capítulo dois - menino de ouro

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"Yeonjun não aparece em seu show em Seul e deixa fãs desapontados."

"Yeonjun é visto saindo de casa noturna acompanhado de duas mulheres misteriosas."

"Astro rebelde! Excesso de álcool causa mais um acidente de trânsito envolvendo o Menino de Ouro."

" 'Não devo satisfações pra ninguém', diz Yeonjun depois de supostas fotos fumando do lado de fora de boate."

"Empresa responsável por Yeonjun cancela sua turnê e anuncia que o cantor precisa de um tempo para pensar em suas ações recentes."

Yeonjun, Yeonjun, Yeonjun

O nome mais citado nos sites de entretenimento e revistas de fofoca do país. Depois de viralizar um vídeo cantando na internet, as emprestas disputaram ferozmente por um contrato com o garoto de dezesseis anos na época. Assinou com a maior delas, é claro, e seu sucesso cresceu tão rápido que foi difícil de acompanhar. Seu primeiro álbum ficou em primeiro lugar nas paradas por muito tempo e cada lançamento após esse alcançava o topo. Ninguém o barrava. Não importava a época, o nome de Yeonjun permanecia no número #1. Depois do primeiro prêmio, o menino era destaque em absolutamente todas as cerimônias de premiação e nunca perdeu nenhuma categoria na qual fora indicado. E por mais que perdessem para ele sempre, quase todos os outros cantores o adoravam por ser o mais novo e estar conseguindo tanto, tão rápido. O apelidaram de Menino de Ouro e logo o apelido se espalhou.

Não demorou muito para que seu sucesso fosse visto nas ruas também. Seus fãs acampavam do lado de fora das arenas por horas e os ingressos para os seus shows se esgotavam em tempo recorde. Suas redes sociais somavam centenas de milhares de seguidores que estavam dispostos a defendê-lo de qualquer coisa que considerassem ameaça, tanto para Yeonjun quanto para eles. Seu exército online era imenso, talvez nem ele mesmo tivesse noção do quanto. Mas os fãs o amavam e ele amava os fãs. A relação entre eles sempre foi algo que todo mundo admirava por parecer tão puro e autêntico. Um laço realmente inquebrável. A definição de amor verdadeiro para um garoto de dezesseis anos.

Mas, infelizmente, ninguém é criança para sempre.

Depois de não aparecer para o encerramento sua turnê de divulgação do seu último lançamento, já com seus 23 anos, Yeonjun sumiu. Sem nenhuma atualização nas redes sociais nem avistamentos de paparazzis, nem nada. De uma hora para outra, o maior artista em ascensão do país estava fora de alcance, e logo seus fãs começaram a entrar em desespero. Pouco tempo depois, esse desespero já havia tomado conta de todas as manchetes e não se falava em outra coisa: Onde está o Menino de Ouro?

E então saíram as fotos. Yeonjun estava saindo de uma casa noturna num bairro muito famoso por tráfico de drogas e prostituição. Seu cabelo estava maior, seu rosto estava mais magro e uma argola era vista num furo do lado esquerdo do nariz. Depois disso, não era muito difícil ver o queridinho do país envolvido em alguma polêmica. Ainda assim ele lançou mais um álbum, que mais uma vez alcançou o topo de todas as plataformas digitais devido a lealdade de seus fãs que buscavam algum tipo de conforto na volta do seu ídolo depois de tantos acontecimentos incomuns. Mas Yeonjun não era mais o mesmo. Sua personalidade estava completamente diferente e ele parecia indiferente a cada prêmio que ganhava, cada comentário que fazia. Suas respostas em entrevistas eram vagas e, muitas vezes, mal-educadas e grosseiras sem motivo algum. As pessoas não sabiam ao certo como falar com ele ou se deveriam falar. Era um show de desconforto.

Yeonjun.

O nome mais citado nos sites de entretenimento e, agora, o mais citado nos noticiários também. Sempre taxado como badboy, as pessoas estavam sempre esperando o próximo deslize do cantor. "O que o Menino de Ouro vai aprontar semana que vem?". Os fãs foram gradativamente desistindo de defendê-lo e sumindo a cada nova notícia. Depois de um certo ponto, seu "público" online se resumia apenas em pessoas que riam das suas atitudes e aqueles que o criticavam sem piedade.

