capítulo oito - acho que vou gostar daqui

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 Eu gostaria muito de dizer que eu acordei muito disposto no dia seguinte, bem descansado e relaxado, mas seria mentira. Já era quase de manhã quando eu percebi que não tinha conseguido nem ao menos cochilar. Não me sentia cansado, apesar disso, mas minha cabeça não parava, eu não sabia ao certo o porquê, e aquilo me deixava com uma sensação estranha de exaustão. Meus pensamentos estavam embaralhados e eu não conseguia decifrar no que eu estava pensando, o que me deixava tão aflito ao ponto de não conseguir dormir. Me levantei e me espreguicei na tentativa de me sentir um pouco menos tenso, mas não adiantou muita coisa. Eu já havia desistido de tentar dormir naquele momento, já passava das seis.

Desci as escadas e o frio me atingiu em cheio. Assim que me virei para ir em direção à cozinha, decidido a fazer um chocolate quente ou alguma outra coisa que me aquecesse, pude ver Yeonjun sentado em uma das banquetas do balcão. Estava de frente para mim, mas sua cabeça estava virada para baixo, apoiada nas duas mãos e os cotovelos apoiados na madeira do móvel. Não tive certeza se ele estava acordado ou não, tampouco soube se deveria voltar para o meu quarto ou continuar ali. Mas antes que eu pudesse me decidir, ele levantou a cabeça e seus olhos me encontraram.

— Eu te acordei? — ele disse num tom baixo demais — Desculpa, eu só...

— Não consegue dormir? — eu perguntei e ele assentiu — É, eu também não.

Yeonjun indicou o lugar à sua frente para que eu sentasse e assim eu fiz. Ele se levantou e foi em direção ao armário, voltando com uma xícara logo depois. Serviu um pouco do chá que já estava no balcão e deixou a xícara na minha frente.

— Desculpa ser sempre chá, eu não tomo café. — ele disse.

— Tudo bem, chá está ótimo. Obrigado.

Ele se sentou novamente e ficou encarando a própria xícara, sem falar nada. Eu também não quis quebrar o silêncio, então ficamos daquela forma por um longo tempo, até ele ter a iniciativa de falar, ainda bem.

— E se não funcionar?

— Se o que não funcionar?

— Tudo isso, o documentário. E se as pessoas ainda resolverem não acreditar em mim?

— Eu acho bem improvável isso acontecer, Yeonjun. Não se torture com isso agora, ainda temos tempo.

— Você disse que eu preciso ser sincero, mas é tão mais difícil do que parece... Esse personagem foi criado e desenvolvido por muito tempo, eu não sei se consigo simplesmente desmascarar tudo agora, não é isso que eles querem, não foi por isso que me mandaram aqui.

Ele soluçou no final da frase. Estava chorando. Aquilo partia o meu coração de uma forma que eu jamais conseguiria explicar.

— O que você quer dizer com isso? Que personagem?

—Menino de Ouro. — ele olhou pra mim — Ele é quem as pessoas querem de volta, mas ele não sou eu.

Olhei rapidamente para a câmera mais próxima e me certifiquei de que estivesse funcionando e gravando tudo.

— Mas o objetivo do documentário é justamente...

— Mostrar quem eu sou — ele me interrompeu —, eu sei. Mas o objetivo da empresa nunca foi esse. Por um momento, eu...

Ele desviou o olhar e encarou a mesma câmera, que estava exatamente em nossa direção, então parou de falar. Olhou para baixo novamente e respirou fundo.

— Yeonjun... — eu estiquei minha mão e toquei a dele. — Tá tudo bem.

Ele olhou para nossas mãos antes de olhar para mim.

24/7 • yeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora