Jang-mi
— E então?
— Hm? — desperto do devaneio que habitava na minha mente. — O que disse?
— Nossa, você estava prestando tanto a atenção no que eu estava dizendo — diz Kai, irônico.
— Desculpe, estou com muito sono. — bocejo discretamente. — Bom, eu não tenho muito o que falar sobre mim. Sou uma garota normal, com uma vida normal. Entrei pra essa escola por indicação do chefe do meu pai, se quer saber.
— E por que o chefe do seu pai faria uma indicação de grande valor assim? — pergunta, curioso.
— Porque tinha boas notas na minha antiga escola, não que eu não tenha nessa, mas lá eu era uma das cinco melhores da turma. — sorri.
— Olha, como ela é dedicada. — ele diz, sínico.
— E você? Como voltou pra cá? Lembro que disse que já estudou aqui antes.
— Ah, sim. Minha irmã me mandou pra Califórnia pra estudar no a Santa Rosa Junior College e também por uns casos de família, sabe. Mas isso não significa muito. O importante é que estou de volta.
— Você pelo visto é bem popular. Todos o conhecem. — digo, me aproximando da mesa para sugar o canudo do suco.
— É que a diretora do colégio já foi da minha família.
— A srta. Lee? — faço uma expressão espantosa.
— Não, a Han Ki-ae. A srta. Lee fica no lugar dela enquanto ela viaja a trabalho.
— Verdade, ela mal vem à escola. — fico pensativa — E por quê não é mais sua parente?
— Ela é a ex-esposa do meu pai e mãe da minha irmã. — confessa, dando uma mordida no mochi.
— Desculpa por entrar num assunto delicado, eu não sab- — ele corta a minha fala.
— Não tem problema, isso não significa muito pra mim. — assenti. — Se me der licença, vou me retirar, obrigado pelo seu tempo. Jang-mi, né?
— Sem problemas. Sim, Jang-mi. — sorri, concordando.
HueningKai
— O que vai fazer depois da aula? — Soobin pergunta, colocando seus livros no armário.
— Tenho que consultar a minha programação, mas provavelmente vou a empresa da minha irmã. — falo, fechando o armário ao mesmo tempo que ele.
— As coisas vão bem entre vocês? — pergunta, preocupado.
— Não sei, a gente não se fala muito, mas soube que ela saiu de casa.
— Não brinca?! Sua irmã? — diz Taehyun, em choque.
Concordo, mordendo o lábio.
— Não dá pra entender os irmãos mais velhos, parece que eles têm algum tipo de problema. Meu pai nunca deixaria eu sair de casa, mas já meu irmão... — Beomgyu fala, dando uma mordida na sua maçã.
— Eu acho que é tudo questão de tempo. Eles devem agir assim porque são mais velhos. — Yeonjun diz, e os outros concordam.
— Na minha família é um pouco diferente, porque meu pai é bem controlador. Ele até pôde deixar a Bahiyyih sair de casa, mas com certeza contratou alguém pra ficar de olho nela. Lembro que uma vez eles estavam discutindo porque ela estava se encontrando com um professor daqui, e meio que o papai não aceitou e proibiu ela de qualquer tipo de contato com ele. — conto, caminhando ao lado dos meninos pelos corredores da escola.
— Que horror! Será que o motivo foi porque ele é de uma classe mais baixa? — diz Beomgyu, abismado.
— Possivelmente, sim. — Yeojun diz por mim.
— Eles devem fazer isso porque querem que minha irmã se case com o filho de algum CEO de uma marca renomada para aumentar as ações da empresa. Duvido de que comigo seja diferente, apesar de eu deixar claro que não gostaria de seguir os mesmos caminhos que a tradição da família.
— E você acha que o seu pai vai permitir isso? — esse foi Soobin, que até parou de andar para ouvir a resposta.
— Não, porque estamos falando do meu pai, e quando ele coloca uma coisa na cabeça, é complicado tirá-la de lá. Queria que ele se tocasse de que não sou como ele ou como a minha irmã e a mãe dela, de todos daquela casa, sou mais parecido com a minha mãe, mesmo que ela as vezes se sinta culpada pelos comentários ofensivos que alguns fazem.
— Ainda aquela história de que você é filho de um relacionamento de amantes? — Yeojun arqueia a sobrancelha.
— Ainda. Essa parte é um pouco irrelevante pra mim, porque a última coisa que eu realmente queria era que meu pai adoecesse e eu tivesse que dar as minhas ações para a Han Ki-ae.
Chegando na sala, sentamos nas cadeiras do fundo, esperando o professor chegar na sala.
— Ei, Taehyun. — chamo o garoto que estava distraído — Você nem me contou, cara. Como se saiu no Suneung?
— Er... er... foi bom! — diz ele, aparentando estar nervoso.
— Você não vai contar a verdade pra ele, Taehyun? — Soobin o chama a atenção.
— Que verdade, gente? — fico assustado.
Taehyun suspira antes de dizer:
— É que eu não diz o Suneung. De propósito.— VOCÊ O QUE? — pulo do cadeira — Cara, como assim? Por que? Seus pais não te pagavam professores particulares por anos pra você fazer essa prova?
— É, eu sei. Pode até ter sido ingratidão da minha parte, mas eu não tava bem, ok? Tudo andou acontecendo muito rápido e eu não estava acomodando o ritmo, sem falar na tonelada de remédios que eu ainda tenho que ingerir por dia, isso acaba comigo.
Ouvindo o que Taehyun dizia, peguei um pouco de peso na consciência porque imaginei a pressão que seus pais o colocarem para ele realizar aquele exame. Além de eles não respeitarem o fato de Taehyun querer cursar jornalismo, e não administrar a empresa da sua família como herdeiro, ele acabara de passar por um episódio drástico de ter pensamentos suicidas e começar a tomar remédio para controlar isso.
Lembro que fiquei muito preocupado na época, e até cogitei voltar da Califórnia para passar um tempo com meus amigos, mas Taehyun não aceitou e disse que estaria bem até que eu voltasse de novo.
Não o questiono, nem o culpo, apenas me aproximo do mesmo e o abraço fortemente.
Glosário:
Suneung - uma abreviação de Teste de Habilidade Escolar em coreano, uma maratona de oito horas que paralisa o país para os estudantes fazerem uma prova. É estilo o ENEM do Brasil
VOCÊ ESTÁ LENDO
MIMADO | Hueningkai
FanfictionDepois de serem apresentados um ao outro numa escola de elite coreana, Hueningkai e Jang-mi descobrem que ambas famílias são amigas. Ele, que morava em Los Angeles, não imaginava que sua vinda a Coreia lhe ensinaria como se preparar para a vida adul...