19/11/2020
Millie Bobby Brown
O grande dia havia chegado. Era sábado, o dia do acampamento e eu estava em meu quarto, vendo se minha roupa estava boa. Eu estava com uma blusa regata branca e uma leggin preta, bem básica, mas era uma roupa bem justa que marcava bastante minhas curvas. Meu cabelo estava liso e eu não passei maquiagem. Realmente não estava animada para aquilo, ia apenas por Ava. Depois de me "aprontar", desço. Minha mãe estava dando uma olhada nas barracas, vendo se estava tudo certo, Eric estava na lenha, Finn obviamente não tinha descido ainda e Ava corria por aí, toda feliz. Confesso que meu coração ficou quentinho vendo ela correr pelo quintal, a luz do pôr do Sol batia em seus cabelos louros e ela ficava ainda mais linda.
— Mills, é daqui a pouco!! — Ela vem em minha direção e diz, empolgada. Dou meu melhor sorriso.
— Millie, pode ver se as comidas estão ok? — Minha mãe grita. Faço um joinha com o dedo e vou para a cozinha. Os doces estavam em potinhos e as comidas como cachorro quente e salgadinhos, estavam em uma bandeja.
O Sol estava em seus últimos raios, o céu já estava em um azul bebê bem fraco, prestes a ir para um marinho. Os troncos já estavam posicionados em volta da fogueira. Ainda estava na cozinha, agora com meu olhar fixo em algum ponto aleatório, eu estava pronta para aquilo? Sim, eu estava. Eu sou forte e eu já superei. Eu preciso ter superado.
— Distraída? — Um voz atrás de mim surge, me fazendo dar um mini salto. É, eu conhecia aquela voz e eu não vou admitir pra mim mesma que era a que eu mais queria ouvir naquele momento.
— Um pouco? — Sorrio.
— Quanto doce. — Ele encara a bancada cheia de potes com doces.
— Quer? — Pego uma jujuba.
— Não, doce demais.
— Ah qual é, da uma chance pra ela. — Brinco.
— Não, ela não vale a pena. — Ele brinca e volta.
— Não vai descobrir se não experimentar. — Ele começa a rir. Amava aquele som. Amava.
— Qual é a graça, Wolfhard? — Digo, confusa.
— Millie, olha a frase de novo. — Faço o que ele pede e entendo a malícia na minha frase á uns minutos.
— Promíscuo!! — Grito e ele ri mais. Pego a jujuba e enfio em sua boca. Ele quase engasga mas come. É a minha vez de rir.
Minha mãe aparece na porta.
— Podem vir, está na hora! — Ela avisa e sai, deixando a porta aberta.
Respiro fundo, Finn percebe minha tensão.
— Não vai ser tão ruim. Vem. — Ele diz, em consolo e coloca uma das mãos em meu ombro, me guiando, eu deixo.
Nos sentamos em frente a fogueira e começamos a conversar. Ava amava cada momento, era até meio contagiante. As barracas ficaram divididas, eu dormiria com Ava em uma, minha mãe e Eric em outra e Finn sozinho. Eu estava ao lado dele em um tronco, minha mãe estava em outro do nosso lado, entre Ava e Eric.
Quando já havia escurecido totalmente, acendemos a fogueira, deixando um clima confortável, mas não pra mim.
Ava queria fazer aquela cena de filme em que nós cantamos em volta da brasa, mas ninguém ali cantava, Eric até mencionou que Finn canta — me deixando bem surpresa — mas Finn o fuzilou com o olhar e ele ficou quieto. Cantamos alguma música infantil de Ava e comemos.Começou a esfriar e Eric foi dentro de casa pegar cobertores.
— Acho que já vou entrando na barraca, gente. Ava está caindo de sono. — Minha mãe diz assim que Eric chega trazendo as cobertas. Ele me entrega a minha peluda vermelha e a de Finn é grossa preta.
— Oh. Tudo bem, não estou com sono ainda. — Respondo.
