24/7 • yeonbin

capítulo sete - autocontrole

     — Ok, vamos lá. — eu estava sentado na cadeira atrás da câmera na varanda e Yeonjun estava sentado na minha frente.

Era fim de tarde, o momento da entrevista diária, onde eu e Yeonjun repassaríamos tudo o que aconteceu de relevante aquele dia. Apesar de não ter acontecido muita coisa, eu sabia que Yeonjun tocaria no assunto das tatuagens novamente e dava pra notar que aquilo o deixava nervoso.

— A primeira coisa que você falou de manhã foi sobre suas tatuagens. — eu disse. — Por que sentiu a necessidade de falar logo de cara?

Ele passou as mãos nas coxas, apreensivo. Quando levantou o olhar para mim, eu sorri como quem dissesse que estava tudo bem. Ele parecia uma criança com medo na frente da câmera e eu o tratava com cuidado nesses momentos.

— Eu achei importante falar das minhas tatuagens logo de cara porque vai ser a primeira coisa assustadora que vão ver em mim, e isso pode causar uma má impressão, sei lá. — ele sorriu — Não que eu já esteja lá muito bem em relação às impressões das pessoas sobre mim.

— Qual a história por trás dos desenhos?

— Como eu disse, o coração é sobre eles. — ele apontou para a câmera. — Eu senti que precisava fazer, porque...

Nervosismo de novo. Ele se saía muito bem por um tempo, até lembrar que estava sendo filmado e travava outra vez. Sua cabeça baixava e ele parecia não saber ao certo onde focar ou quais palavras usar. Pensava demais, esse era seu maior defeito.

— Tá tudo bem, lembra que somos só nós aqui.

— Eu sei que é bizarro falar isso em voz alta e pode soar meio do nada, mas eu não fui muito amado na minha vida, sabe... Meus pais, eles... Bom, é complicado.

Eu tentei manter o maior nível de leveza possível, para que ele não se sentisse desconfortável. O que ele estava falando era muito, muito importante e, além de ser algo inédito, era um assunto extremamente delicado: sua vida pessoal.

— Meus fãs foram os primeiros que fizeram eu me sentir amado. — ele disse, passando o dedo por cima do coração. — E foi a forma de amor mais pura que eu já senti também.

— Você os ama?

— Muito. Eu os amo muito. E eu sinto muito tê-los decepcionado tanto.

Ele abaixou a cabeça e eu pude perceber que tentava controlar as lágrimas. Seus olhos estavam molhados e o rosto foi ficando vermelho aos poucos.

— Tá tudo bem, são só emoções. Deixa vir.

— É que é estranho falar sobre isso com uma câmera na minha frente. — Yeonjun respirou fundo.

Tirei alguns segundos para fazer algumas anotações em meu caderno e para que Yeonjun se acalmasse antes de continuar. Ele começou a contar a história por trás de cada tatuagem. O dragão que ocupava boa parte do seu braço e subia para o ombro era a representação da sua força, mesmo que ele mesmo não acreditasse que fosse forte, segundo ele. Os outros desenhos se resumiam em histórias aleatórias de como depois de algum show ele passou perto de algum estúdio e decidiu fazer um rabisco qualquer, sem muito significado. Mas dizia não se arrepender de nenhuma, faziam parte dele, da história dele. Eu confesso que achei legal.

— Você não sabia ao certo o que falar quando nos mostrou o apartamento. Não tem o costume de ficar aqui? Alguns cômodos parecem nunca terem sido mexidos.

Ele desviou o olhar mais uma vez. Seu corpo endureceu de uma forma estranha e ele sorriu de um jeito ainda mais estranho.

— Ah, sabe como é. O trabalho me faz ficar na empresa a maior parte do tempo.