Vendo a gravidade da situação, a empresa responsável pelo contrato de Yeonjun fez um pronunciamento onde dizia cancelar a turnê do cantor para que ele tirasse um tempo para pensar sobre suas atitudes.

Mas era mentira, eu sabia.

Enquanto os empresários diziam que Yeonjun procuraria ajuda, eles estavam procurando meios de salvar sua imagem e a da própria empresa, quase que desesperados. Até entrarem em contato com o maior canal de televisão nacional e pedirem pelo amor de Deus que ajudassem. E logo o acordo foi feito.

O canal gravaria um documentário filmado em uma semana na casa de Yeonjun, para "mostrar para as pessoas que, não, ele não está maluco e ainda é um artista merecedor de todo o sucesso de suas músicas". Foi isso que Song Bongsun, empresário de Yeonjun, disse na reunião com o Sr. Chang antes de assinarem o contrato. Reunião na qual Yeonjun nem fez questão de participar.

— A questão é que seu "sucesso" hoje em dia está longe de ser por suas músicas. — eu disse, atraindo os dois pares de olhos na minha direção.

— Exatamente, Sr. Choi! — Bongsun permanecia exageradamente eufórico — É isso que iremos recuperar nesse documentário! Vamos lembrar a razão pela qual todos se apaixonaram pelo Menino de Ouro.

— Claro...

Desviei minha atenção para o meu bloco de notas somente para quebrar aquele contato visual desconfortável. Já estava conformado que não existia saída para mim naquela situação, mas quanto mais o tempo passava, mais tudo parecia extremamente chato e fora de absolutamente tudo o que eu considerava importante como jornalista.

Não que eu não gostasse de Yeonjun. Lembro de ouvir algumas de suas músicas na escola e até experienciei um de seus shows para complementar uma redação da faculdade. Mas quando se trata de pessoas, principalmente artistas, que fazem de tudo para chamarem atenção da mídia, minha paciência se limita a quase zero. No meu ponto de vista, era muito mais fácil a empresa assinar com qualquer outro garoto da internet do que insistir numa causa que ninguém dava mais a mínima. Mas é claro, eles pensavam diferente. Passaram o restante da reunião combinando datas e horário até assinarmos o contrato.

Bongsun me entregou uma lista de exigências feitas por Yeonjun antes de sair da sala de reuniões, mas eu nem fiz questão de ler. Pode parecer grosseiro, mas se eu fui destaque em tudo que me propus a fazer até então, não foi porque eu me adaptei às regras e padrões de alguém. Eu sempre trabalhei da forma que eu achei que funcionava e sempre funcionou, sendo o comprometimento a única exigência que eu acatei durante todo esse tempo. O jornalismo para mim, num geral, não só a TV, é algo que vai muito além de entretenimento. É a forma que as pessoas encontram de receber informação e a responsabilidade de um jornalista é passar a informação correta, de maneira transparente. Existem muitos assuntos importantes que eu gostaria de falar a respeito, muitas informações que eu gostaria de passar. Mas naquele momento eu estava preso à um cantor birrento, e nada me incomodava mais.

Poucos dias depois, entrei no saguão estranhamente vazio do endereço onde dizia ser residência de Yeonjun. Era um prédio elegante, com paredes altas e brancas, e corredores espalhados por todos os lados. Sua localização já dizia automaticamente que não era qualquer um que conseguiria morar ali. Acompanhado da minha equipe de gravação, me sentei em uma das poltronas da sala de espera após o porteiro me indicar que eu deveria esperar ali. Poucos minutos depois, notei a figura do que parecia ser uma pessoa bastante alta, coberta por um moletom preto, saindo de um dos corredores.

— Sr. Choi?

Minha voz o fez parar de andar para me encarar. O tédio era nítido nos seus olhos e sua respiração parecia um tanto descompassada.

— Choi Soobin. — estiquei meu braço em sua direção, buscando um aperto de mão. — Jornalista. 

24/7 • yeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora