Chapter twenty nine - o final e o começo

169 27 50
                                    

Música do capítulo: David Guetta - Shot Me Down ft. Skylar Grey

Félix Spielman


A cena lamentável em que me encontrava realmente parecia saída de um filme de pistoleiro. O sangue, a insuportável dor, o tiro que ecoou forte e causou o impacto desejado. Nada era como deveria ser. Nada estava como era suposto ser. 

Quando Leonardo veio em minha direção, eu não estava armado, muito menos ele. Isso não o impediu de me derrubar com um soco, vendo que estava desprevenido, e em questão de segundos suas mãos virem ao meu pescoço tentando me estrangular. Estava por baixo, sentia o ar se esvaindo de meus pulmões, querendo ou não o ruivo também não era nenhum fracote e parecia sorrir com a minha desgraça. 

Naqueles segundos entre a vida e a morte, um filme passou por minha cabeça. Todas as coisas que vivenciei e todas as que ainda queria. Todas as vezes que exitei em fazer alguma coisa e às vezes que fiz sem pensar nas consequências. 

O som do tiro quase me ensurdeceu. E quando o sangue molhou minha camiseta, soube que Romana tinha acertado o alvo em cheio. Joguei o corpo de Leonardo, agora inconsciente, para o lado, estava encharcado de sangue.  Levantei do chão com dificuldade, Romana ainda mantinha a arma em punho, no mesmo instante em que Samanta finalmente desceu as escadas, seu rosto contorceu-se em pavor, ajoelhou-se no chão ao lado de Leonardo e o abraçou apertado.

Aquilo me confundiu um pouco, não sabia que a relação deles era tão próxima. Claro que sabia que eles transavam, mas não sabia que haviam sentimentos ali. Mas a verdade é que haviam.

"Acorda...Léo...acorda...não me deixa...por favor..." Samanta tremia, alisando o rosto do ruivo, que parecia desacordado. 

Sabia que Leonardo não havia morrido, pois o tiro não foi no coração, e seu peito ainda subia e descia. Na pior das hipóteses o ruivo estava desmaiado, desacordado nos braços de Samanta, que agora chorava copiosamente.

"Liga para a ambulância! Liga agora! Não vê que ele pode morrer?" Samanta implorou por algum tipo de clemência. "Tem um telefone na cozinha! Por favor!" A loira implorava a nós dois, segurando firmemente Leonardo.

"Romana, liga para a emergência." Pedi à morena, a encarando, assim ela me deu a arma que carregava e rumou em direção à cozinha, me deixando lá sozinho com Samanta e Leonardo.

"Não sabia que se importava tanto com ele..." Finalmente disse, querendo saber mais sobre a relação da loira com o ruivo.

"Ele é...meu meio irmão...É tudo que eu tenho nessa vida..." Aquela declaração me pegou desprevenido, e me chocou também.

"O quê?" Não deu muito tempo de processar aquilo tudo, Romana voltou à sala para pedir o endereço do local.

Assim que a morena passou a localização e desligou, eu acabei mais uma vez surtando.

"MAS QUE PORRA?! COMO ASSIM MEIO IRMÃOS?" A cada segundo esta história fica mais e mais nojenta.

"Ele...não queria que ninguém soubesse...ele...tinha vergonha de mim..." A loira respondeu, cabisbaixa, alisando os cabelos ruivos do rapaz no seu colo. 

"Você é irmã do Leonardo? Mas...vocês...meu deus Samanta!" Romana chocou-se também, o que já era esperado, levando as mãos à boca.

"Eu nem sei o que dizer...mas precisamos ir agora Rom, antes que nos vejam aqui! Precisamos ir!" Pedi à morena, que me olhou ainda processando as informações de Samanta. "E você, se não quer ir presa, trate de calar essa sua boca, ouviu? Esquece que nos viu, esquece da nossa existência!" Ordenei à Samanta, que apenas assentia em concordância com a cabeça, os olhos molhados de tanto chorar, apavorados e acoados. "Começa a pensar em uma boa fanfic Samanta, você vai precisar!" E assim deixamos a loira com Leonardo, que começou a tentar se movimentar assim que coloquei meu pé na porta.

"Não se mexa...calma baby...a ambulância está chegando...respira..." Pude ouvir Samanta tentando acalmar Leonardo, enquanto Romana e  eu entrávamos no carro.

