Cobra: o que tava pegando lá?- pergunta quando eu chego perto do carro
Eu: ele acha que ela traiu ele e queria bater nela
Cobra: vou mandar os moleques dar um trato dele, acha que pode desobedecer as leis da favela assim?- fala e eu apenas forço um sorrisoEntro no carro e dirijo de boa pra casa, assim que chego estaciono na frente de casa e saio travando o mesmo, entro em casa trancando a porta, vou pra cozinha e fecho a janela da mesma, subo pro meu quarto e tranco a porta, me sento na cama e passo a mão no rosto, meu Deus! Fico olhando um canto aleatório do quarto enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto.
_______________________________________Dois anos atrás:
_______________________________________Lucas: o que tu tá fazendo aí?- pergunta quando me vê deitada na cama assistindo- tu fez a comida?- pergunta e eu nego com a cabeça- eu chego cansado do trabalho e putinha aí nem pra fazer o jantar- fala e andando até mim e me pega pelos cabelos com força
Eu: para Lucas tá me machucando- falo e ele aperta mais sua mão puxando meu cabelo
Lucas: cala a boca- fala e me dá um tapa no rosto- faz minha comida vai vadia- fala e me puxa me jogando no chão com tudo, ele me dá um chute na costela e vai pro banheiro, levanto com as lágrimas querendo rolar pelo meu rosto e vou pra cozinha correndo.Faço arroz, feijão e frango cozido ao molho, Lucas entra na cozinha e abre a geladeira pegando uma cerveja, ele me olha dos pés a cabeça e sorri malícioso, ignoro e continuo mechendo nas panelas, ele dá um tapa na minha bunda e eu fico quietinha na minha, sei que se falar alguma coisa apanho.
Lucas: vai demorar aí caralho, tô com fome desgraçada- fala todo ignorante e eu respiro fundo
Eu: tô terminando Lucas- falo e ele sai da cozinha.Continuo fazendo a janta dele quando escuto a campainha tocando seguida pela voz do Lucas e uma voz feminina, desligo o fogo quando a comida tá pronta e vou pro meu quarto, quando entro vejo o Lucas com uma garota aleatória se comendo literalmente.
Lucas: vem aqui brincar com a gente também vadia vem- me chama e eu dou um passo para trás- eu to mandando- fala pegando no meu braço e a menina me olha com malicia
Eu: me solta Lucas- falo com medo e ele ri amargamente e me joga no chão.Ele começa a me bater do nada, só foi socos e socos, e chutes e puxões de cabelo, logo a garota que estava com ele vem me bater também, quando os dois se cansam dessa o Lucas vai pro banheiro e a garota fica no quarto rindo de mim, me levanto com dificuldades, vou até o banheiro e pego a chave sem o Lucas perceber, tranco ele lá dentro e a garota me olha com uma sobrancelha erguida, puxo ela pelos cabelos pro chão e foi só sequência de socos e mais socos, não quis brincar? Vamos brincar! Cansei de apanhar por nada, cansei de viver cheia de marcas e cicatrizes! Sério, eu cansei! Lucas só grita e bate na porta, quando ele consegue arrombar a porta a garota já está ensaguentada e desmaiada no chão, o Lucas vem até mim e eu levanto de cima da garota pegando a primeira coisa que eu vi, um abajur... Taco nele que acerta o seu rosto, o abajur se quebra rasgando da sobrancelha até a bochecha dele, o corte foi profundo, muito profundo, saio correndo de lá com o celular na mão e chorando horrores, quando chego no corredor vejo meu vizinho pronto pra ir no apartamento do Lucas ver o que está acontecendo, ele me olha preocupado e chama a esposa para me ajudar e corre pra dentro do meu apartamento.
_______________________________________Agora:
_______________________________________Quando dou por mim estou chorando de soluçar lembrando a última vez que apanhei de um homem, ninguém, ninguém mesmo sabe de toda a realidade sobre o dia que eu separei do Lucas, ninguém além de mim, o Lucas, a garota, meus pai e os vizinhos do Lucas sabem o que realmente aconteceu o dia que fui presa por tentativa de homicidio e por lesão corporal, sorte que meus advogados e obviamente os machucados, médicos e psicólogos conseguiram provar que foi por legítima defesa, eu tive pesadelos por dois anos, isso me deu traumas, cicatrizes internas que jamais serão curadas, a maioria dos medos que tenho hoje foram causados por um ano que eu morei com o Lucas! Eu tenho vergonha... Vergonha do meu passado, vergonha de falar tudo o que eu passei na mão dele, agressões físicas e emocionais, agressões sexuais, pressão psicológica, tentativas de assassinatos, um aborto... Tudo! Eu tinha vários processos pra jogar contra ele, 3 tentativas de homicidio, agressões físicas, cárcere privado, ameaças, estrupos... Estrupos esses que resultaram numa gravidez, nessa época, depois que descobri que estava grávida ele prometeu mudar e eu?... Bom, eu acreditei e perdoei ele, mas no meu quinto mês de gravidez ele... Ele chegou em casa bêbado depois de uma festa com os amigos dele, ele me bateu tanto que acabei perdendo a criança... Naquele dia... O pior dia da minha vida! O dia que perdi minha Valentina, minha pequena Tina!💔😭
Depois daquele dia eu prometi pra mim mesma que iria embora daquele apartamento e que nunca mais voltaria pro Lucas, bom... Ele me prendeu em casa, não podia sair pra nada, não podia ver meus pais, meus amigos, minha família, não podia ir a escola, foram 2 meses assim, até o dia em que tudo acabou e ele me deixou em paz!
Foram dois anos de tratamentos intensivos para mim poder me recuperar, hoje eu consigo enfrentar um homem mas naquela época não, hoje eu enfrento o próprio Lucas mas naquela época eu não conseguia, eu deixava meu medo me vencer! Hoje eu sou quem eu sou graças aos meus pais que me ajudaram muito na minha reabilitação!
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Cria do Asfalto
Novela JuvenilRafaella Martins, uma garota no auge dos seus 18 anos, solteira e dona das ongs mais conhecidas do país por ajudar crianças e adolescentes carentes, nunca ligou para dinheiro, status ou posição social, perdeu seus pais num grave acidente e hoje vive...