— Ava pode ficar conosco, ela é tão pequena que nem vai fazer diferença.
— Não mãe, tudo bem, eu fico com ela, era o combinado...
— Bobagem. E ela não vai ficar sozinha na cabana, você sabe que ela tem medo. Fique tranquila. — Suspiro e cedo. Eles três entram em uma só barraca e a fecham. Fico só observando, realmente pareciam uma família, tirando eu, claro. E outro cacheado que eu cheguei a esquecer que estava do meu lado. Estávamos á sós.
— E então, vai me contar alguma história? — Brinco.
— Eles parecem uma família, né? — Ele comenta, sério, olhando fixamente para a cabana deles e falando exatamente o que eu pensei. Encaro o chão e respiro fundo.
— É. Parecem. — Ele finalmente me encara e vê minha expressão, de repente a sua mudou, como se ele se tocasse do que tinha falado.
— Merda, desculpa, eu sei... — Ele diz, rápido e desesperado. — sei que te afeta. — Agora ele olhava pra baixo. Estávamos com os cobertores nas costas, assim tapando todo o corpo, como um casulo.
— Tá tudo bem. — Respondo. — E... parece que te afeta também. — Encaro seu rosto, suas constelações embaixo dos olhos, a imensidão negra neles, seus cabelos volumosos e negros, alguns cachos caíam na testa. Seus lábios estavam mais avermelhados que o normal e pareciam tão macios... só a luz alaranjada da brasa da fogueira iluminava seu rosto, o deixando ainda mais bonito, se é que isso é possível. Ele me encara também, aparentemente tentando guardar cada parte do meu rosto, como eu estou fazendo com ele.
— Como você está lidando com isso agora? — Ele pergunta.
— Eu... não sei. É difícil e eu não sei se odeio meu pai ou se estou o "protegendo" já que isso é uma tradição nossa, eu não devia, eu devia seguir em frente, ele não está mais na minha vida, eu... — Digo tudo num fôlego só é Finn acaricia meu braço.
— Ou, calma. Respira. Conversa comigo. — Ele me olha e eu sei o que ele quer dizer. Estava pronta pra falar disso com alguém? Nem Sadie e Noah sabem os detalhes... eu devo? Sim, eu devo. Eu devo por que eu confio nele. Não interessa se eu o conheço a dois meses e isso me assusta. Eu o conheço a dois meses e confio as vezes mais do que na minha mãe. Eu gosto de conversar com ele e eu sei que ele é tão fodido quanto eu, eu sinto que ele vai me entender. Ele mostrou que se preocupa comigo.
Respiro fundo, antes de ajeitar minha postura, esquecer os contras e finalmente soltar tudo o que eu guardei por anos:
— Meu pai sempre foi um homem difícil, minha mãe se casou com ele com apenas vinte anos e uns meses depois ela engravidou de mim, meu pai, apesar de ser difícil nunca foi abusivo, meio controlador? Pra caramba, eu me lembro, minha avó já me disse que ele surtou quando minha mãe descobriu que estava grávida, que ele não estava pronto pra ser pai e que não me queria. — Sinto meus olhos arderem. — Com um tempo ele foi se acostumando com a ideia e quando eu nasci eu lembro dele como um bom pai, não excelente muito menos presente, mas ele tentava. Apesar disso, ele sempre discutiu com a minha mãe. Passei a minha vida toda ouvindo gritos. — Sinto a mão de Finn nas minhas costas. — Até que um dia, eu não sei exatamente o que houve mas ele começou a beber. E bebia descontroladamente, chegou a ficar de coma alcoólico. E óbvio que se tornou mais agressivo que já era. Chegava tarde na noite cheirando bebida e ia arrumar briga com a minha mãe, e como sempre acabava com ela apanhando e a casa uma bagunça. Vidros quebrados e mesas reviradas. Eu ficava no andar de cima, sozinha. Eu não tinha ninguém por mim, Finn. Eu ouvia minha mãe gritar e não podia fazer nada por que se não ele me bateria também. — As lágrimas começaram a cair e ele coloca seu braço ao redor de meus ombros, me confortando. — Já até tentei, mas minha mãe me proibia, claro, e eu sempre fui medrosa então nem tentava. Só era... perturbador ouvir tudo acontecendo lá embaixo e não poder fazer nada. — Limpo as