capítulo três - lar doce lar

15.6K 2.3K 4.8K
                                    

Yeonjun olhou brevemente para a minha mão estendida e desviou seus olhos para a minha equipe atrás de mim, ignorando completamente qualquer palavra que havia saído da minha boca. Ele molhou os lábios brevemente. Meu braço estendido começava a parecer patético.

— Eu disse que permitiria apenas uma pessoa. — disse, sem expressão alguma.

— Sou a única pessoa responsável. Eles fazem parte da equipe de filmagem.

— Tenho certeza de que é capaz de apertar o botão de gravar sozinho.

Minhas sobrancelhas se juntaram ao mesmo tempo em que eu recolhi meu braço, já cansado. Não faziam nem cinco minutos que eu estava na sua presença e já começava a ficar certo de que as afirmações que havia lido tinham grandes chances de serem verídicas. Choi Yeonjun era realmente um idiota, aparentemente.

— Tenho certeza de que o senhor notou que são muitos equipamentos — eu respondi, usando o mesmo tom que ele —, muitos botões...

Yeonjun afundou as duas mãos nos bolsos do moletom largo e respirou fundo antes de passar a língua pelos lábios pela segunda vez. Ele me encarava com o mesmo olhar de tédio, mas desta vez era acompanhado por um leve tom de desafio. Eu não ousei desviar.

— Eles deixam essas coisas lá em cima e depois vão embora. — Yeonjun deu uma última espiada nos equipamentos antes de começar a se afastar — E deixem somente o que for necessário. De quantas câmeras você precisa, afinal?

Ele começou a se dirigir para o mesmo corredor que o trouxera até a sala de espera e eu senti uma irritação estranha tomando conta de mim. Algo no meu corpo me dizia que aquele não seria um trabalho tão simples e monótono quanto eu achei que seria.

— Vou precisar de todos os ângulos se quiser salvar sua carreira.

Eu deixei meus pensamentos escaparem em voz alta, mesmo que num volume menor, mas Yeonjun pareceu escutar. Ele soltou o que parecia ser uma risada abafada e seguiu pelo corredor por alguns metros, antes de parar e se virar para mim outra vez. Seus lábios de curvavam num sorriso fino, e eu senti aquela mesma irritação tomando proporções maiores. Com suas mãos ainda afundadas nos bolsos do moletom que parecia ainda maior visto de longe e a touca preta sobre sua cabeça, Yeonjun poderia ser facilmente confundido com um morador de rua, se o vissem daquela perspectiva.

— Vamos, Soobin. Você não vai salvar a minha carreira se ficar parado aí.

Eu não pude evitar em soltar uma risada de indignação. Em toda a minha experiência no meu trabalho, eu nunca precisei entrevistar alguém com tanta atitude quanto Yeonjun, e era exatamente por isso que eu não gostava de trabalhar com celebridades, principalmente as mais famosas.
Fiz um gesto de negação com a cabeça quando o segui até um dos elevadores do corredor e entrei, completamente contrariado e xingando meu chefe de todos os nomes possíveis na minha cabeça. Yeonjun apertou um botão para que a porta cinza se fechasse e eu me apressei em mantê-la aberta, esperando que minha equipe entrasse também.

— Não vai caber. Seus amigos podem usar o elevador de serviços.

Ok. Idiota era uma boa definição.

Lancei um olhar de pedido de desculpas para a minha equipe e finalmente soltei a porta do elevador. Não me surpreendeu quando Yeonjun apertou o botão para o último andar do prédio. É claro que um artista como ele moraria numa cobertura. Seria necessário todo o espaço do mundo para caber ele e o seu ego junto.

O tempo que o elevador demorou para subir foi um tanto longo e eu usei isso para avaliá-lo melhor. Yeonjun usava um moletom largo preto com o capuz sobre sua cabeça, mas ainda era possível ver parte de seu cabelo comprido e o prateado da argola no seu nariz era boa em chamar atenção. E ele era alto. Não só mais alto que eu, era realmente um homem alto. As roupas largas faziam um bom trabalho em escondê-lo dos olhares curiosos nas ruas, mas ali do seu lado, mesmo todo coberto, eu conseguia ver que estava mais magro que de costume.

24/7 • yeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora