Crescida em uma família extremamente tradicional e religiosa, Wendy conseguiu esconder seu segredo por um bom tempo.
Até a nova aluna Park Sooyoung aparecer em sua vida.
"Eu não estou falando de garotos, estou falando de garotas."
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As tardes de domingo eram insuportáveis.
Pela janela do quarto, Wendy observava o céu nublado. O dia estava tão chato e acinzentado que mal havia carros passando pela avenida. A única coisa que atraiu sua atenção foi um caminhão de mudanças amarelo que passou em alta velocidade, mas logo desapareceu na esquina.
Já tinha feito seu dever de casa e revisado toda a matéria. Sua irmã provavelmente estava se arrumando para o culto daquela tarde — ou melhor, arrumando-se para escapar assim que o pastor abrisse a boca. De todas as loucuras que Yeri já tinha feito, Wendy considerava fugir dos cultos uma das mais radicais. Mas se nem seus pais tomavam alguma iniciativa sobre aquilo, quem era ela para tomar? Ela só rezava para que a irmã mais nova não acabasse em apuros um dia.
Tédio. Aquele era um sentimento comum na vida da filha mais velha dos Son. Não havia muito o que fazer naquela casa, apesar de ser grande e luxuosa. Suspirou devagar e passou a vasculhar o quarto em busca de algo que a pudesse distrair até que a hora de toda a família ir à igreja chegasse. Passou os olhos pelas estantes abarrotadas de livros que em sua maioria eram comprados por seus pais — e que ela não tinha vontade alguma de ler; mordeu os lábios quando avistou a televisão, mesmo estando com vontade de assistir alguma coisa, sabia que aquela era uma atividade permitida somente depois dos cultos e refeições. O computador também estava fora de cogitação, visto que deveria ser utilizado apenas para a realização de atividades e trabalhos da escola.
Por fim, conseguiu abrir um sorriso, mesmo que pequeno. Seu violão estava estrategicamente posicionado num dos cantos do cômodo, e como se fosse uma intervenção divina, os raios de sol batiam perfeitamente nele, fazendo a tinta branca, já gasta pelos longos anos de uso, brilhar. Levantou-se do mar de almofadas que tinha criado no carpete e esticou os braços antes de agarrar o instrumento. Pelo relógio digital em sua cabeceira, faltavam quinze minutos para que todos saíssem.
O que deveria tocar?
— Mother do you think they'll drop the bomb?
Fazia tempo que não tocava. Quando era mais nova, costumava tocar na banda da igreja, mas abandonou o grupo quando o maestro se aposentou e uma jovem musicista assumiu o posto. Wendy não conseguia se lembrar do nome dela, mas a feição delicada e a voz angelical ainda estavam gravadas em sua memória. As duas formavam uma ótima dupla no canto, chegaram até mesmo a se apresentarem juntas no concerto de bandas das igrejas do estado.
— Mother do you think they'll like this song?
Mas a vida não é um mar de rosas e depois de perceber que seus sentimentos pela maestra estavam ultrapassando os limites da amizade, tomou a decisão que julgou ser mais apropriada: fugir. Ela ainda encontrava aquela garota, mas era como se elas passassem a ser completas estranhas. Era o melhor a se fazer. Seus pais preferiam assim. Deus preferia assim.