lágrimas. — Quando ele ficava sóbrio, era praticamente outra pessoa. Era agressivo e controlador mas um bom pai, como eu disse. Fazíamos esses malditos acampamentos todos os anos, até um dia ele decidir se separar da minha mãe. Ela o amava demais e estava cega na época, cega por ele, então, engravidou de Ava para o segurar. Nesse tempo ele ficou tão irritado quando ela disse que estava grávida, que ia matá-la de tanto bater e com certeza a faria perder o bebê. Então, eu já era um pouco maior e entrei na frente, ameaçando ligar para a polícia. Ele quase me bateu mas eu estava com o telefone na mão, então ele só derrubou a mesa e saiu. Eu já sabia da gravidez e fiquei muito feliz, afinal sempre quis uma irmã e Ava até hoje é um anjo na minha vida. — Sorrio ao lembrar da minha irmãzinha. — Ele ficou bêbado e bateu num cara aquela noite, lembro que ele ficou até dois meses preso.
Como você pode ver, Ava não o segurou, ele foi embora depois de ela completar um ano. — Terminei. Sinto um peso tirado de minhas costas.
— Eu... sinto muito, Millie. — Ele diz. Da pra ver pela sua voz que ele realmente sente.
— Tá tudo bem. — Fungo. — Já passou.
Ele cobre minhas mãos geladas com as suas quentes.
— O que... Houve com sua mãe? — Reluto ao perguntar. Ele suspira e me encara.
— Eu... Millie, eu...
— Tudo bem. — Encaro a escuridão a nossa frente, a parte que não estava sento iluminada pelo fogo. Ele novamente suspira.
— Obrigado.
— Você não é obrigado a se abrir.
— Não é sobre isso. — O encaro. Ele continua encarando o vazio. — Quando eu tinha onze, minha mãe descobriu que meu pai a traia com a secretária. Aquele desgraçado provavelmente fazia aquilo a um bom tempo. Ela não disse nada pra ele, mas eu via ela chorando. Acho que achava que se não falasse, era uma forma de se convencer que não era real. Ela era obcecada por ele. Então, depois de um tempo, meu pai continuava fodendo a secretária no escritório enquanto minha mãe se remoía. Naquela época eu encontrei uma seringa nas coisas dela. Eu sabia o que ela colocava nela.
Minha mãe estava se drogando, era difícil acreditar nisso e foi um baque para uma criança de treze anos. — Estou chocada. Aperto mais suas mãos quentes que aqueceram as minhas. — Não contei a ninguém, mas mais ou menos um ano depois, minha mãe estava péssima, magérrima e com olhos profundos, ver ela daquele jeito me matava, meu pai começou a desconfiar e ela confessou que se injetava. Nessa época eu comecei a fumar e comer qualquer garota que eu visse pela frente, era uma forma de fugir da realidade.
Meu pai, então, prometeu parar de foder a secretária se ela parasse se se drogar, como se fosse simples assim. Ela logo considerou, mas é óbvio que não deu certo. A princípio ela "parou", ou fingia que parava e meu pai acreditava mas eu não. E eu já tinha me fechado para o mundo, então agia como se não ligasse. Mas eu ligava, Millie, muito. Minha mãe estava praticamente morrendo na minha frente... — Sua voz falha e eu vejo que ele está se segurando muito pra não chorar. O abraço de lado e ele respira fundo antes de continuar. — enfim, a mais ou menos um ano atrás meu pai se separou dela pra ficar com a secretária que ele costumava comer. Eu fiquei com a minha mãe, ela ficou muito, muito mal, óbvio, e começou a se drogar demais, até ela ter uma overdose. — Arregalei os olhos, ele continuava apenas encarando suas mãos e naquele momento eu descobri seu ponto fraco. — Cheguei de uma festa e ela estava no banheiro desacordada, pálida como um papel. Foi a pior coisa que eu já vi e aquela cena ainda me assombra. — Seus olhos finalmente se enchem d'água e eu desejei o poder de o proteger de todo o mal. — Aquele porta-retratos que você quebrou, era ela que estava na foto. — Ele diz e meu coração se aperta e automaticamente uma onda imensa de culpa me atinge e eu me arrependo de ter brigado com ela por conta daquilo. Meu coração se aperta mais ainda.
