Eu preciso ficar vivo

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Eiri

Passado algum tempo, eu fiquei mais distante de Irina.
Eu estava sendo vigiado pela irmandade, e eu não sabia quanto tempo mais  me restava ali dentro. Eu pensei em diversas pessoas que me apagariam, mais não imaginava que seria Irina a fazer tal coisa.
Em uma noite que eu baixei minha guarda, em seus braços, completamente entregue. Irina até então uma menina frágil e manipulável, aplicou uma espécie de injeção em mim.  Questão de segundos, fiquei tonto, minha visão começou a escurecer e a única coisa que consegui escutar, foi:
"-Eiri me perdoa, é para o seu bem"
Na minha cabeça foi uma traição, mas na dela era um plano para me salvar.
Não contente Katharina, teve a brilhante idéia de me enterrar vivo e por pouco não morri de vez.
Mais é claro que Katharina não faria isso sozinha, ela pediu ajuda de Ash. Que além de  grande amigo dela, por sinal é meu "filho".
Eles me tiraram de lá na hora exata, e o plano acabou sendo um sucesso. Eles conseguiram me tirar da irmandade.
Voltando à realidade, fora de meus rancores e afins.
Lavo meu rosto na água fria olhando para um espelho velho e manchado de preto nas bordas.
Meus cabelos passavam um pouco dos ombros. Minha barba estava um pouco grande, porém aceitável.
Eu estava numa nova fase da minha vida, um novo eu.
Enquanto eu viajava na frente do espelho, amarrei meus cabelos loiros e grisalhos, num coque. Apoiei minhas mãos pesadas na pia, como se elas me sustentassem toda minha raiva.
Escuto batidas na porta daquele banheiro minúsculo e xexelento.
Abro, e dou de cara com Irina, com aquela barriga enorme, parecendo que engoliu melancia.
Eu não poderia deixá-la, não ainda, apesar dos pesares minha missão ainda era mantê-la em segurança por causa das bebês.
-O que quer?
-Estava falando só? Meus tios estão te chamando pra almoçar
"Ah é... me lembrei que estou no interior com uns tios pés de barro de Katahrina. A triste história de como fiquei pobre da noite para o dia, isso ainda tira meu sono"
-11 da manhã? Tô fora!  ( Respondo num tom ríspido )
-Então tá. Faça o que bem entender.
Ela se vira e sai, subindo as escadas numa lerdeza que só, apoiando na parede como uma velha de 90 anos.
-Já disse pra não ficar subindo e descendo essas escadas! ( imponho num tom autoritário ).
Ela se vira pra mim e sorri, eu continuo de cara fechada.
"como ela aguenta sorrir nesse fim de mundo, nessa vidinha miserável, aqui não tem nada além de um sol do inferno que racha o solo e insetos horrorosos".
Passo pela sala de jantar
-Não vai comer filho?
A tia fofoqueira dela me interroga com aquele olhar de sonsa.
-Não. Não sou costumado a comer com os galos.
Irina pigarreia
E o tio dela solta um riso com tosse.
Ele tem costume de falar só e se barbear todo dia cantarolando, é péssimo.
Sem falar num bando de pássaros que passam quase que toda hora fazendo o maior barulho.
Tudo nesse lugar me irrita, até o cheiro da terra.
Mais a tarde cai um "pé da água" como eles chamam.
Eu observo da janela.
-Eiri, você vai se acostumar.
Escuto um prato sendo posto na mesa de madeira
-Era essa a vida que você queria Irina? ( digo ainda olhando para janela de madeira, mal pintada de azul ).
-A chuva está tão gostosa, né Eiri..
-Você não respondeu minha pergunta.
-Eiri porque não quis comer aquela hora? Desse jeito você vai acabar..
-ME RESPONDE!
O trovão ecoa pela casa. E tudo se torna silencioso.
A luz finalmente apaga.
-Vou pegar um balde pra por na cozinha, e algumas velas..
Ela se refere a goteira, e a queda de energia, e eu continuo puto.
Olho para a mesa, ela tinha organizado algumas frutas colhidas durante a manhã.
Antes de ela abrir uma porta, que da passagem para ir ao quintal, avanço com minha mão para mantê-la fechada.
Ela suspira com pouco assustada.
-Me responde..
-Tira a mão da porta, Eiri.
-Então me responde.
-TIRA A MÃO DA PORTA!
Eu a viro contudo pra mim.
-Escuta aqui, não grita comigo não, eu não seu irmão, seu amigo e nem seu filho.
-Solta meu braço!
Outro trovão ecoa.
-Eiri estamos livres!
-Livres de quê? De quem? Eu sou um assassino procurado, eu acabei perdendo tudo pra aquele japonês avarento, minha empresa foi tomada e eu tive que vende todos os carros pra pagar os funcionários. E você ainda diz que está tudo bem? Uma hora ou outra alguém aparece aí e eu quero ver se...
Irina me dá um tapa fraco no rosto
-Presta atenção, estamos bem, Eiri , põe na sua cabeça! Estamos com saúde e vamos ter duas filhas lindas. O que mais você quer?
-Quero minha vida de volta.
Ela morde o lábio.
-Foca em nós, pelo menos uma vez.
-Não da Katharina. Eu nunca vou ter sossego
Ela respira cansada.
-Se quer ter uma vida sossegada, não deveria ter casado comigo.
Saio apressado em direção a porta principal e ela vem atrás de mim, me pedindo para esperar.
-Onde você vai? Olha esse temporal, Eiri! Você pode adoecer! E se um raio cair em você? Você nem conhece essa cidade direito..
-CALA ESSA BOCA!
Ela engole seco.
-Já falei, não sou seu filho e nem seu irmão, você não é babá e nem porra nenhuma, só cala a merda dessa boca.
-Me deixa ir com você então.
-Não obrigado, você é uma péssima companhia e eu preciso esfriar a cabeça. Aqui eu só vou me estressar mais.
Ela começa a chorar.
-Eiri.. você.. só precisa se.. acostumar
-Eu não nasci pra isso, e não vou me forçar a gostar pra agradar você.
Um carro passa e por pouco não nos da um banho d'água.
Me viro e saio pisando forte por aquela calçada ensopada de água com terra.
"nem morto eu me acostumo com essa droga, aqui é o próprio inferno".

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