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Meredith PoV

- O jantar está pronto

A Nana apareceu na sala, pela primeira vez naquela noite, ela realmente evita ficar por lá quando eu estou, eu não sei se eu falo com ela sobre ter algum problema comigo ou pergunto ao Andrew se tem alguma coisa errada, talvez seja o jeito dela e nós, praticamente, não conversamos, ela não fica quando eu estou e isso tem me incomodado

- Vem, Tia Mer

A Bê pega a minha mão e eu vejo a Nana olhar pra nós duas muito surpresa com a forma que ela me chamou, mas logo ela disfarça e vai pra cozinha, o resto da noite se passa entre um jogo muito atrapalhado de mímica e eu muito consciente a cada vez que eles diziam Tia Mer.

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Depois de colocar as crianças na cama e dessa vez, eu deitei com o Matt, eu vou tomar banho e quando chego no quarto do Andrew, ele não está, eu vou pra sala mas antes de chegar, ouço vozes na cozinha

- ... O problema não é esse, eu só quero que tudo dê certo mas é muito recente

Eu ouço a voz da Nana e meu coração se aperta, é óbvio que é sobre mim

- Você mesmo me disse que ela não é a Sam e eu tinha que dar um chance pra isso, o que foi que mudou?
- Nada mudou, eu estava falando em uma chance pra vocês, com sinceridade, ela sabendo sobre as crianças e sobre a história da sua vida, eu só não esperava que em menos de três meses, ela viraria Tia Mer, eu não estou dizendo que ela é uma pessoa ruim, mas eles se apegam rápido e se não der certo?

Um nó se forma na minha garganta e eu paro de ouvir aquela conversa, eu não tinha parado pra pensar nisso, normalmente eu considero todos os cenários ruins possíveis mas dessa vez, eu não considerei isso, eu estou passando na porta do quarto das crianças e ouço um choro baixinho, eu abro e entro, a Bê se mexe na cama e chora, eu me aproximo dela

- Calma, princesa, você não está sozinha

Eu sussurro e passo a mão no cabelo dela, devagar ela parece se acalmar e eu levanto mas antes que eu saia do quarto, ela começa a gritar, chorando, eu corro pra cama e ela me abraça

- Pronto, você está bem, tá vendo, foi só um sonho

O Andrew entra no quarto correndo e a vê no meu colo, ele para, surpreso pela cena mas se aproxima e abraça nós duas, ele beija a Bê

- Vamos sair daqui pra não acordar o Matt

Ele diz baixinho e eu saio com ela no colo, nós vamos pro quarto dele e eu evito o contato visual com a Nana que estava no corredor

- Depois nós terminamos essa conversa

Ela diz pro Andrew e eu finjo que não ouvi nada

- Você está bem?

Eu pergunto pra ela que continua deitada no meu ombro, mesmo depois que eu sentei na cama

- Eu to com medo

Ela diz baixinho

- Você teve outro sonho ruim?

O Andrew pergunta

- E tava escuro e não tinha ninguém, então a Tia Mer disse que eu não estava sozinha mas depois ela também sumiu

Eu odeio essa sensação e o Andrew percebe meu desconfortável, se eu pudesse, tiraria esse medo dela com as minhas mãos

- Vamos deitar aqui, hoje você dorme com o Papai
- A Tia Mer também vai dormir aqui?

Ela olha pra mim e eu sorrio

- Vou sim, vamos deitar?

A Bê demora um pouco pra voltar a dormir, o Andrew acabou dormindo também e eu levanto da cama, preciso de água e pensar, muita coisa aconteceu hoje e eu nem tive tempo de conversar com o Andrew, eu to na cozinha, encostada na bancada, olhando pro nada

- Tia Mer

A Bê me chama, na porta da cozinha

- Oi, o que você tá fazendo acordada?

Ela tira o cabelo do rosto e coça os olhos

- Você não estava na cama

Ela responde com uma voz de sono, ela é tão linda e não é muito mais que um bebê quando tá assim, quando ela se deixa cuidar, eu coloco ela no colo

- Não pode me deixar sozinha depois que eu tenho um sonho ruim, eles voltam

Ela afasta o cabelo do rosto, novamente, definitivamente, ela precisa cortar o cabelo

- Eu sei de uma coisa que pode afastar sonhos ruins
- Você sabe?
- Eu sei e eu vou te contar mas primeiro, vamos fazer trança pra esse cabelo parar de te incomodar?
- Agora você sabe fazer tranças? O papai disse que não era pra eu te pedir pra fazer
- Ah, mas eu aprendi a fazer só pra fazer em você
- Obrigada, Tia Mer

Ela me abraça e, com certeza, aqueles bracinhos ao meu redor, é uma das melhores sensações do mundo, nós sentamos no sofá e eu começo a fazer a trança

- Então, Bê, tem um segredo pra parar com os sonhos ruins, a primeira coisa é qual o animal mais fofinho de todos?
- Um cachorrinho bebê, meu pai não deixa eu ter um

Eu sorrio

- Ta bom e qual o outro?
- Hum... Coelhinhos
- Tem mais algum que você acha fofinho?
- Tem! Gatinhos, esquilos, ursos, peixes
- Peixes?
- Eu gosto de peixes, eles são coloridos

Eu sorrio

- Ta bom, então, sempre que você for dormir, você vai pensar em um animal fofinho, pode começar pelo cachorrinho, imagina você no meio de um monte de cachorrinhos e eles te lambendo assim

Eu faço cócegas nela com uma mão, enquanto seguro a trança pela metade com a outra e ela ri, eu volto a olhar pra trança e demoro alguns instantes pra entender qual o próximo passo, mas consigo me encontrar e continuar

- Então você pensa nisso até dormir, mas tem uma coisa, você não pode sonhar com os cachorrinhos, se você sonhar com eles, tem que fazer a mesma coisa na outra noite com outro bichinho, combinado?

Eu termino a trança e amarro no final, acho que ficou bom, ela vira pra mim com um sorriso

- Combinado
- Agora vamos dormir antes que seu pai descubra que a gente tá acordada até agora
- Vamos

E nós voltamos pra cama do Andrew, quando eu deito ela me abraça e diz

- Eu vou pensar em cachorrinhos

Eu sorrio e faço carinho no rostinho dela até perceber que ela tá dormindo.

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