𝖼𝗁𝖺𝗉𝗍𝖾𝗋 𝖨𝖷

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Ouço o despertador tocar e abro os olhos lentamente, pego o aparelho para desligar o som e vejo a hora, ainda eram oito e hoje era sábado. Coloco o celular no criado-mudo novamente e volto a fechar os olhos.

Quando acordo novamente eram nove, é, aparentemente não vou conseguir dormir mais.
Levanto da cama e vou para o banheiro. Olho no espelho e meu rosto ainda está levemente inchado devido às lágrimas de ontem. A noite passada foi... difícil. Ele me trouxe até em casa e me levou até meu quarto, simplesmente. Posso ter certeza de uma coisa, ele estava estranhamente "carinhoso" e preocupado, ele não estava como sempre, não estava rude nem nada. Antes de dormir ele disse para eu ficar tranquila que ele estava ali e ninguém ia me machucar. Eu gostei e foi estranho, por que eu realmente me senti segura. Não sei o que vai acontecer agora, como nós vamos estar.
Decido tomar um banho, então o faço.

Desço, já pronta, vestia uma blusa estilo t-shirt verde água e um short alto. Meus cabelos estão soltos e mais lisos que o normal.
Quando desço, minha mãe estava colocando a mesa, sozinha. Ela usava um tipo de roupão.
— Bom dia, filha. Dormiu bem?
— Sim. — Não menti. A noite em si foi horrível, mas meu sono, não. — Quer ajuda? — Pergunto em relação a mesa.
— Não, já acabei. — Ela coloca uma faca na mesa e se senta. Faço o mesmo.

Alguns instantes depois, Eric desce, assim como Finn. Eric fica do lado da minha mãe e Finn se senta do meu, me deixando surpresa. Ele percebe que eu o encaro e me olha de volta.
— Está bem? — Ele pergunta e se ele não estivesse olhando em meus olhos eu acharia que ele falava com outra pessoa.
— Sim, estou. — Sorrio. Ele sorri de lado e nós continuamos nos encarando, até esqueci que tinham outras pessoas na mesa. Olho pra elas, que nós encaram confusos pela nossa interação "repentina". Eu e Finn voltamos a comer e eles fazem o mesmo, sem dizer uma palavra.
— Mãe? — Ava aparece momentos depois na escada.
— Oi meu amor, bom dia, vem cá. — Ela desce totalmente e se senta na cadeira ao lado vazio da minha mãe.
— Mamãe, lembra daqueles acampamentos que nós fazíamos antes do inverno, antes do papai ir embora? — Ava solta e eu arregalo os olhos.
— Você se lembra disso, Ava?— Minha mãe parecia tão desconfortável quando eu, não falávamos muito do meu pai e não fazíamos aqueles acampamentos a quase seis anos, Ava participou de apenas um, já que ele foi embora quando ela estava pra fazer dois. Lembrar daquilo me revira o estômago.
— Não me lembro, mas a Millie já me contou. — Eu odiava falar do meu pai, especialmente pra Ava, mas uma vez eu toquei no assunto sem querer, então tive que falar, mas óbvio que eu guardei os detalhes pra mim.
Minha mãe olha pra mim e eu encolho os ombros.
— Lembro sim, Ava. Por que? — Ela volta seu olhar para minha irmã.
— Agora que eu tenho um novo pai, nós podíamos fazer, né? — Engasgo. Minha mãe olha pra Eric, que não demonstra reação. Finn nem parecia estar ali.
— Ava, eu...
— Por favor, eu não lembro de quando participei, só queria sentir como é ter um pai... — Ela interrompe minha mãe, que parece se comover. Meu coração também se aperta.
Minha mãe olha para Eric, que faz um sinal com os ombros como se não se importasse. Ela suspira antes de olhar pra Ava e dizer:
— Okay, tudo bem. Faremos isso. — Eu engasgo e Ava pula para o pescoço da minha mãe, a abraçando. Fico calada.

Depois do café, minha mãe pede para Eric nos deixar a sós, pra falar sobre o "acampamento", imagino.
Ela leva os pratos para a lavadora e eu levo as canecas. Ficamos em frente ao balcão.
— Mills, vem cá. — Ela me chama enquanto eu guardava o queijo. Fecho a geladeira e me aproximo, ficando de frente pra ela.
— Sei que pode ser difícil, imagino que sinta falta do seu pai...
— Não sei como me sinto em relação ao meu pai. — A interrompo. Ela me olha, esperando uma continuação. — Eu sei lá... sinto falta dele mas não o quero por perto pelo que ele fez conosco. — Admito e ela me olha com compreensão e passa a mão pelo meu cabelo.
— Eu entendo. Você... acha que tudo bem fazer o acampamento? Ava não conheceu o pai, praticamente e...
— Claro, mãe. Ela merece. — Tento sorrir.
— Obrigada por compreender, amor. — Diz e me abraça.

Estava subindo de volta para meu quarto, quando vejo a porta do quarto de Finn aberta. Me aproximei mas imediatamente lembrei da última vez que entrei em seu quarto. Quando cogitei me afastar, vi ele. E ele me viu.
— Procurando algo? — Sua voz ecoa.
— É... não. A porta só estava aberta. — Minha voz era trêmula por conta do nervosismo.
— Tá tudo bem. — Ele sorri de lado e encosta no guarnição da porta.
— Hm... obrigada por ontem.
— Não me agradeça. — Ele pisca e eu sorrio. — Você... dormiu bem? — Ele pergunta, claramente desconcertado.
— Sim. Você?
— Claro. — Ele murmura e eu não senti tanta verdade assim, mas não questiono.
— E o acampamento? Animado?
— Que merda é essa? — Ele questiona mas não parecia que ser rude foi intencional, ele estava só curioso.
— Quando meu pai era presente, era tradição fazermos acampamentos no quintal antes do inverno.
— Mas aqui não neva.
— Eu sei, mas o inverno não é quente. — Sorrio, convencida. Ele levanta as sobrancelhas, como se concordasse.
— Quando vai ser?
— Nós fazíamos no meio de novembro.
— Oh.
Um silêncio se instala, nós apenas nos olhávamos. O que está acontecendo comigo?! E por que eu estou achando meu meio-irmão mais atraente do que antes?
— Eu... vou sair. — Ele solta e eu acordo do transe.
— Oh, sim, claro. Eu... vou pro meu quarto. — Ele sorri e eu me viro, entrando no meu quarto e fechando a porta atrás de mim.
Respiro fundo e me jogo na cama, feliz que nós estávamos "normal" de novo. Não estávamos?

my stepbrother | fillieOnde histórias criam vida. Descubra agora