Chaptet fourty six - O medo e a morte

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Félix Spielman

A vida não é um filme. Mas a realidade pode ser ainda pior que a ficção.

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Na mira daquela arma, meus pensamentos voavam a todo vapor. Era de extrema necessidade a minha e a nossa saída deste pesadelo. Não tinha medo, apenas receio de que meus planos não dessem certo. Era obvio o quanto queria me vingar, a vontade de matar estes dois crápulas não me parecia algo tão ruim. Era o fim de algo tóxico. O fim de duas vidas imprestáveis. E nada faria regredir minha sede de vingança neste momento.

"E então Spielman? Perdeu a coragem agora?" Leonardo não cansava-se de tentar provar seu ponto.

"É muito fácil dar uma de macho com uma arma na mão Dal Ri. Quero ver no mano a mano. Você não teria chance contra mim." Se tem uma coisa que sei sobre Leonardo Dal Ri é o quão egocêntrico esse lixo humano é.

"Mas é muita prepotência mesmo Spielman!" Nisso o ruivo largou a arma na mesa, o que foi a coisa mais idiota que ele já fez de todas as coisas idiotas. "Eu não preciso de arma nenhuma para te descer na porrada seu filho da puta!" Ao invés de começar a ficar com medo, a primeira reação que tive foi rir da situação.

O desgraçado arregaçava as mangas da camiseta enquanto me olhava com ódio mortal.

"Achei que daria para trás." Neste instante virei-me para uma Romana apreensiva, que me olhava com medo. "Não se preocupe meu amor...vai dar tudo certo." Tentei tranquiliza-la, enquanto a afastava de mim.

"Eu confio em você...eu não confio é neles!" Romana agarrou-se à Miranda e Paola, no mesmo instante em que andei em direção à Leonardo no meio do quintal.

Benjamim mantinha-se inseguro, como sempre foi, segurando aquela arma apontada para Julian, Bastian e os demais. Era um fraco, e espero que alguém possa dar um jeito nele antes que eu mesmo o faça.

Me sentia como se estivesse no filme Clube da Luta, claro que eu seria o Brad Pitt. Tirei minha camiseta, revelando meus músculos, o que não fazia com freqüência diante das pessoas. Os olhos de Leonardo viraram duas bolas arregaladas em choque e surpresa.

"Pensou mesmo que eu era um magrelo fracote?" Claro que havia total necessidade em debochar desse traste. E ainda era pouco.

"Já ouviu a história de Davi e Golias? Então prepare-se para morrer hoje Spielman!" Esse cabelo de cenoura não sabia mesmo onde estava se metendo.

"Você não é Davi, e está longe de se comparar com ele. Desce do palanque e vamos lutar!" Já estava querendo arrebentar a cara dele.

"Não atire até eu mandar, entendeu?" Foi a ultima ordem que Leonardo deu a Benjamim, pois no momento seguinte virou-se para mim e enfim decidiu começar.

O cabelo de cenoura veio com tudo em minha direção, mas eu desviei do seu ataque, o que foi muito fácil para falar a verdade. Tudo que enxergava nele era raiva. Sentia que lhe faltava a concentração necessária e o sangue frio para vencer, o que com certeza eu possuía.

Andávamos em círculos, um tentando avaliar a tática que o outro usaria no próximo golpe. Minhas mãos em punho, o coração batendo acelerado e a sensação de adrenalina correndo em minhas veias. Então o ruivo veio novamente em minha direção com gana total, tentou me acertar um soco, do qual eu consegui desviar novamente, agarrando-o pelo pulso e conseguindo socar-lhe a face com toda a força que possuía. Logo com o primeiro soco caiu no chão, mas logo levantou-se, me fitando com mais ódio ainda se isso fosse possível.

"Eu vou te matar seu bosta!!!" Leonardo não sentia nenhum tipo de empatia a meu respeito, definitivamente.

Assim que tentou me agredir mais uma vez, não permiti que sequer proferisse o soco. O acertei primeiro no estômago, fazendo-o se contorcer de dor, segurando o local. Então após isso o golpeei mais uma vez, dando um soco de baixo para cima em seu queixo, o que o fez cair como madeira no gramado.

Havia aquela necessidade de matar meu oponente, devido a todas as coisas que causou à Romana e a mim mesmo. Subi em cima dele, proferindo diversos golpes, Leonardo não conseguia sequer falar algo para me impedir ou dar algum tipo de ordem à Benjamim, que apenas nos olhava assustado, ainda segurando a arma em medo puro.

