365 dias com ela

VINTE E NOVE

☆☆☆☆☆
Pov's Bianca

Depois de tomar banho fico em frente ao espelho me encarando. Eu apenas queria saber aonde foi que errei para viver esse inferno.
Eu nunca ia pensar que a minha vida iria se transformar tão radicalmente depois que os meus pais se separaram.
Os meus sonhos de criança estão enterrados a sete palmos. Ou seja bem longe do meu alcance.
Depois de vestir uma uma calcinha de renda preta e um sutiã também preto que levantava os meus seios - puxei a minha mãe e os meus seios já são fartos para a minha idade.
Tenho vontade de chorar. Mas não posso.
Visto uma blusa vermelha bastante colada ao meu corpo e uma mini saia preta que também estava colada ao meu corpo. Calço botas de salto 15 centímetros. Faço um rabo de cavalo e deixo alguns fios soltos e por último faço uma maquiagem pesada que me faz parecer mais velha.
Estou passando outra camada de batom vermelho sangue e novamente me encaro no espelho.

- Por que - sussurro.

Eu não fui uma criança má. Sempre me comportei tão bem. Sempre obedecendo os meus pais.
Eu amo muito o meu pai e a minha mãe, mas não tem nenhum momento em que eu não penso que é culpa deles.
Estou terminando de me arrumar para o meu encontro.
Isso mesmo, uma criança de catorze anos está se fantasiando para sair com um cara mais velho.

- Não sei como alguém acham que eu adoro isso - penso deprimida - todos acham que eu adoro me vestir assim, beijar caras mais velhos, me vender.

Eu odeio isso.
Como alguém pode fazer isso por gostar?
Desde que os meus pais se separaram e o meu pai admitiu que traiu a minha mãe e ainda tem uma filha que o meu mundo cor de rosa virou roxo.
Mas eu não culpo a Hazel ou a Perséfone, pois quem tinha compromisso com a minha mãe era o meu pai. E ele não honrou isso. E agora eu tenho que pagar pelos seus erros.
Eu só queria brincar de boneca, ir ao cinema com as minhas amigas.
Eu só queria ser uma garota normal. Mas eu não sou.
Eu vivo com medo de pegar uma doença. Eu tenho nojo do que faço.
Eu sei que quando o meu pai descobrir ele vai acabar comigo e a minha mãe vai dizer que a culpa foi dele por ter saído de casa. A angústia de pensar que eu não vou sair desse destino nunca mais me assombra todos os dias.

- Virei puta por causa dos meus pais - termino de passar o batom vermelho.

Vou até a minha cama e pego a minha bolsa e coloco vários preservativos lá dentro.
Pensei que quando os meus pais se divorciarem de vez as brigas iriam acabar e eu ia poder voltar a ser aquela criança que não saia do seu castelo.
Nossa eu estava totalmente enganada.
As contas não paravam de chegar, a minha mãe não parava de chorar e comprar vestidos.
Tivemos que vender as poucas coisas de valor e ainda assim não estava dando.
O Nico arrumou um emprego em uma farmácia e a minha mãe ainda era diarista.
Eu gostaria de ajudar. Mas só tinha 12 anos e não poderia trabalhar.

- Você é tão bonita - a minha mãe dizia - nem parece que tem treze anos.
- Eu tenho doze - a corrigi sempre.
- Você tem medo do futuro?- me pergunta.
- Sim mãe - admito.
- Você quer ajudar?- concordo animada.

Naquela mesma noite a minha mãe me emprestou o seu vestido e me fez uma maquiagem poderosa.

- Mãe - o Nico se assustou - o que é isso?
- A sua irmã vai nos ajudar - diz feliz.

Quando a minha mãe me explicou que eu deveria ser legal com os caras ricos para poder ganhar presentes eu não senti medo.
Eu gostaria muito de ajudar, e essa era a única forma que encontrei.
Mais tarde conseguimos o primeiro cara que me pagou um jantar delicioso e me deu uma pulseira que podemos vender e comprar comida para a casa.
A minha mãe me ensinou todas as técnicas de sedução e assim transei pela primeira vez aos doze anos com um cara de vinte anos.
Nunca vou me esquecer de como foi nojento e chorei a noite toda.
Mas pelo menos estamos conseguindo pagar as contas de casa.
Eu amo a minha mãe. Mas eu odeio me deitar com esses caras idiotas que acham que o seu dinheiro pode comprar tudo.
O que eles tem na cabeça? Transar com uma criança é crime e eles deveriam estar presos.
Sei que não sou mais criança. Mas mesmo assim o que eles fazem é errado.
A Hazel sempre me leva para as suas festas de riquinhos e consigo várias coisas para a minha mãe vender.