Chapter forty - acerto de contas (Parte II)

121 23 50
                                    

Música do capítulo: Rolling in the deep - Adele


Patrícia Medeiros


A ideia era morrer. Não renascer, não ressuscitar. Simplesmente morrer, a vida se esvair do corpo e nada mais restar a não ser a alma em direção ao purgatório. Só havia dor, só havia o vazio, só havia a solidão. E um nada.

O nada.

O último ano foi um completo caos. Entrei em uma vida da qual não queria. Comecei a conviver com uma realidade tão distante da qual sempre me identifiquei. Não em questão de riqueza ou luxo. Estava cercada pelo bom e o melhor conforto, o sonho de qualquer mulher jovem assim como eu. Mas nenhum dinheiro ou ouro do mundo, joias, diamantes, esmeraldas, pedras preciosas, qualquer coisa que ele me desse, faria diferença. Eu liguei o piloto automático há muito tempo, só querendo sobreviver.

Sabe quando você esquece quem você é de verdade? É basicamente isso que está acontecendo comigo. Sinto-me em uma peça de teatro, interpretando uma pessoa totalmente diferente. E além do mais, esta peça é algo do qual não tenho a menor vontade de permanecer interpretando.

Mas não tenho escolha. Nenhuma escolha a não ser ceder.

Foi um trato, algo do qual eu não me orgulho nenhum pouco é lógico. Até onde você iria para manter as pessoas que você ama seguras? Bom, eu fui ao meu limite. Ao fundo do poço.

Começando do começo do meu pesadelo, posso chamá-lo assim. Desse jeitinho carinhoso. Recebi um aviso. Um sinal de que algo muito ruim e trágico iria acontecer. A princípio não dei a devida atenção mas durante dois dias seguidos meu celular foi sendo inundado por mensagens contendo ameaças de morte. Mas nenhuma era para mim, e sim para os que eu mais amo. Todas contendo a forma como morreriam, com explicações bem detalhadas.

Julian morreria com uma corda enforcada no pescoço.

Miranda teria uma morte violenta causada por envenenamento.

Bastian levaria um tiro no meio da cabeça.

Paola sofreria um grave acidente de carro.

E Félix, bem, talvez ele fosse o que sofreria mais. Teria seus dois pés e suas duas mãos amputados, somente para depois ser queimado vivo.

Logicamente eu poderia evitar tudo isso, forjando a minha própria morte. O certo é que depois do meu rápido sequestro no sexto dia, foi me dada a oportunidade de escolha. Ou eu, ou eles. Passei em minha casa para pegar algumas roupas para levar para o apartamento de Félix, e foi quando fui surpreendida por uma van assim que desci no estacionamento do prédio. Haviam três homens fortemente armados, com máscaras do Dalí, que me renderam e colocaram-me um capuz preto na cabeça, empurrando-me até a porta lateral. Caí no chão da van, que arrancou abruptamente, enquanto meu coração disparava em medo total.

O trajeto todo foi em um silêncio tremendo. Segurava-me apertado, só ouvindo um grito grave e estridente para que ficasse de bico calado ou estourariam meus miolos. Mordi os lábios tão forte que pensei que sangrariam, quando senti o carro parar e alguém me empurrar para fora com força. Não tinha a menor ideia de onde estava e para onde me levavam, a única coisa em que conseguia pensar era em Félix.

Fui obrigada a sentar em uma pequena cadeira, aparentemente de ferro. Senti o metal em contato com minha pele no momento em que sentei. E no momento seguinte o capuz foi retirado do meu rosto, revelando aqueles dois homens.

Puta que pariu. Isso era a porra de um pesadelo.

Além de reconhecer instantaneamente aquela cabeça ruiva, psicótica e mal amada, havia mais uma pessoa junto à ele no recinto. Era Ben, meu ex. Não chegamos a ser namorados, mas tivemos algo durante algum tempo. A falta de cérebro dele não me importava, até o momento em que quis me controlar e pensou que fosse sua propriedade. Foi a gota d'água para o fim do nosso pequeno caso. Mas parece que ele não superou muito bem, infelizmente.

Sex On FireOnde histórias criam vida. Descubra agora