Capítulo XI

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LUCAS PERMANECIA NO POÇO

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LUCAS PERMANECIA NO POÇO. Estava deitado, trêmulo, ardendo em febre. Boa parte do seu corpo estava travada, mal conseguia senti-las. Sem contar essas dores, ele, devido a febre alta, começou a ter delírios. Avistou Guto, seu irmão, ali em sua frente. O mesmo Guto, de quinze anos atrás, agora o encarava, com sangue por todo o seu corpo. Lucas estava trêmulo e aos prantos, também encarando o irmão. Queria conversar, falar alguma coisa, mas o som que saía de sua boca era indecifrável. Demorou um pouco, até o rapaz compreender que aquele em sua frente não era seu irmão, aliás, que não tinha ninguém ali, além dele mesmo. Em sua concepção, o irmão tinha morrido pelas mãos de Rebeca e aquilo, cada vez mais, consumia o seu ser. Lucas sentiu que estava prestes a morrer. Desmaiou. 

Na casa da família, Rebeca preparava o almoço. O tio iria almoçar com eles e sempre que ele vinha, ela caprichava. Afonso, que estava no quarto, veio em direção à mãe, estava sentindo falta de Lucas, mas sempre que perguntava, Rebeca mudava de assunto.

- Onde está o papá? Ele ainda não voltou de viagem?

Rebeca tinha mentido para o filho. Disse que Lucas estava em viagem, que demoraria a voltar. A criança, inocente, acreditou, mas sentia muita falta do pai. Lucas era o único que lhe dava atenção na casa. A mãe nunca pareceu se importar com o garoto, desde os primeiros anos de vida passou a sentir na pele o desprezo de Rebeca.

- Teu papá está viajando, moleque, eu já disse isso um milhão de vezes. - Respondeu Rebeca, já alterando a voz.

- Mas quando ele volta? Demora?

- Eu espero que sim! - Disse Rebeca, agora encarando aquela criança em sua frente. A expressão no olhar dela era de raiva, ao mesmo tempo em que sentia-se feliz por ter Lucas em suas mãos. - Teu papá, Afonso, vai demorar a voltar. Talvez ele nem volte, então é melhor ir se acostumando com isso.

Afonso, que já sentia um medo imenso da mãe, após ouvir o que ouviu, ficou com mais medo ainda. O garoto foi para o seu quarto e, ao chegar lá, trancou-se e se escondeu debaixo da coberta de sua cama.

Rebeca terminou o almoço, já impaciente porque o tio ainda não tinha chegado. Resolveu brincar um pouco mais com Lucas, não queria perder nenhuma oportunidade de humilhá-lo. Ela colocou um pouco de comida em um prato e dirigiu-se aos fundos da casa. Ao longe, avistou o velho poço da fazenda, deu um sorriso malicioso e foi até o local. Chegando, pegou uma escada feita de cordas e pedaços de bambu, colocou sobre a tampa do poço que cobria menos da metade da entrada. Rebeca olhou para dentro daquele lugar que agora lhe servia como calabouço, avistou o irmão, encolhido, quieto.

- Oi irmão, ainda está vivo? - Perguntou ironicamente. - Eu vim te trazer comida, porque nao quero ser vista como a irmã má. - Rebeca deu uma leve risada, mas o irmão não esboçou, sequer, um movimento. Parecia estar morto, de fato. Rebeca continuou chamando -o.

- Vamos, para de palhaçada, não se finge de morto, que vaso ruim não quebra tão fácil assim. - Insistiu Rebeca, porém, mais uma vez, não obteve nenhuma reposta do irmão.

- Não acredito que esse inútil morreu, desgraçado, até nisso ele me atrapalha. - Disse Rebeca, pegando a escada e a ajeitando. Desceu até o poço e, ao chegar ao fundo, percebeu que Lucas não se mexia. Nem parecia estar respirando. Rebeca tocou no irmão, chutando-o, esperando que ele se mexesse, mas foi em vão.

- Vamos, Lucas, você não pode morrer,  ao menos não ainda. - Dizia Rebeca, fitando aquele corpo em sua frente. Abaixando-se, Rebeca aproximou seu rosto do rosto do irmão. Os olhos de Lucas estavam fechados, seus lábios ressecados, sua face exibia uma palidez extrema. De fato Lucas parecia morto. A irmã ainda o encarou por alguns segundos, seriamente, mas, quando ia levantar-se, assustou-se com os olhos do irmão se abrindo. Lucas, que outrora parecia morto, num rápido movimento, levou sua mão esquerda ao pescoço de Rebeca, apertando-o fortemente. Não sabia de onde estava vindo toda aquela força, mas o ódio que estava sentindo pela irmã era tão grade, que Lucas só queria fazer ela pagar por tudo o que fez.

- Lucas... O que... Você.... es...tá...fazendo? - Com muito custo, já com a respiração ofegante, Rebeca falava. - Me...larga...Lucas...agora...

Lucas estava encarando a irmã com um olhar furioso. Sabia que Rebeca merecia morrer ali mesmo. Estava decidido a matá-la, mas Lucas começou a lembrar-se do filho. Afonso não merecia ter um pai assassino. Lucas não era assim. Não poderia igualar-se à Rebeca. Soltou a irmã, que caiu tonta no chão do poço. Rebeca, mediante a situação em que se encontrava, ainda tentou provocar Lucas, mesmo com a respiração ofegante.

- Eu sabia... Você nunca conseguiria... me matar... Você... sempre... foi... um covarde, Lucas... Por isso...toda... A tua... família... está morta... Você não foi....sequer.... capaz de... salvá-los.

Rebeca buscou provocar o irmão da forma mais baixa que encontrou. Os olhos de Lucas encheram-se de lágrimas ao ouvir aquelas palavras e Ele, sem pensar duas vezes, virou -se para a irmã, dando um soco e a desmaiando. Lucas subiu as escadas em direção à saída, tudo o que desejava era pegar o filho e sumir da fazenda. Contudo, ao sair do poço, apressou-se em ir na direção da casa, que não percebeu ninguém se aproximando. Quando ouviu passos vindo em sua direção, já era tarde. O tio o derrubou com uma pá, o desmaiando.

Descendência Malter (Em processo de revisão )Onde histórias criam vida. Descubra agora