Crescida em uma família extremamente tradicional e religiosa, Wendy conseguiu esconder seu segredo por um bom tempo.
Até a nova aluna Park Sooyoung aparecer em sua vida.
"Eu não estou falando de garotos, estou falando de garotas."
Este capítulo contém descrições detalhadas de uma crise de ansiedade e/ou pânico. Se você é sensível com esse tipo de conteúdo, NÃO leia.
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Às seis e meia, a rotina recomeçava.
Quando Wendy abriu os olhos naquela manhã, Yeri não estava mais lá. Apesar de estranhar a ausência da irmã na cama, imaginou que ela tivesse acordado durante a noite e ido para o seu quarto, assim como fazia todas as vezes em que aparecia e pedia para dormir consigo. Resolveu lavar os cabelos antes de tomar café da manhã e quando observou-se no espelho do closet, imaginou como seus fios loiro-escuros ficariam se seus pais permitissem pintá-los ou cortá-los.
Pintar de preto não era uma má ideia...
E quando a família sentou-se à mesa para a primeira refeição do dia, a mais velha notou que sua irmã se comportava como se nada tivesse acontecido. Não sorria e mal trocava duas frases com os pais, mas também não tinha os olhos marejados, nem mesmo inchados. Um dia ainda perguntaria como ela conseguia disfarçar as olheiras com a quantidade mínima de maquiagem que lhes era dada.
Nem parecia que a caçula dos Son tinha chorado até dormir.
Era um pouco difícil se lembrar de quando Yeri chegou na família, afinal, Wendy era apenas uma criança de três anos. Mas ao longo do tempo as duas desenvolveram um laço muito mais forte que o de irmãs. Eram amigas e, acima de tudo, o porto seguro uma da outra. Vê-la num estado tão frágil quanto o da noite anterior partia o coração da mais velha.
Sua família não comentava sobre o assunto, mas assim como Wendy, Yeri também não fora planejada. Muito menos desejada. Os Son já se culpavam o suficiente por terem sido descuidados com uma filha, com certeza odiariam se viesse outra. E foi exatamente o que aconteceu, apesar de seu pai rezar por meses e pedir que pelo menos a criança fosse um menino, a mais nova chegou como uma punição para o pecado dos pais, como sua mãe costumava falar quando Yeri era menor.
— Você é uma benção, e sua irmã é uma provação, querida — era o que sua mãe dizia. — Mas fique tranquila, Deus sabe o que faz.
Antes de sair, Wendy deu uma última olhada no visual pelo espelho acima da lareira. Ao contrário da irmã, não se importava muito com o estilo de roupa que seus pais recomendavam que as filhas usassem. Os vestidos, saias e calças não eram tão ruins. Em sua opinião, alguns modelos eram até fofos e confortáveis para se usar no dia-a-dia. As cores eram neutras e os tecidos eram até leves, comparados às roupas que usava para ir à igreja, por exemplo.
E, acima de tudo, chamavam menos atenção.
O carro da família cortou as ruas da cidade em silêncio. Antigamente, a primeira parada era o colégio que funcionava até a sétima série. Entretanto, depois que Yeri completara quatorze anos, passou a estudar no mesmo local que a irmã mais velha.
