Jina
Lancei a bolsa sobre o sofá, bufando e me jogando contra ele, assim que chego em casa. Lia, uma das moças que trabalhava em minha casa, praticamente vem correndo até a minha direção, e fecho os olhos, apoiando a mão na cabeça.
— Posso ajudar em algo, senhorita?
— Me traz remédio para enxaqueca. — ordeno, e ela sai na mesma velocidade que entrou.
Minha cabeça lateja, meu corpo só pede cama e minha garganta arranha. Mesmo depois daquela ceninha, meu eu interior sabe muito bem que ele ainda não vai voltar para mim. Nunca foi sobre ela, e sim sobre como ele achou nela uma válvula de escape para finalmente se livrar de mim.
Fungo o nariz, e quando penso que Lia chegou, sou surpreendida pela minha mãe, que entra na sala, me olhando, como se eu esperasse eu começar o nosso diálogo.
— Perdeu alguma coisa? — enrugo o espaço entre as minhas sobrancelhas.
— Quero conversar. — suspira.
— Sou toda ouvidos.
— Você leu a matéria do jornal hoje? — ouço sua respiração hesitante.
— Não tive tempo. — respondo, arrumando minha postura no sofá.
— Aconselho que leia. — minha mãe puxa o ar entre os dentes.
A encaro por cima, e sem desviar o olhar de seus olhos, desbloqueio o celular abrindo no Mail de hoje para ler o conteúdo do jornal, vendo que a principal manchete se tratava dela, minha mãe, e seu rompimento de noivado.
— Então estamos gêmeas nisso? — debocho.
— Eu pensei muito desde que tivemos a nossa última conversa, e ao contrário do seu rompimento, o meu foi por decisão mútua e pensando no seu bem-estar.
— Ah, finalmente lembrou que tem filha?
— Jina, não começa. Eu nunca quis iniciar uma guerra entre nós duas. É perceptível o quanto você está mal nos últimos dias. Tenho notado a quantidade de remédios que ingere e o quão trancada fica naquele quarto. Você tem procurado ajuda?
— E vai adiantar? O que eu tenho não tem cura, parei de insistir com o psiquiatra.
— Sinto muito por ter te forçado a crescer com apenas 6 anos, você não merecia isso. Eu queria que você voltasse a ser aquela garotinha para que eu pudesse criá-la de uma forma totalmente diferente.
Não só meus olhos marejam, como também os da minha mãe, e nos olhamos de uma forma como nunca havíamos visto uma a outra, então finalmente, encosto a cabeça sobre o peito da minha mãe e ela acaricia meus cabelos, soluçando e me fazendo soluçar mais ainda.
Não sei quanto tempo ficamos nessa posição, mas foi o suficiente para ela me acalentar e eu reconfortar o seu coração arrependido.
— Eu acho que você merece descansar seu corpo, já que sua mente não te permite esse luxo. Faça uma viagem, sim? Por um ano. Conheça novos lugares, novas línguas e novos amores. Dê essa chance a si mesma, a chance de mudar e renascer. Não precisa de pressa para voltar para casa, você sabe que eu sempre estarei aqui, a esperando.
Balanço a cabeça em concordância e sorri para minha mãe, voltando a nossa posição anterior. Naquela noite, ela leu um dos meus livros de infância favoritos para eu dormir e combinamos de procurar as passagens para a minha viagem no dia seguinte. Querido passado, eu preciso me despedir de você.
Hueningkai
Adentro o escritório da minha mãe sem ao menos bater antes, e a encontro apoiada na sua poltrona de couro, com os olhos fixos no computador, como se já esperasse que eu me intrometesse em sua área privada a qualquer momento.
— Disse para a Jang-Mi se afastar de mim? — grito.
— Chegou mais cedo, querido. — minha mãe diz, ignorante, e me ignorando.
— Como pôde ter a coragem de tirar de mim a única pessoa que me mantém distraído dessa merda toda que é a minha vida?
— Você quer dizer que ela é um atrapalho e uma distração para nossos negócios, não é isso? — me corrige.
— Mãe, aquela garota é a minha válvula de escape, e a primeira que eu realmente gosto de verdade, desde que você impôs Jina na minha vida.
— Hueningkai, não vou discutir com você, o que você no futuro saberá que é certo. — empilha os papéis e os grampeia, e não olha um segundo sequer para mim desde que entrei.
— Não vou deixar que faça comigo o que fez com a minha irmã.
— O que eu fiz? Deixei ela com mais patrimônios acumulados, e isso é ruim?
— Quando ela tinha a minha idade, gostava mesmo de um garoto e mandou ela para fora para eles perderem o contato e nunca mais se viram desde então. E depois, a faz casar-se com um herdeiro estrangeiro só para acumular riquezas para você, não para ela.
— Eu não vou viver por muito tempo, e vocês precisam cuidar da nossa família. Será que dá para parar de ser infantil alguma vez na vida?
— É de um tempo que você precisa? Tudo bem, mãe. Eu deixo tudo pronto e foco na empresa por algum tempo, mas saiba que quando essa bolha estourar, eu vou voltar, e você não vai decidir com quem eu vou ficar.
Saio da sala em passos largos e deixando a porta aberta, mas dou meia volta, avisando-a sem ao menos a olhar:
— E se eu souber que tentou fazer mais alguma coisa para a Jang-Mi ou para a família dela, vou fazer bem pior e não responderei por mim. Você não vai me criar para ser sua propriedade para sempre.
Por fim, saio do escritório, subindo para o meu quarto, trancando a porta. Fico ali pelo resto do dia, fazendo o que não tinha o menor sentido para aquela ocasião: distrair minha cabeça em meio a tanta loucura. Para onde vai o meu silêncio, quando deixo de dizer o que sinto?
Notas da autora
Oi, amores! Nós estamos entrando nos últimos capítulos de MIMADO, que vai deixar muitaaaaa saudade pra mim 🥺 Que vocês possam curtir esses últimos momentos de leitura. E ah! Pra quem curte fanfics do TXT, eu também escrevi uma do Beomgyo :) ela se encontra no perfil FanficUnion e se chama "Jogos e sonhos de amor", no livro "One dream in South Korea", pois foi uma colaboração. Um abraço no coração de cada um(a)! ❤️
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MIMADO | Hueningkai
FanfictionDepois de serem apresentados um ao outro numa escola de elite coreana, Hueningkai e Jang-mi descobrem que ambas famílias são amigas. Ele, que morava em Los Angeles, não imaginava que sua vinda a Coreia lhe ensinaria como se preparar para a vida adul...