem?
- Está
- E você?

Eu respiro fundo

- Eu não sei, eu tenho uma cirurgia agora
- Conversamos mais tarde?
- Uhum

Uma sala de cirúrgica vai me fazer muito bem agora, mas eu fiquei sem residente, eu bipo a Helm e peço que ela prepare o próximo paciente, enquanto isso preciso achar alguém

===

- Eu sempre gosto de operar com você, ainda bem que me chamou

Eu sorrio pro Richard, no lavatório, as vezes, eu só preciso me sentir em casa e é assim que eu me sinto operando com ele

- Eu precisava de ajuda, é sempre bom contar com o melhor
- Cuidado com o que você diz, eu posso acreditar e te arrumar um problema com a outra
- Acha que eu me importo com o que ela pensa?
- E você está pensando na pessoa errada, eu to falando da Bailey
- Não conta pra ela que eu disse isso, eu nego até a morte

Nós dois rimos, o Richard tem o dom de me deixar melhor. A cirurgia ocorre sem complicações e em duas horas fechamos o paciente.

===

Eu queria muito ir até o quarto do Matt pra saber como ele está, mas não tenho coragem, eu já passei lá na frente, algumas vezes e não tenho coragem de entrar, em uma dessas vezes a Amélia está saindo de lá e me encontra no caminho

- Vai entrar?
- Não, como ele está?
- O Deluca ou o Matt?

Eu reviro os olhos

- O Matt
- Ele tá bem, vou deixá-lo a noite aqui só por segurança e pro pai dele não surtar, ele é muito preocupado
- E a Nana? Ela estava com a pressão alta
- Ela está bem, é um amor de pessoa e a Beatrice é muito esperta, você não sabia mesmo que ele tinha filhos?
- Não, eu não sabia, mas isso não importa agora, ainda bem que eles estão bem
- Você deveria ir lá, eu posso ir junto, se você quiser
- Não, não quero
- Você quer sim
- Tchau, Amélia

Ela balança a cabeça e sai, eu fico de longe e vejo que várias pessoas passam no quarto, enfermeiras, residentes, internos, médicos, técnicos, eu nem sabia que o Andrew era tão popular por aqui, parece que quase todo mundo sabia sobre os filhos dele, menos eu e eu não pensei que isso pudesse ser tão sufocante.

===

Eu não consigo ir embora, eu já me prometi que vou assim que tiver mais uma única notícia sobre o Matt, eu já arrumei minha agenda, já organizei horários e cirurgias pra semana toda e ainda assim, não fui embora, eu estou sentada em um maca, há uma distância segura do quarto, mas com uma boa visão da entrada, eu deveria ir lá de uma vez e ir pra casa em paz, o corredor está completamente vazio, eu vejo a porta do quarto se abrir e o Andrew sai de lá, ele não me viu e não parece bem, ele fecha a porta devagar, anda rápido até um dormitório e entra, eu pulo da maca e vou até lá também, abro a porta devagar

- Andrew?

Ele anda de um lado pro outro

- Você está bem?
- Eu só preciso... ficar sozinho

Ele não olha, diretamente, pra mim, mas eu posso ver que os olhos estão vermelhos, ele está inquieto, ele não aguenta mais

- Não
- Meredith, agora não, por favor
- Não precisa conversar mas eu não vou te deixar sozinho
- Eu só não... não posso lidar com nada mais agora
- Ok

Eu respiro fundo, meu coração tá acelerado, eu me aproximo e o abraço, envolvendo meus braços na cintura dele

- Meredith
- Fica quieto

Eu o abraço mais apertado e apoio a cabeça no peito dele, eu posso ouvir o coração dele batendo muito rápido, alguns instantes se passam antes que ele reaja, eu sinto os braços ao meu redor, me abraçando também, ele descansa a cabeça na minha e eu fecho os olhos, sinto a respiração dele ficar mais difícil, meu coração se parte em mil pedaços, ele está chorando

- Vamos sentar aqui, vem

Eu digo baixinho e nós sentamos na cama, eu encosto na cabeceira e posso ver com clareza o rosto dele tomado pelas lágrimas

- Deita aqui
- Eu tenho que voltar
- Dez minutos, por favor

Então ele deita a cabeça no meu colo, ele abraça minha cintura e se deixa levar pelas lágrimas, eu olho pra cima pra não chorar também e faço carinho no cabelo dele, tudo que eu queria era poder livra-lo disso, era poder afastar tanta dor e desespero dos olhos dele, mesmo sabendo que parte dessas lágrimas são se alívio, eu entendo como é não poder desabar até ficar sozinho, depois de alguns minutos, ele levanta devagar e seca o rosto

- Eu sinto muito por isso, eu só... a imagem dele desacordado na maca foi muito forte, não sai da minha cabeça
- Não se desculpe por isso, você já fez a mesma coisa por mim
- Enfim, obrigado
- Não precisa agradecer

Nós dois levantamos da cama

- Nós podemos conversar depois, Andrew?

Ele passa a mão pelo cabelo

- Você ainda quer conversar alguma coisa?
- Eu venho insistindo com isso né? Eu quero conversar
- Você vê algum futuro nessa conversa?
- Quando foi que você desistiu de tudo? Tão rápido e tão fácil

Ela solta o fôlego devagar

- Não, não foi fácil, mas eu tenho dois filhos, eles são toda a minha vida
- Eu sei, agora eu sei, pelo menos, esse seria outro assunto nessa conversa

Ele passa a mão pelo cabelo

- Amanhã, na sua casa, depois da nove
- Ok

Agora eu sei porquê sempre é depois das nove, ele passa a mão no rosto mais uma vez e vai pra porta, ele olha pra mim, antes de sair

- Obrigado, Meredith

E sai.