O gatinho malvado e a dona masoquista

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Eiri

Lavo a louça e um homem vem até mim.
-Mais veja só..
Eu olho para ele com interrogação.
-Você é o Eiri yuki não é. O romancista.
Eu o olho muito sem graça.
-É..
-Que honra conhecê-lo. Quem diria que um grande empresário como você  está aqui, em minha frente.
Ele aperta forte minha mão molhada com sebão.
-Caramba estou tão lisonjeado..
Mordo minha própria língua, impedindo que o deboche saia.
Ele me sacode por alguns momentos.
Madalena entra na cozinha.
-Ei posso saber o motivo de tanta empolgação?
-Porque colocou ele pra lavar a louça, você sabe quem ele é?
-Claro que sei, Andrew Foster, casado com minha filha, não te falei?
-Eu fui no casamento de vocês ( interrompo )
-Poxa e eu nem vi..
-Saímos rápido.
Aperto a bucha para aliviar o estresse.
-Bom. Não acho certo você fazer as tarefas de casa, afinal você é uma visita.
-É..
-Ele não se importa, Eiri gosta de ajudar a as pessoas.
Olho pra ela com ranço e Raward ri.
"Velha maldita"
-Quantos filhos você tem?
"1, 2, 3, 4.."
-Deixa o Eiri terminar o trabalho dele.
Madalena da bronca em seu marido.
Mais tarde a louca da minha sogra decide ir comigo as compras.
-Ahh não.
-Porque não?
-A senhora vai levar fígado?
-Qual o problema é bom pra não dar anemia.
Só de ver aquilo minha bile sobe.
Ela coloca salsichas, e vai até umas bandejas de presunto.
-Achei que eu iria escolher as compras.
-Não você não sabe de nada.
Ergo as sombracelhas e ela sai andando com o carrinho.
-Óleo..
-Leva azeite, mais saudável.
-É ruim garoto, já falei que não vou levar.
-Ai esqueci da mussarela..
-Eu pego.
Olho o queijo branco e a mussarela.
Jogo no carrinho.
-Que isso?
-A senhora se mata na gordura e eu fico com meu queijo saudável.
Ela me bate.
-Ai..a senhora ficou maluca?
-Devolve agora!
-Eu vou paga, a senhora tá me negando um queijo?
-Não quero que pague. Eu tenho dinheiro, só acho ruim essas comidas light.
-Quer que eu faça um parafuso ao molho branco e uma lasanha de berinjela?
Ela ri.
-Que nome mais difícil.
-Vai por mim é maravilhoso.
Ela puxa meus olhos para baixo.
-Tá com um pouco de aneima.
Ela me bate.
-Heii..
-Você não toma sol não seu merda.
-Que isso..
Ela sai andando e resmungando sozinha.
-Nossa eu dava tanto disso pra meus filhos..
Ela me mostra os potinhos de papinha da Nestlé.
Penso como deve ter sido difícil a vida de Irina sem mim, por 7 anos.
Sinto alguém puxar minha calça.
Quando eu olho é um bebê que me estende uma flor.
-Pra mim?
A garota coloca em minha mão.
"O que eu vou fazer com essa porcaria?"
Me agaicho, e coloco atrás de sua orelha. A menina ri para mim, toda vergonhosa, e me abraça.
Eu não retribuo, tomo um choque com aquela reação.
"O que tá acontecendo?".
Uma moça no celular corre até mim.
-Ai desculpa, perdão...
Ela pega firme na mão da filha.
-Tudo bem.
O pai aparece.
-Atirada ela, né?
Ele brinca.
-Pois é, essa vai da trabalho.
-Ela sumiu, que bom que estava com você.
Eu faço que sim com a cabeça.
-Dá tchau pro moço.
Ela me olha e se agarra na mãe com vergonha.
-Olha que safada, ela gosto do moço..
Eles saem.
-Ganhar uma flor de uma criança é muito simbólico.
-Ahh lá vem você com suas paranoias..
-Significa que você vai ter uma alegria muito grande.
-Ah claro... ( respondo sem interesse )
-Quem sabe pode vir até outro filho por ai né..
Ela joga.
Eu observo um homem nos olhando do lado de fora do mercado, ele vê que estou olhando e sai.
-Quando é que eu vou ter outro neto? Irie nem liga pra mim, aquele neto ingrato.
-Perai.
A deixo no mercado e saio atrás desse cara.
Mas ele não está mais lá.
-Filho da mãe. ( resmungo )
Passo a mão pelos cabelos, frustrado por não alcança-lo.
"Eu tô sendo vigiado, já descobriram onde eu tô, que inferno".
