Volta 반환

437 59 12
                                    

Hueningkai

Era só mais um final de semana como todos os outros: eu e os meninos, trancados no quarto o dia inteiro hora jogando, hora comendo ou dormindo. Minhas costas já imploravam por uma mudança de posição, me causando dor, e me deito com o travesseiro em cima do estômago, jogando os papéis para cima.

— Por que eu tive que nascer pra ser herdeiro disso? — resmungo, encarando o teto.

— Precisamos fazer alguma coisa. Ultimamente nossos finais de semana estão muito parados. — Yeojun diz, bufando.

— Se quiserem sair, então me ajudem a terminar essa droga de relatório. Fiz um acordo com a minha mãe, e ela não vai me deixar sair sem ao menos entregar isso pronto. — reviro os olhos.

— Cara, tenta falar com ela, a gente já tá na metade do ano, é o nosso último ano escolar e daqui a pouco, o Tae vai começar o processo de alistamento.

— Puts, verdade. Eu já tinha esquecido disso. — dou um tapa na testa, por lembrar.

— Ainda tá de pé, Tae? — pergunta, Soobin.

— Com certeza. Eu não desistiria facilmente, todos nós teremos de ir um dia, e eu só quero ir mais cedo, entende? — justifica.

— Tá fazendo o que, Beomgyo?

— Hum... nada demais. Algo vem me perturbando ultimamente e queria escrever um pouquinho, mas não sei ao certo o que é.

— É tipo um poema? — pergunto, curioso.

— É uma música.

— Deixa eu ver? — pede, Soobin.

Soobin toma o caderninho de Beomgyo, que estende para ele pegar, e ele começa a ler mentalmente, mas faz uma pausa para olhar para Gyo, que está roendo as unhas, em nervosismo.

— Caramba, isso daqui tá muito bom. Olha isso, gente! — ele levanta o caderninho pro alto e Yeojun toma das mãos dele, lendo em voz alta para todos nós.

"Parece que todo mundo está feliz, menos eu. Dói mais quando eu sorrio do que quando eu choro. Embora eu tente aguentar todo dia, embora eu tente resistir. Não está dando certo. Eu preciso da sua mão agora."

— E em qual ritmo isso é cantado?

Gyo canta essa para da música para nós, baixinho, como se estivesse tímido por mostrar sua mais nova criação.

— A batida tá ótima.

— A gente pode adicionar mais coisas? — Soobin pergunta, receoso.

— Claro! — reponde animado, quase pulando na cama.

— E se a gente fizesse algo como se o refrão da música convidasse para uma fuga mágica, fazendo referência à plataforma 9 e 3/4 de Harry Potter? — Yeojun sugere.

— Um lugar que só pode ser acessado por aqueles que conhecem o segredo.

— Sim! Essa metáfora serviria para ilustrar um mundo onde o eu lírico e seu amigo podem escapar das dores do mundo real. — era como se tudo estivesse se encaixando, e de repente, o tédio havia passado e estávamos muito empolgados com a música.

— "Bibidi babidi, o trem está partindo" — canto, no mesmo ritmo que Beomgyo cantou do início da música.

— "Bibidi babidi, para o nosso reino mágico." — Tae completa, fazendo todos nós rir e bater palmas.

Isso! E se a gente fizesse tipo, de verdade, essa música e falasse com alguma equipe pra gente gravar um clipe? — Gyo sugere, com um riso soprado implicante.

— Do nada a gente vai largar a faculdade pra virar Idol? — brinco.

— Não, não é bem como se fossemos ser Idols, mas é pra ter uma memória do nosso ensino médio, sabe? Essa aproximação com a vida adulta deixa qualquer adolescente assustado e a gente só pensa em desistir de tudo e fugir. É como se a criação dessa música fosse nossa válvula de escape.

— E não tem nada mais justo do que gravarmos isso na escola. — sugere, Tae. E por um minuto, penso que será o seu último registro antes de raspar o cabelo.

— Concordo.

— Soobin, você conhece pessoas que mechem com esses equipamentos de gravação, né? — ele assente. — Fica encarregado de entrar em contato com eles e fechar os negócios, por favor?

— Sim. E você, já que tem parentesco com a direção, tenta pedir a diretora pra gente usar a escola pra gravar, porque tem essa pegada de direitos autorais e o fardamento, né?

— Vou falar com a Srta. Lee amanhã. — assinto, respondendo mais devagar.

— Ok, eu acho que tá tudo certo, gente.

— Vamos nos concentrar em terminar a música, então.

Todos voltam às suas atividades normais, e Gyo não consegue tirar o sorriso do rosto, por tudo o que acabou de acontecer e termos apoiado e gostado da sua ideia, porém interrompo a calmaria daquele quarto, gritando:

— ESPEREM!

— O que? — respondem, em uníssono.

— E o meu relatório? Sem relatório, sem música, clipe ou que tiver aver.

— Me dá isso aqui. — Yeojun praticamente arranca o papel da minha mão, começando a ler e responder os questionários. Ele era bom no que fazia, e diferente de mim, os negócios da empresa do seu pai eram tratados como hobbie para ele, e não obrigação.

Ele não demora a responder, e nem faz questão de me devolver o papel, pois sei que está tudo certo e do melhor jeito, então coloca em cima do criado mudo e volta a acertar as questões da nossa música.

— Tae, você bem que poderia pagar coreógrafos pra gente, né? — pede Yeojun, fazendo uma carinha de cachorro pidão.

— E gastar a metade da minha mesada nisso? — debocha, Tae.

— Metade da mesada? Eu vou gastar ela toda com pagando o pessoal da gravação e edição. Deixa de ser pão duro. — reclama Soobin.

— Eu tava brincando. — esclarece, mas todos serramos os olhos, porque no fundo de toda brincadeira sempre há uma verdade.

— Gente, e o nome da música? — pergunto, desesperado.

— Temos que pensar nisso ainda, anota aí.

— E em qual canal a gente vai postar? — mais perguntas vão surgindo, e nos damos conta de que temos muita coisa para acertar ainda, se quisermos fazer dar certo.

— Ah, sei lá. Não é como se fosse fazer sucesso e a gente parasse a vida por causa disso, gente. Vamos só fazer por diversão e ver no que dá. Podemos postar em qualquer canal, até no da gravadora. — Gyo diz.

Quando acontece algo bom com ele, por exemplo, por mais que ele tenha absoluta certeza da sua capacidade e merecimento, algo lá dentro o desperta insegurança e o conta mentiras, tentando o convencer de que não merece nem é capaz de alcançar aquilo que deseja.

Que todas as pessoas ansiosas, como ele, sejam felizes.

MIMADO | Hueningkai Onde histórias criam vida. Descubra agora