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2 ANOS ANTES

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2 ANOS ANTES...

Faz um ano que fugi e deixei a vida miserável que vivia para trás, vim para Miami com o pouco de dinheiro que consegui nas ruas de El paso. Nada foi fácil, muito menos quando descobri minha gravidez. Foi uma montanha de sensações e sentimentos conflitantes.

Medo, incerteza, que de devia tirar meu bebê, mas tocando no meu ventre naquele dia dormindo pela primeira vez nas ruas de Miami, eu não me sentia mais sozinha. Eu finalmente tinha alguém, alguém que eu amaria e cuidaria como meus pais fizeram comigo antes de me deixar.

Eu cuidaria do meu filho ou filha, o protegeria tudo é com todo amor que ainda resta em mim. Eu não tive tempo para chorar, para me vitimizar, não tive tempo para sofrer, eu sobrevivi, por mim e pela criança que crescia dentro de mim.

Pela a única família que me resta.

Trabalhei de tudo um pouco, o bom era que não sou ilegal, mas nunca contei a ninguém, trabalhei de tudo um pouco, mas só trabalhos sem carteira, eu não podia deixar rastros, não podia deixar pegadas para trás.

Sofia Flores havia morrido e Sofia Diaz Jenkings nasceu naquele exato momento em que fugi. Uso só o nome de solteira da minha mãe, um nome simples que muitos latinos que moram nesse país usam.

Cortei meus cabelos, mudei a forma que me vestia antes de tudo acontecer, não para mudar, mas sim porque não me sinto mais a mesma. Trabalhei de empacotadora em um pequeno mercado, com esse dinheiro deu para alugar, um lugar bem simples na pequena Havana, um dos bairros mais pobres e perigosos daqui, mas é aonde meu bolso pode pagar.

Juntei bastante dinheiro trabalhando no mercado e os outros bicos como babá de cachorros, lavadoras de pratos e etc.

Quando fugi de El Paso, não tive ideia de como a minha vida iria mudar. De como meu pequeno Miguel, meu pequeno milagre, a minha luz, traria felicidade a minha vida. E percebi que antes, todos os dias antes da sua chegada, a minha vida, a vida que eu achava que tinha, não havia sentido.

Sei que muitos casos, muitas mulheres que passaram pelo mesmo ou até pior do que passei. Não dão cabo ou melhor dizendo, não levam ao fim, a gravidez. E não as julgo. É muito fácil alguém de fora, vir apontar o dedo. Difícil é se colocar no lugar das pessoas, querer ficar um dia no lugar do outro e se colocar nessa situação tão difícil e triste que é ter um filho de quem te abusou, de quem praticamente acabou com a sua vida.

Eu não decidi levar a gravidez até o fim e ter meu Miguel, porque era o certo ou errado a se fazer. Eu ESCOLHI ter o Miguel, porque ele é o meu motivo, a minha força para continuar.

No começo achei que poderia sofrer, por achar que meu bebê, poderia me remeter a lembranças do todo mau que me fizeram. Mas quando peguei o pequeno e frágil bebê pela primeira vez em meus braços. Me dei conta que nunca poderia associar um anjo, o meu recomeço com quem foi tão cruel e me fez tanto mal.

Deus também me abençoou, pois meu menino se parece comigo e meus paizinhos que já se foram.

Depois que tive Miguel, os meses foram se passando e as coisas começaram a se apertar. Ninguém queria dar uma vaga a uma latina, mesmo tendo dupla nacionalidade, uma latina de um país comunista e muito menos, a uma mãe solteira. Me virei como pude com o dinheiro que ainda tinha, fiz bolos, tortas, salgados entre outras coisas e mesmo com o pouco dinheiro entrando consegui me virar, muito mal mas consegui.

Foi então que conheci a louca da minha vizinha, Jasmine. Nunca vi alguém como Jasmine antes. Tão sorridente, corajosa, pra cima e desbocada. Ela tentou por três longos meses, se tornar minha amiga, fazer amizade comigo, mas o meu medo era maior. E ela mesmo sem me ouvir dizer, parecia me entender e aos poucos me conquistou com o seu jeito divertido e fascinante de ser.

Nos tornamos amigas, grandes amigas. Jasmine foi minha primeira amiga, uma amiga de verdade, sem falsidade, talvez uma amiga que eu pudesse confiar e não fosse me trair, mas ainda assim, não consigo confiar e me abrir cem porcento. Eu confio, mas não o suficiente para me abrir por completo.

Jasmine se tornou alguém muito importante para mim, graças a ela voltei a estudar, estudo a noite e de manhã ela toma conta de Miguel, já que infelizmente dona Mercedes voltou para Puerto Rico.

Infelizmente tive que dar uma pausa nos estudos de novo, pra procurar emprego. Não consegui nada, até que li um anúncio de emprego, muito improvável para mim. Uma vaga de barwomen em uma boate de striptease no lado de classe média da cidade, no começo hesitei muito.

Não havia outra alternativa, a únicas coisas que sou boa é cozinhar, limpar e mexer em carros, mecânica e em dirigir. Aprendi tudo que sei de carros com meu pai, era um amor dele e que se tornou o meu também, mas nenhuma oficina que procurei emprego, me levaram a sério por ser mulher. E aquela maldita pergunta que sempre me incomoda, me foi feita pela milésima vez.

Você tem filhos?

Quem cuida deles?

Mas se você trabalhar quem vai tomar conta?

Como se o fato de ser uma mãe solteira, me reduzisse a nada, como se eu também não precisasse trabalhar, por comida na mesa.

Então depois de muita pensar e receber tanto "não" em todas empresas e lugares que ia fazer entrevista, me vi tendo que aceitar minha única alternativa.

Trabalhar na boate SEXY BITCH. Jasmine me ensinou a Como fazer bebidas e tudo mais.

No começo foi difícil mas peguei jeito rápido, sempre fui boa e dedicada para aprender coisas novas. A única coisa que me incomodava e aprendi a lidar, foi com as cantadas nojentas e a rivalidade feminina muitas vezes mais nojenta que o assédio.

Mesmo com um ou dois abusadinhos, os seguranças nos protegiam e o homem que não seguisse a regra da casa, além de uma surra era banido para sempre.

Vi muitas coisas no início, prostituição, drogas entre outras coisas, mas por mais errado que fosse eu sempre me fazia de cega, porque dependo desse trabalho, meu bebê depende desse trabalho. E a grana por mais suada que seja é muito, muito boa, não ganho igual as dançarinas, mas é uma boa grana.

Fiz boas amigas também nesses dois meses em que estou trabalhando. Nunca pensei que acharia pessoas tão legais como Gabriella, Lupita e Esmeralda e Anahí.

Digo isso porque muitas das meninas aqui me tratam mal e não sei porque, não sou uma ameaça. Admito que no começo que as piadinhas cruéis sobre meu peso me machucaram muito e me fizeram chorar no ônibus pra casa. Mas me mantive firme, de cabeça erguida.

O me deixa feliz é que agora tenho amigas, amigas de verdade, pessoas que percebo cada dia se importam mais comigo, pessoas que a cada dia vejo menos como simples amigas e vejo sim como a minha família.

Talvez algum dia, toda a dor do passado, todos os pesadelos, tudo que passei fique no fundo da memória, talvez um dia eu possa voltar a ser, a Sofia boba e feliz que um dia fui.

Só sei que pela primeira vez em meses, não tenho medo de sonhar e ter esperanças, esperanças de um futuro cheio de paz e felicidade, para mim e para o meu bebê.

MARCUS - OS CARTER 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora