Capítulo 20

1 0 0
                                    

Estou desesperada.

Eu preciso do cachê que não vou mais receber. Tenho contas a pagar. Contas atrasadas. E tinha a expectativa de fazer uma pontinha no próximo comercial da marca. Nem se aparecesse apenas meus olhos ou minha boca na propaganda iria realizar meu grande sonho de aparecer na TV. Mas tudo foi por água abaixo por conta de um maluco com sotaque italiano que acredita em almas gêmeas. Tudo o que quero sentir dele é raiva, mas não consigo. Sinto acolhimento. Sinto um pertencimento muito forte. Nunca senti nada semelhante. Ele caminha comigo com o braço nas minhas costas até a rua. Ele respeita o meu silêncio e não diz nada.

Chama um táxi para mim, e antes de abrir a porta e pagar a corrida como que querendo se redimir ou simplesmente ser cavalheiro, ele aponta o dedo para o centro do meu peito e vai subindo lentamente até o céu, onde há algumas estrelas, e diz:

- Das profundezas às alturas, tudo isso graças ao seu brilho próprio.

Mais uma sandice. Ele só diz sandices. Não tem abraço. Não tem beijo. Não tem mais palavra alguma.

Vazio. Uma sensação de vazio. Agora sim cheguei ao fundo do poço.

Estou no banheiro da casa da minha mãe, onde moro. Tomo um banho quente, embora o chuveiro não esquente muito. Aii! Lembro que eu não sei sequer o nome do italiano. Sou idiota, não perguntei com ele se chama. E pior que ele sabia o meu nome. Ele me chamou de Luísa. Como? Será que foi uma armação?

Estou assustada. Intrigada. Revoltada. Não dei contato algum meu para ele me passar as fotos. Não acredito! Tudo isso para nada. Sacrifiquei-me à toa. Corro ainda toda molhada em busca do blazer dele, confiro os bolsos, mas não encontro cartão ou informação alguma, apenas a fragrância de um perfume que não conheço, mas que me parece tão familiar. Não consigo identificar e nem deixar de cheirar.

- Quando eu contar até cinco você vai acordar. Um, dois, três, quatro, cinco. Acorda Luísa. Acorda!

Luísa, sentada no sofá alaranjado, abre os olhos ainda anestesiada e diz:

- Eu sinto o perfume dele em mim. Eu sinto. É tão intenso... e gostoso. Aí, como é bom viver isso de novo, sentir tudo outra vez.

Luísa cheira seus braços e faz cara de prazer.

Romance PartidoOnde histórias criam vida. Descubra agora