— Finn... me desculpa, de verdade, eu não sabia...
— Tudo bem, tudo bem. Você não sabia.
— Não posso deixar de me sentir culpada, eu posso consertar....
— Não, eu já consertei, não se culpe.
— É claro que eu me culpo. Eu fui uma estúpida! — Me surpreendo por o olhar pra ele e seus lábios estarem um pouco contraídos para cima em um sorriso.
— É essa pureza, essa luz, esse seu jeito que está me salvando, sabia?
— Como? — Eu? O salvando? Eu nem sei salvar a mim mesma.
— Liguei pro hospital de reabilitação, meu pai ficou sabendo e ele a internou lá. Logo depois ele terminou com a secretária, por sei lá, culpa ou talvez ela estava ficando com outro homem casado, mas eles terminaram. Ele conheceu sua mãe em uma viajem a trabalho pra cá e nós nos mudamos. Ela está internada até hoje. — Ele termina e um silêncio se instala. Nós estávamos apenas nos abraçando. — Eu não fazia ideia do que você tinha passado, me perdoa de verdade por ter falado do seu pai. — Nego com a cabeça, sorrindo.
— Me perdoa de verdade por ter quebrado o seu porta-retratos. — Ele sorri também.
— Você é tão fodida quanto eu e tem essa luz tão pura, como consegue?
— Não passei por tanto quanto você.
— Passou, sim. Você é forte pra caralho, Millie. — Sorrio e encosto minha cabeça involuntariamente em seu peito.
— Você também é, Wolfhard.
— Só quero dizer que com toda essa merda, eu acabei virando um babaca. Me perdoa por ter descontado isso em você, Millie, por todas as vezes. Eu estou tentando ser melhor. E obrigado. Obrigado por ter me feito perceber o quão idiota eu estava sendo, você pode não perceber mas você me salva. Desde que eu cheguei nessa casa e conheci você eu tenho progredido, eu acho...
— Sim.
— Sim o que?
— Você progrediu.
— Você acha? — Levanto minha cabeça e olho pra ele.
— Eu tenho certeza. — Estávamos muito próximos, ele me olhava dentro dos olhos e eu começo a ver os seus lacrimejarem de novo.
— Desculpa, desculpa, é muito recente.... Ver minha mãe daquele jeito e internada por causa do porra do meu pai... — Uma lágrima escorre e ele para de ser o bad boy e vira um garotinho, um garotinho sentindo a falta da mãe, um garotinho que eu queria proteger.
— Shh... Pode chorar, tá tudo bem...
— Eu sou uma bagunça... — Olho em seus olhos molhados.
— Eu acho que nós dois somos uma bagunça. — Falo, baixinho.
Ele deita sua cabeça em meu ombro e eu acaricio seu cabelo.
— Essa é a sua noite de merda e eu a enchi mais ainda com as minhas merdas, desculpa. — Não posso evitar rir um pouco pela sua fala absurda.
— Você salvou minha noite de merda, Finn.____________________________________
minha glicose subiu muito de tanta melação esse capítulo possui, mas enfim....vcs só pensam em hot hein
quem pegou a referência de after????
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my stepbrother | fillie
FanfictionOnde a vida de Millie Bobby Brown muda quando o namorado de sua mãe vem morar em sua casa com seu filho, Finn Wolfhard, um bad boy inconsequente. E seu maior desafio vai ser conviver com um menino que ela odiava. Ou pensava odiar.