Chapter fifty five - enrolados

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Paola Constantini



Caindo em um poço sem fundo. É assim que me sinto depois do turbilhão de emoções ruins em que me encontro. Dediquei anos da minha vida a uma pessoa que apenas brincou com os meus sentimentos. Ilusão seria a palavra certa para usar. Um coração quebrado, ou melhor um corpo todo quebrado é a melhor expressão para se usar no momento. Bastian me destruiu. Mas não permitirei que isso se repita. Nunca mais.

Me sinto mais sozinha do que nunca, perdida entre momentos que sequer sei diferenciar se foram verdadeiros ou não. Todas as palavras e promessas eram falsas. Sorrisos falsos, conversas falsas. Nada era real. Me apaixonei pelo que inventei de Bastian.

Talvez a decepção seja ainda maior pela minha cegueira em processar que ele tenha sido mesmo capaz de fazer tudo que fez. Transar com Samanta? Me custava acreditar que tudo aquilo era mesmo verdade. Mas o sabor da vingança era tão doce. Os tapas e a surra que dei naquela loira de farmácia apaziguaram um pouco a minha dor. Lógico que não curaram. Enquanto Julian batia em Bastian me senti representada por suas mãos. Queria ter aquela força para também socar-lhe até meus punhos não aguentarem. Havia tanta mágoa dentro de mim querendo ser liberada. Ao final daquele circo de horrores no quarto de Samanta, lembro-me das palavras exatas que proferi à Bastian:

"Nunca mais quero ter que olhar para essa sua cara! Tenho nojo de você! Nojo! E se um dia nos encontrarmos por acaso, finja que não me conhece, pois farei o mesmo!" Dito isto, saí a passos largos de lá, deixando Bastian e tudo que envolvia ele para trás.

Bom, depois de algum tempo, de muitas horas de choro inútil e cansada de encarar a minha cara inchada no espelho do quarto, recebi uma mensagem de Romana, me convidando a vir ao apartamento de Félix. Sabia que precisava do consolo dos meus melhores amigos neste momento tão difícil e pensei, por que não?

Chegando ao apartamento, a última coisa que queria era chorar ainda mais por aquele desgraçado. Decidi que já havia sofrido o bastante. Queria esquecer que um dia o amei, que ele existiu. Comecei a beber, e encontrei um amigo que passava pela mesma dor que a minha. Julian.

"A vida é uma merda, não é?" Julian sentou-se ao meu lado no enorme sofá da sala de Félix, em seus olhos eu via o vazio refletindo os meus.

"A vida não tem culpa das pessoas que vivem nela. O mundo é uma merda por causa das pessoas de merda que habitam por aqui..." Não sei o quanto já havia ingerido de álcool, mas comecei a refletir sobre tudo.

"Você está certa....quando ficou tão inteligente?" Julian perguntou-me sorrindo, e pela primeira vez em muito tempo percebi o quão seu sorriso é lindo.

"Eu sempre fui inteligente...talvez eu possa te ensinar algumas coisas..." Talvez esteja passando dos limites Paolinha?

"Ah é mesmo?" Julian me analisou divertido por um breve momento, então decidiu aproximar-se mais, perto o suficiente para que sentisse seu hálito em meu rosto. "Estou curioso com o que poderia aprender com você..." A esta altura não sei dizer se estávamos blefando ou flertando realmente.

"Eu preciso de ar...com licença..." Dei a melhor desculpa que consegui encontrar no momento e levantei, praticamente fugindo de Julian.

Ou de mim mesma. Eu não sei.

Andei pelo corredor que dava acesso aos quartos, queria sumir. A bebida ainda não havia me derrubado, pois havia tanta raiva e ódio em meu peito por Bastian que acredito que nenhum álcool curaria. Resolvi entrar em um dos quartos e descansar um pouco, talvez o sono me traga paz. Tirei meus sapatos e deitei naquela cama enorme, olhando para o teto escuro, imaginando como consegui chegar a essa situação lastimável.

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