BROKEN, billy hargrove

Capítulo 11 - Rótulos não são permitidos

Depois de alguns minutos, Billy estaciona o carro. Olho para os lados, vendo apenas a floresta. Franzi a testa e olhei para ele, que sorria.
Saímos do carro e ele pega minha mão, me puxando em meio às árvores altas. Andamos por algum tempo, até chegar a um campo.
A grama era um pouco alta e haviam pequenos dentes-de-leão brotando, fazendo-a ficar linda. No centro, uma árvore mediana, com galhos compridos, cheios de flores amarelas, que desciam por sua extensão. A grama ao redor, cheia de pétalas das flores.
Observei tudo encantada e olhei para Billy, que mantinha aquele sorriso encantador, talvez até um pouco orgulhoso de si mesmo.
Ele caminhou em direção à árvore e se virou, olhando para mim.

- Vai fica aí, parada?

Fui em direção à árvore, observando seu tronco, que tinha nomes de casais e corações. Tão cliché!
Ri do meu pensamento e vi Billy atrás de mim, observando a árvore.

- Essa é a Árvore do Amor! - olhou para cima - os casais vem aqui para colocar os nomes nela. Dizem que isso faz o amor durar para sempre ou algo assim!

- É por quê você me trouxe aqui? Não me diga que quer que eu assinei meu nome!

- Porque estamos acima desses clichés e, quem faz o amor durar para sempre somos nós, todos os dias, com atitudes e gestos,  não uma árvore!

Ele, de repente, se apoiou em um galho e deu impulso, subindo. Ao chegar lá em cima, estendeu a mão para mim.

- O que você está fazendo?!

- Estou sendo superior aos clichés!

- Eu não consigo subir!

- Eu te ajudo! Anda, Markey! Lembra do nosso acordo? Eu te proporciono divertimento momentâneo!

Exitei por um momento. Fechei os olhos, parando de pensar tanto nas consequências, prós e contras. Suspiro e pego sua mão. Billy me puxa e eu me sento em um dos galhos, segurando firme.

- Se eu cair, juro que te mato!

- Relaxa, Markey! Para de pensar um pouco e aprecia a vista!

Ele se deita no galho, encarando as flores. Faço o mesmo, olhando o sol passar por entre as folhas e flores.
Olho para Billy, que brincava com uma das flores.

- Me conta alguma coisa de verdade sobre você! - ele para o que está fazendo e suspira fechando os olhos. Depois de alguns segundos, me encara.

- Meu pai batia na minha mãe quando eu era pequeno. Tentava à todo custo impedir, mas acabava apanhando junto. Depois de alguns anos, minha mãe foi embora e me largou com ele. E você já deve imaginar o que acontecia.

Fiquei em silêncio, tentando absorver toda aquela história. Por um segundo, penso em contar a minha história toda para ele, mas ainda é doloroso demais lembrar daquele dia.

- Eu sinto muito - sussurrei.

Ele permanecia com um olhar triste, então desço da árvore num pulo, já que não era muito alta. Billy me olha sem entender e desce também.
Me aproximo e ponho a mão em seu rosto, olho dentro daqueles olhos azuis e o beijo. Um beijo apaixonado, que transmitisse tudo o que há de bom no mundo.
E se a vida pudesse ser assim? Só as partes felizes, nada das horríveis, nem mesmo as minimamente desagradáveis. E se a gente pudesse simplesmente cortar o ruim e ficar só com o bom? É isso que quero fazer com Billy. Dar a ele só o bom, manter o ruim longe, para que o bom seja sempre tudo o que temos à nossa volta.
Me afasto dele e nos deitamos na grama. Ficamos em silêncio por um tempo, sinto que devo contar alguma coisa sobre mim.

- Uns meses depois da morte do meu pai, minha mãe praticamente me obrigou a ir num psicólogo. Disse que eu estava com depressão, mas eu nunca gostei disso.

- Por quê?

- Acho uma ofensa com as pessoas que realmente passaram por um trauma. Tudo bem, eu perdi meu pai mas isso não significa que, necessariamente, tenho que ser depressiva, isso pode ser apenas tristeza e, alguma hora, ela vai passar. Mas as pessoas são tão obcecadas por ser alguma coisa, ter alguma coisa. Rótulos como "depressiva” significam: É por isso que você é assim. Esse é você. Reduzem as pessoas a doenças.

-  Mas podemos crescer para fora de um rótulo. É difícil, mas não impossível.

- Então vamos fazer um acordo! - levantei o dedo mindinho - entre nós dois, rótulos não são permitidos!

- Rótulos não são permitidos! - juntou seu mindinho ao meu rindo.

Sorri para ele e ficamos em silêncio, ouvindo o canto dos pássaros. Encostei a cabeça em seu ombro, desenhando formas desconexas em sua mão.
Ainda não tenho certeza do que sinto por Billy, só que estar com ele me faz bem.
Não posso dizer que ele me livra dos meus pesadelos, mas me faz pensar menos neles. Ele me faz querer aproveitar a vida, tentar ver o lado bom dela.
Talvez eu esteja apaixonada, mas isso seria um rótulo, e rótulos não são permitidos.

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All the love...