– Xerife... O senhor está andando? – Guto questionou, ainda tentando compreender a situação toda.O velho Xerife foi em direção a Guto, o levantando do chão.
– Isso não é hora para explicações, Garoto. Vamos sair daqui, venha, apoie-se em mim.
– Eu estou bem, não se preocupe, é meu irmão quem precisa de... – Antes que Guto concluísse a fala, animou-se ao perceber que Lucas estava de pé, sorrindo para ele. – Lucas, eu sempre soube que você era forte, meu irmão. – Concluiu Guto, com os olhos cheios de lágrimas.
Lucas, sorrindo, deu um passo na direção do irmão e do xerife, no entanto, logo em seguida, parou de se mover. Sua expressão mudou por completo. Agora já não sorria, mas destacava em sua face um olhar triste, de alguém que sentia dor. Lucas, agora com lágrimas escorrendo por seus olhos, seguiu encarando Guto. Lágrimas agora escorriam pelo canto da boca daquele indivíduo que, aos poucos, foi sentindo sua vista escurecer. Uma faca havia penetrado a costa de Lucas que, já muito fraco, sabia que não iria resistir. Ainda deu mais dois passos na direção de Guto, mas, já sem forças, caiu de joelhos no chão, ainda encarando Guto. Atrás de Lucas, estava padre Sílvio, de pé, sorrindo, mesmo com o ombro lavado de sangue. O xerife mais uma vez, atirou no padre, dessa vez o acertando na cabeça. Guto, ainda paralisado com tudo aquilo, conseguiu mover-se, correndo em direção a Lucas que, já sem forças, caiu desfalecido, nos braços do irmão.
– Ei, ei, eu estou aqui, está bem? – Disse Guto, acariciando os cabelos do irmão. – Lucas, você vai ficar bem, aguenta só um pouquinho, vamos te tirar daqui. – Guto estava aos prantos e desesperado, pois o irmão apenas o encarava, sem expressar nenhuma reação. Com muito esforço, Lucas levantou um dos braços e, com a mão, tocou o rosto de Guto, sorrindo em seguida. Lucas não conseguia falar, mas sua expressão lábia foi bem compressível.
– Eu... te... amo... – Foi a frase proferida por Lucas, ainda que sem som.
– Não, Lucas, por favor, Lucas... Eu não posso te perder outra vez... Eu não posso. - Guto abraçou o irmão. Lucas morreu olhando para Guto, no fundo ele sentiu um alívio de ter estado com o irmão em suas últimas horas de vida. Guto permaneceu abraçado ao irmão por um bom tempo, calado.
– Filho, nós precisamos sair daqui... – Disse o xerife, aproximando-se.
– Você vai sair daqui, Xerife. – Disse Guto, limpando suas lágrimas e levantando-se. – Você vai sair daqui e vai levar o corpo do meu irmão.
– O que você quer dizer com isso?
– Rebeca... Ela está aqui... Está aqui em algum lugar... Eu sinto... Dessa vez ela não vai escapar. – Guto agora imprimia uma expressão fria. – Foi tudo culpa dela. É tudo sempre culpa dela!
– Se pensa que vou sair daqui sem você, está enganado. – Disse o xerife, segurando o ombro de Guto. – Esse velho também têm contas a acertar com a tua irmã.
Guto encarou o xerife, assentindo. Minutos depois, os dois estavam colocando o corpo de Lucas na velha caminhonete.
– Acha mesmo que ela ainda está aqui? – Questionou o xerife.
– Na cachoeira, xerife, eu sei que ela está lá.
– Mas como é que você tem tanta certeza dessas coisas?
– Eu apenas sei, xerife, eu apenas sei. – Concluiu Guto, que saiu andando, fazendo com que o velho xerife o seguisse.
Ao chegarem na cachoeira, não avistaram nada. Ambos, no entanto, se incomodaram com o mau cheiro que aquele lugar tinha. Guto assustou-se com o quanto a cachoeira havia mudado, aquilo mais parecia um lixão a céu aberto. Pensou em se aproximar do penhasco, mas foi surpreendido com uma voz que, apesar de ter mudado um pouco, ele conhecia muito bem.
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Descendência Malter (Em processo de revisão )
HorrorQuinze anos se passaram desde o ocorrido na fazenda Malter. Guto, ainda que com cicatrizes, tentou seguir sua vida. Estudou, trabalhou, formou-se em administração e hoje, ao lado da namorada Nathalia, viveria uma vida razoavelmente boa em Porto Aleg...