XIV

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"É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar", aquela era a frase que ecoava sem parar na cabeça de Yeri

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"É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar", aquela era a frase que ecoava sem parar na cabeça de Yeri.

Hospitais tinham um cheiro estranho. Éter e desinfetante? Ela não sabia bem o que era éter, mas todos os livros diziam que o cheiro era aquele. Sem contar as luzes brancas e brilhantes, que queimavam seus olhos e dificultavam sua visão. Jalecos, sapatos de borracha, bolsas de soro, macas com rodinhas, tudo era muito estranho. Por que os médicos usavam roupas tão claras sabendo que iriam acabar sujas de sangue? Sua mãe costumava dizer que manchas de sangue eram difíceis de limpar, então qual era o sentido?

Yeri era uma garota corajosa, nem mesmo os pontos recém-feitos em sua panturrilha e a agulha perfurada no topo da sua mão direita a impediam de observar com atenção aquele quarto no terceiro andar. A televisão suspensa na parede estava desligada, as flores falsas no vaso de plástico pareciam empoeiradas, e as cortinas tinham um tom estranho de bege. Tudo era simples, opaco e sem graça.

Ela não gostava de coisas assim, nunca gostou. Lugares sem cor a deixavam triste, com fome ou entediada, sentimentos que lhe acompanhavam por boa parte do dia a dia. Quando ainda estudava na Meadows Middle School, as paredes cheias de cartazes coloridos e rabiscados pelas crianças pareciam muito mais interessantes que os armários cinzas e barulhentos da Saint Mary High School, a escola de Seungwan, e, atualmente, a sua também.

A ideia de crescer nunca pareceu muito atrativa. Se crescesse, teria mais responsabilidades, mais pressão e menos liberdade, assim como sua irmã mais velha. E, por mais que amasse Seungwan mais do que qualquer um no mundo, ela não era um grande exemplo a ser seguido. Yeri tinha vergonha de admitir, mas queria ter mais coragem que a irmã quando fosse mais velha.

Além disso, ser adulto era muito chato. Se fosse como sua mãe, teria que passar o dia todo lavando, passando e cozinhando. E se fosse como seu pai, ficaria até tarde trancada num escritório, lendo documentos com palavras difíceis e mal tendo tempo para a família. Aquelas opções pareciam ainda mais chatas do que as aulas da escola, e elas eram quase insuportáveis.

— Eu imaginei que estivesse dormindo, Yerim.

A doutora Manoban era mais velha que sua mãe, talvez um pouco mais bonita também, mas Yeri tinha medo de pensar demais naquilo e acabar encrencada. Os cabelos da médica eram curtos, um pouco acima dos ombros, mas naquele momento estavam presos num rabo de cavalo desleixado, com fios castanho claros escapando, arrepiados e despenteados. Ela tinha olheiras bem fundas abaixo dos olhos, devia ser porque médicos ficavam muito tempo sem dormir.

Foi difícil se segurar para não revirar os olhos quando ouviu seu nome. Yerim era muito estranho, formal demais. Ela sempre preferiu Yeri, assim como Seungwan preferia Wendy, mas ser chamada pelo apelido parecia incomodá-la nos últimos dias. Na verdade, se parasse para analisar, sua irmã parecia incomodada com absolutamente tudo. Andava mais silenciosa, mais magra e mais abatida. Se elas não visitassem o hospital com frequência para check-ups - uma exigência de seu pai -, Yeri poderia jurar que a mais velha estava doente.

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