A música soava alto pelos cantos da casa. Pessoas dançando, bebidas sendo distribuídas. Hueningkai volta para a mesma bancada que estávamos antes, trazendo consigo doces que conseguiu roubar da mesa principal.
Dei uma gargalhada, quando ele lança sobre a mesa os vários docinhos deliciosos e dou mais um golo no bloody mary.
— Definitivamente você tem um ótimo gosto para bebida.
— Eu te disse, meu gosto é impecável. — ele diz, trazendo a taça até os lábios e tomando mais um gole. — Come um docinho, também.
Obedeço, pegando uma trufa que fez quebrar um pouco do gosto do álcool. Não estávamos bêbados,
ele não deixaria, pois ficava me oferecendo água e comida o tempo todo, como se estivesse cuidando de mim.E reparando naquele rosto lindo que eu desprezei para Eun — talvez injustamente, ok, ok, eu sei — tantas vezes, me dei conta de uma coisa. Eu estava tão satisfeita quanto ele, se não mais. E não era só isso que tínhamos em comum. Nós dois estávamos fazendo um péssimo trabalho ao tentar esconder.
De alguma forma, pela primeira vez na história, nenhum de nós pareceu se importar com isso. Simplesmente continuamos ali, olhando um para o outro. Olhos nos olhos. Os dois lutando contra o que eu sabia que seriam sorriso triviais.
| | | |
Lembro de Hueningkai ter me trazido até em casa na noite da festa, já que Eun não queria sair da presença de Yeojun nem tão cedo. Teríamos aula no dia seguinte, o que me fez pensar em quão brilhante é a mente do Yeojun por dar uma festa no meio da semana, e ainda sabendo que teria que acordar cedo pela manhã para ir à escola.
Ou talvez não, já que a maioria das pessoas estariam de ressaca por hoje. Independentemente da minha situação, eu não poderia faltar hoje, pois tinha combinado com papai de que ele me deixaria ir à festa se eu fosse a aula no dia seguinte, como normalmente aconteceria caso eu não fosse.
Mas graças as distrações de Kai na noite de ontem, eu não acordei com nenhuma náusea pela manhã, só um sono absurdo que parecia que eu não conseguiria controlar, já que não dormi o suficiente pelo horário em que chegamos da festa. Mas sinceramente, não me arrependo de ter ido.
É claro que nada foi como eu imaginei, mas no fundo, eu sabia que minha melhor amiga jamais largaria tudo para ficar no tédio comigo, enquanto poderia ficar com um garoto que está fazendo de tudo para conquistá-la, afinal, nenhuma garota tem essa sorte todos os dias.
| | | |
Jina
— Cansou de ser rebelde e resolveu vir comer? — diz a mulher sentada sobre a mesa, enquanto tira o guardanapo do seu colo para limpar sua boca, me olhando cinicamente após este ato.
— E você ainda não foi embora? Me deu o desprazer de encontrá-la logo de manhã.
— Até quando vai me tratar assim? — pergunta ela, tão parecida comigo, como se fôssemos uma única imagem, porém nascidas em épocas diferentes, minha mãe.
— Até você cair na real e notar o papel ridículo que não só está fazendo, mas que está me fazendo passar também. Seu novo nome deveria ser "destruidora de reputações".
— Jina, por favor...
— Não, por favor, não, mamãe — enfatizo a última palavra, quase cuspindo contra ela. — Você me fez construir um castelo de paranóias, do qual eu sou a rainha, os meus soldados são os meus medos e a minha guerra é uma batalha comigo mesma. Ou eu venço por min, ou eu perco pra mim, e eu não vou deixar você piorar isso.
Saio da nossa sala de jantar e da casa, entrando no carro com uma fúria indescritível. Eu tenho minhas razões para fazer isso. Por que ela vem me culpar quando não se dá conta do que fez?
A real é que nós sempre fomos uma família perfeita para quer que nos visse, seja em qual meio for, revistas, amigos dos meus pais, empresas, sociedade. Disparando o Hanking de uma das 10 primeiras e maiores famílias da Coreia do Sul, a qual obtinha um enorme patrimônio econômico, lá estava ela, minha família. Eu, minha mãe e meu pai, na capa da FORBES, como se fôssemos unidos.
Se já não bastasse o rompimento do meu noivado ter causado um tumulto na semana passada, minha mãe fez questão de ser vista com um de seus amantes por repórteres e brincar com a mídia com seus escândalos de relacionamentos. Já meu pai, que também nunca nos negou ter outras mulheres, pelo menos faz sua parte em escondê-las tão bem quanto roubos em política.
Será que ela não pensa em mim ou em como as pessoas vão me enxergar? Talvez até como filha de uma prostituta que detém o poder. Em outra vida, eu espero não ter sido filha da minha mãe.
Jang-Mi
Ao descer do carro, noto um tumulto nos corredores. Flashes, gritinhos de comemoração e ligações pedindo permissões. Abro espaço em meio àquele caos, e vejo um cartaz pregado no mural de avisos de um possível acampamento para alunos dentre algumas semanas.
Reviro os olhos. Sério isso? Tanta algazarra para receber essa notícia? Saio do meio dos alunos e vou para a sala, onde Eun me espera balançando seu corpo de tamanha ansiedade.
— Pensei que você não viria hoje. — digo, encaixando minha mochila atrás da banca.
— Não bebi ontem, estou bem!
— Você? Não bebeu? — dou uma examinado nela, que abre um sorriso bobo. — Que milagre.
— E você, hein? Trocou de papel comigo? Soube que provou bloody mary ontem. — ela me dá um empurrãozinho, me provocando.
— Ah, sim. E sabe o que eu notei? Há uma diferença entre nós duas. Quando eu bebi, soube controlar a bebida, já você não. — a provoco, o que faz com que ela me mostre a língua.
— Você vai ao acampamento? Não sabia que a escola daria essa proposta no começo do ano, geralmente não é no final?
— Ano passado não foi muito revolucionário, e duvido que este ano seja diferente. Não vou perder meu tempo, Eun, vou estudar para o vestibular na semana em que vai acontecer o acampamento.
— Eu também não iria, mas o Yeojun acabou me convencendo. — ela morde sua bochecha, concordando com a cabeça.
Claro que convenceu.
— De qualquer forma, me conta tudo quando voltar? — Lhe ofereço um sorriso sincero de volta.
— Mas é claro! E amiga... me desculpa por não ter voltado para casa com você ontem, e também por não ter te dado muita atenção nos últimos dias. Me sinto culpada de verdade, quero aprender a passar mais tempo com você do que o Yeojun.
— Não precisa se desculpar, e só pra constar-
Sou interrompida pela professora, que chega na sala já escrevendo o que deveríamos fazer hoje. Viro para frente e abro o livro, sussurrando para Eun "Depois conversamos sobre isso" e ela concorda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MIMADO | Hueningkai
FanfictionDepois de serem apresentados um ao outro numa escola de elite coreana, Hueningkai e Jang-mi descobrem que ambas famílias são amigas. Ele, que morava em Los Angeles, não imaginava que sua vinda a Coreia lhe ensinaria como se preparar para a vida adul...