Dei a partida e saí em disparada, Romana colocou o cinto de segurança e fez sinal para que eu fizesse o mesmo, meu coração quase saindo pela boca, a adrenalina a mil, nervoso era pouco e me sentia em um misto de loucura e medo.

"Que porra foi aquela?! A gente...não devia ter ficado lá?" Romana sentia-se da mesma maneira, o medo evidenciado em seu rosto.

"Não! Rom...nós não podemos voltar atrás agora! Leonardo vai ficar bem, e ele tem que nos agradecer de não os entregar isso sim! Agora eles estão em nossas mãos!" No meio de todo esse caos, ainda havia uma parte minha que respirava.

A morena ficou alguns segundos em silêncio, o que quase me matou por dentro. E se ela ficasse contra mim?

"Você tem razão..." Percebi que ela me encarava, parecia séria, o tom de voz denunciava isso. "Bebê...eu...o que vamos fazer agora?" Romana estava confusa, e era totalmente compreensível.

"Vamos pensar em alguma coisa...juntos...te prometo amor..." Segurei sua mão com a minha livre, beijando-lhe a pele fria, querendo tranquilizar aquele coração selvagem.

Quando a estrada de chão foi deixada para trás, meu apartamento era o último lugar em que pensava ir. Tinha uma ideia de que o pessoal poderia estar preocupado conosco, então pedi para que Romana olhasse no porta-luvas em busca de um telefone, pois quando estávamos vindo para cá me lembro de ter visto Leonardo guardar um celular ali. Bingo. Romana mandou uma mensagem à Miranda a tranquilizando, dizendo que estávamos bem e a salvo, e que não precisavam se preocupar conosco. Foi uma mentira necessária.

Dissemos que tínhamos tirado um tempo para nós dois, e que voltaríamos logo. Espero que a turma acredite e não tente nos localizar. A última coisa que quero é envolver a galera no meio dessa sujeira toda. Já me sinto mal por Romana estar envolvida. Ela não merece viver com isso.

Após andar por algum tempo, finalmente encontrei um local discreto, um hotel novo na cidade. Ficava mais afastado do centro, e serviria para um esconderijo de uma noite. O único problema era minha camiseta manchada de sangue. Não havia maneira de explicar isso na recepção sem levantar suspeitas. Mas havia uma saída. Este é o carro do Leonardo, então, provavelmente tem uma camiseta extra no porta-malas. Estacionei o veículo no pequeno estacionamento interno do hotel, saindo do carro e abrindo o porta-malas, encontrando ali muito mais do que uma simples camiseta. 

Haviam duas malas, uma rosa e a outra azul. Não precisava ser vidente para adivinhar a quem pertenciam. Abri a mala azul, encontrei nela várias camisetas polo (horríveis para falar a verdade), uma calça e um perfume fedorento, além de uma quantia em dinheiro. Esse escroto realmente havia preparado tudo, até a fuga. Tive que acabar optando por uma delas, escolhi a menos feia, a que era toda amarela e possuía apenas alguns detalhes rosas. Onde aquele embuste pensou que poderia usar essa roupa feia? Vesti a camiseta e é claro que ela ficou pequena, devido a nossa diferença de tamanho. A calça da mesma maneira. Mas seria somente por uma noite, eu aguento.

Romana também reclamava muito do senso de moda de Samanta, tecendo críticas ácidas à loira em cada peça que pegava na mão.

"Aquela vadia não sabe nem combinar as cores! Uma puta de uma anta loira! Quem não tem um vestido preto na mala? Mas que merda!" A morena ficou sem saída e teve que optar por um vestido pink, totalmente à contragosto. Era esse ou o verde musgo, segundo ela. 

Eu apenas contive o riso, antes que ela descontasse toda aquela raiva em mim.

Assim decidimos finalmente entrar na recepção do hotel, lindos e glamourosos, com as malas dos embustes, só que não. Paguei a estadia com o dinheiro de Leonardo e logicamente usamos nomes falsos.

Senhor Charles Bass e senhora Blair Bass

Acreditem. Realmente existem milhares de pessoas que nunca sequer saberiam quem são estas pessoas, e aquela senhora de mais ou menos cinquenta anos é com certeza uma delas.

O pior já passou. Tudo que mais queria agora é aliviar toda a tensão de Romana, e a minha, é claro.

E sei muito bem como posso fazer isso.

Sex On FireOnde histórias criam vida. Descubra agora