Volto até dona lena.
-Porque saiu assim?
-Sei lá achei que tinha esquecido algo.
Dona Lena diz baixinho pra mim.
-Sei que é um homem procurado Eiri, mas nem todo mundo quer prender você.
-Talvez você precise.. descansar.
-Não posso descansar. ( digo num tom ríspido e ela se cala )
Pego a berinjela, e mais alguns ingredientes.
-Ai se isso ficar ruim...
-Fica nada, eu sou bom em tudo, na cama, na cozinha..
Um senhor olha pra mim horrorizado.
-Que falta de respeito é essa!
Ela me dá um tapa no ombro.
-Eu perguntei da comida, não das suas atividades sexuais.
-Eu sou perfeito é a senhora que não aceita.
Na volta pra casa faço o que prometi e dona lena é obrigada a admitir que ficou gostoso.
-E ainda fiz escondidinho de carne seca
-Precisava disso tudo?
-Ué vocês não gostam de carne? Então esse é forte e maravilhoso.
-Você come?
-Eu experimento, até porque se eu não provar, Não sei o gosto.
Ela me elogia com muito custo.
-Até que dá pra come..
-Fico feliz que assuma sua derrota.
Ela faz uma cara de madame nojenta.
Subo ao quarto de Irina. Que minha sogra me leva.
Todas as coisas dela ainda estão aqui.
-A coleção de livros de romance, os pôsteres de banda, o unicórnio de pelúcia. Ta tudo ai.
Passo a mão sobre cama com cochoado de unicórnios.
-Ela nunca me deu trabalho. Sempre foi quieta e vergonhosa.
Kate amava me ajudar, principalmente quando ela mexia em algo que não devia ou quebrava alguma coisa, e ela queria consertar, me ajudando.
Pego seu unicórnio de pelúcia. E depois vou até a estante.
-Eu sinto muita falta da minha filha.
-Eu entendo.
Dona Lena derruba uma lágrima.
-Ela era minha única companhia porque os outros só batiam perna, mas ela quase não saia de casa.
-Ela sofria muito na faculdade ( digo a dona Lena )
-É.. ela sempre teve  pessoas falsas e invejosas perto dela. A maioria não gostavam dela, porque  ela era muito boba e inocente das coisas ( ela seca as lágrimas )
Pego um livro de minha coleção que está ali.
Folheio aquele livro. Vejo partes importantes grifadas de amarelo e páginas marcadas com papeizinhos coloridos.
-Estudar ela não gostava não, agora ler essas porcarias de livros de filme, mangás, ela devorava.
-A senhora não desapegou dela mesmo, né?
Me viro para Madalena.
Ela segura os cotovelos sem graça.
-Você nem desarrumou o quarto dela, é como um museu aqui.
-Eu não tive coragem.
-Você sente que se desmancha esse quarto vai perder ela pra sempre não é?
Dou um passo pra trás e piso num cursinho que caiu da prateleira.
Quando eu olho para cima.
Tem dezenas de ursinhos, um do lado do outro.
-Parace mesmo um quarto de criança.
-Eu arrumo a cada mês. Tiro o pó e troco as cobertas. Ela tomava leite com canela todas as noites. Orava comigo antes de dormir. E beijava minha testa quando saia.
Dona Lena se senta na poltrona de ursinhos e chora.
-Sinto muito. Não queria tira-la de você.
-Bom.. eu odiava a ideia de vocês ficarem juntos mais, ela que quis isso.. é a escolha dela, não posso interferir. Mas quando ela me ligava chorando porque tinha brigado com você, doia sabe, doia muito. Mãe sente a dor do filho.
-Entendo..
Pego um lápis que tem cara de girava e o outro de ursinho panda.
-Ela gostava de tudo fofo, tudo com pelinho, e bichinhos e dei de tudo pra ela, e fico feliz por ter conseguido.
-Sua filha é maravilhosa.
Ela para pra me escutar.
-No dia que eu a conheci eu tentei me matar
Sento na beira da cama.
Ela põe a mão no peito.
-Mas ela tava lá.. num dia chuvoso eu estava farto da minha vida, era sufocante trabalhar de domingo a domingo, o dinheiro não era o suficiente pra me manter feliz. Eu sofria muita pressão, eu não poderia errar. Eu sempre tive que ser a pessoa perfeita. Até que eu surtei, fui a um bar escutar uma música e era ela quem estava tocando, ninguém prestou atenção, naquele momento eu vi um pouco de mim nela. Mas eu não pudia voltar atrás, então peguei o carro, acelerei e quando vi uma menina correndo eu brequei. Eu queria morrer mais não levar alguém comigo.
