XV

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"Joy, sente-se aqui, o papai vai te contar uma história

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"Joy, sente-se aqui, o papai vai te contar uma história."

Os olhos de Sooyoung estavam pesados. As almofadas do sofá de Momo eram tão confortáveis que ela poderia simplesmente deitar-se ali e adormecer. Apesar de ter dormido por um tempo razoável, ainda assim se sentia cansada. Olhando para o quadro pendurado acima da lareira, imaginou que a causa de estar daquele jeito era o fato de não se alimentar direito há dias. Era um preço justo a se pagar se quisesse continuar mantendo aquela forma do seu corpo, no fim das contas.

Durante a infância, seu pai costumava sentar-se no tapete felpudo que ficava na sala, enquanto uma versão muito mais jovem dela, vestida em pijamas estampados, embolava-se em uma manta verde e sentava-se ao lado do homem, observando-o recitar as palavras escritas nos livros infantis que colocava em seu colo. Aquele era um dos momentos em que os dois ficavam mais próximos.

E também era um dos quais ela mais sentia falta.

Havia noites em que as histórias eram sobre o quanto ela fora desejada por seu pai, e sobre o quão feliz ele ficara ao descobrir que teria uma menininha.

— Eu pedi algo que me trouxesse alegria, e me mandaram a alegria em pessoa, que sorte eu tive! — ele sussurrava, sorrindo debaixo das cobertas que usara para construir uma cabana. — Você é a minha alegria, Sooyoung. Minha Joy.

As coisas começaram a sair dos trilhos assim que ela descobrira que o senhor Park não sobrevivera a um acidente de carro, numa terça-feira ironicamente ensolarada, já que tanto ela quanto seu pai adoravam tomar sol no jardim. Sentada num dos bancos desconfortáveis da secretaria da escola em que estudava, Sooyoung se perguntava como um dia tão bonito tinham ficado tão triste? De repente, o mundo ao seu redor não parecia mais alegre.

Se fechasse os olhos, ainda podia vê-lo despedir-se ao deixá-la no estacionamento, avisando que jantariam comida chinesa naquela noite, pois nem ele, nem a senhora Park estavam com vontade de cozinhar. Ainda podia escutar sua risada calorosa, sentir sua barba por fazer incomodá-la durante um abraço. Era como se tudo estivesse do mesmo jeito que sempre esteve, exceto pelo fato de seu pai estar morto.

Ela não chorou durante o funeral, e nem depois dele. Parando para pensar, ela nunca tinha realmente chorado pela perda do pai. Talvez, bem lá no fundo, ainda acreditasse que ele voltaria. Rosé dizia que aquela era uma maneira de lidar com o luto.

Luto.

O que é o luto? Por que existia? Quando iria acabar?

— Tem certeza que quer ir pra casa agora? Você pode ficar o tempo que quiser aqui — Momo surgiu no corredor, secando os cabelos com uma toalha. — Sabe, eu fico muito solitária nesse apartamento enorme...

Era difícil dizer quando Momo falava sério ou tinha segundas intenções, já que seu tom era o mesmo para ambas as situações. Na verdade, apesar de parecer uma pessoa muito fácil de ler à primeira vista, ela era o tipo que raramente deixava transparecer algo além do que desejava.

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