Havia sangue para todo lado, a face do ruivo já encontrava-se tão ensanguentada que minhas mãos eram puro sangue. Queria mata-lo, faze-lo morrer aos poucos em uma dor excruciante, mas o rosto agora já desacordado de Leonardo era digno de pena.

Parei de golpea-lo. Meu peito subia e descia, e quando dei por mim levantei meio sem rumo, andando em direção à Benjamim, querendo dete-lo, mas para minha enorme surpresa alguem já havia feito isto por mim.

Não me perguntem como, mas Julian rendeu Benjamim, e Bastian e Theo o seguravam, cada um em um braço. O moreno do meio me olhava com uma mistura de medo e desprezo. A arma que Leonardo deixou imprudentemente sobre a mesa agora encontrava-se na posse de Romana, que andou em nossa direção apontando a mesma para Benjamim.

"Me dá um motivo para não atirar em você agora mesmo!" Admirava o quanto Romana conseguia ser corajosa, mesmo depois de tudo pelo que passou.

"Romana...me perdôa...por favor...eu não queria, mas o Leonardo me obrigou! Eu..." Benjamim gaguejava e tremia, tentando dar uma desculpa qualquer para seus atos.

"CALA A BOCA! CALA ESSA MERDA DE BOCA!" Romana estava alterada, e logicamente enfureceu-se ainda mais com a resposta que recebeu.

"Você gostava que eu sei! Toda vez que eu te comia você gostava!" Esta foi a gota d'agua para Romana, que atirou na perna de Benjamim, fazendo cair no chão e gemer de dor.

Bastian e Julian o largaram, deixando-o contorcer-se sozinho.

"Acho que devemos chamar a polícia agora." Miranda disse, o que todos concordamos.

Mas antes que a ruiva conseguisse completar a ligação, ouvimos mais um disparo, que explodiu no céu escuro daquela praia. Era Leonardo, que por incrível que pareça ainda conseguiu erguer-se. De onde veio esta arma?

Romana rapidamente apontou para ele, assim como Julian. A face de Leonardo já ensanguentada, a camisa manchada de sangue, mas ele não parecia querer se render.

"Desiste Dal Ri! Você perdeu! Nós ganhamos!" Falei em alto e bom som, mesmo sabendo que não adiantaria.

"Eu só saio daqui morto! E vou levar a Romana junto comigo!" Leonardo não tinha mais nada a perder, e talvez isso finalmente me fez temer.

Pela vida da pessoa mais importante do mundo todo.

E talvez por isso nada me faria recuar diante das minhas próprias escolhas. Leonardo atirou. Romana também. Julian também. Três tiros. Dois destinos. Mas somente um acertou seu alvo.

Ele caiu no chão imediatamente. Assim como eu. Mas fiz meu papel. Prometi a mim mesmo que daria minha vida se fosse preciso. Senti o sangue em meu peito. A imensa dor do tiro. Minha visão já estava ficando nublada. O tiro foi em direção à Romana, mas eu impedi seu curso quando joguei-me na frente do fogo cruzado. A bala me atingiu, e agora me encontro caído no chão, sendo socorrido por meus amigos.

Romana chora em cima de mim, eu tento falar mas não consigo, sinto-me fraco demais.

"Ele está morto!" Julian grita. "Porra! Ele morreu!" Nesta hora meu corpo já cansado respira em alívio.

Leonardo Dal Ri está finalmente morto.

Ouço Miranda falando com a polícia e com a emergência, enquanto os demais continuam atordoados. Romana segura minha mão, alisa meu rosto, ela está tremendo.

"Não me deixa Félix...não me deixa..." Ouço sua súplica, e tento responder, mesmo que isso me custe um esforço sobrehumano.

"Não chora Rom...eu te amo..." Falei baixinho, esperando que ela escutasse, o que acho que deu certo, pois no mesmo instante vejo-a sorrir um pouco, mesmo em meio às lágrimas.

"Eu tambem te amo bebê...fica comigo...não me deixa por favor..." Nunca antes experimentei tanto medo quanto agora.

Sentia medo de morrer. De deixa-la sozinha.

Ouvi sirenes e barulho altos de várias pessoas desconhecidas, mas não conseguia me mexer. Sentia-me fraco, e meus olhos se fecharam antes que eu pudesse tentar dete-los. A última coisa que ouvi antes de apagar era o choro de Romana, me implorando para ficar.

Eu vou ficar Rom. Eu prometo.

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