Eu derrapei o carro e ela ficou ensopada.
Ela estava desnoreada, parecia estar fugindo de alguém.
E eu briguei com ela, mas me senti bem por não te-la matado.
Dona Lena me olha hipnotizada.
-Eu nunca imaginei que essa menina iria me dar um propósito de vida.
Dona Lena se senta ao meu lado e pega na minha  mão.
Meus olhos se enchem de lágrimas e os dela também.
-É complicado meu filho, mais tem males que vem para o bem, deus pode ter mandado a kate pra salva você.
-Você e suas paranoias de destino..
Riu.
-Eu acredito muito em destino.
Ela se agaicha pra olhar em meus olhos.
Madalena aperta minhas mãos firmes.
-Todos temos um propósito e uma missão nessa terra, você precisa descobrir qual é a sua.
-Acho que é matar pessoas..
-Talvez seja proteger quem você ama.
-Eu nunca achei que me casaria ou tivesse família.
-Até um ogro é capaz de amar, qualquer um pode ser feliz. Eu achei que a kate fosse um câncer no meu ovário e não era.
Eu riu.
-Isso é mal.
-Você pode ter passado por situações difíceis mais pode supera-las fazendo coisas boas.
-É..
Ela sacode minhas mãos.
-Você não é diz que é o TODOOOO gostosão, o todo fortão. Então, você pode se libertar daquilo que te faz sofrer.
-Como?
-Perdoando a si mesmo.
Ela coloca o dedo no meu peito.
-Deixe a raiva, o orgulho, o egoísmo e o ódio de lado, seja leve. Não fique cismado com qualquer coisa. Lembra do que te falei no mercado?
-Lembro.
-Então. Nem todo mundo quer pegar, prender ou matar você. Quem sabe com  gentileza e humildade você passe a conquistar a confiança e o respeito a sua volta.
-Pode ser..
-Eu falei isso pra kate, mas ela nunca fez o que eu mandei. Na fase adulta, ela se revoltou contra mim. Me chamando de  controladora.
-E você é.
-Eu só queria protegê-la.
Uma espécie de luz vem na minha cabeça, aquelas palavras de dona Lena surgiram algum efeito em mim.
-Proteger..
A frase de dona lena martela em minha cabeça.
-O que foi filho.
-Então somos dois controladores.
Ela me olha com interrogação.
Eu riu.
-É o sujo falando do mal lavado.
Riu.
-Então.. ( ela quer uma conclusão )
-Eu também controlo a vida dela, com seguranças, rastreador, pergunto incessantemente aonde ela vai mesmo que seja só ao banheiro.
-Minha nossa senhora..
-É. Digamos que eu ganho de você nesse quesito.
Me levanto.
-Temos algo em comum. E olha que eu cheguei a duvidar disso.
-Se um dia você escostar a mão nela eu mato você.
-Jamais bateria em Irina, eu nunca faria isso. Dou minha palavra.
Ela me olha desconfiada.
-Quer dormir aqui hoje.
-Tem uns edredons da Barbie no armário. Se não se importar.
-Não me importo.
Antes de fechar a porta ela menciona.
-Está se saindo bem para uma pessoa qur descobriu que seu grande amor é sua irmã.
-Uma hora precisamos superar.
Eu digo a ela. E em seguida a porta se fecha.
Deito em sua cama pequena e não muito confortável. E algo me incomoda. Quando puxo, vejo que é o pônei de pelúcia.
-Ninguém vai ver se eu fizer isso.
Falo olhando para o unicórnio e acabo durmindo com ele.
Depois de passar 3 dias com dona lena.
Minha temporada na casa dela se encerra.
E volto para Tokyo.
Recebo intermináveis e-mails, convites para cerimônias de premiações, capa de revista, modelo de roupas e cuecas.
Dou uma olhada rápida em meu Instagram.
Zilhões de pessoas me marcando, mandando direct e até nuds.
"Esse pessoal passa dos limites"
Meu nome sempre está no site das fofocas. Uns até fazem vídeos falando que eu morri.
Meus livros ainda estão em alta. E estão sempre no top 10 de recomendações.
Meu fãs loucos curtem até se eu postar uma vírgula. Outros criaram que  mesmos hábitos que eu como, "beber pra cacete".
Abro minha bolsa e pego a boneca com braços e pernas feitos de tampa de garrafa pet. Seu corpo é a de uma garrafa de água. E sua cabeça é de tampa de amaciante. Seus cabelos de barbante colorido. O rosto é feito com tinta.
"Tão simples, mas tão simbólico".
Me lembro das palavras de dona Lena.

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