"Dançando vagarosamente no escuro, eu sentia você, por quê você não consegue me ver?"
Naquela noite onde tudo era novo, me sentia um pouco estranho. O portão se abriu, dando para vislumbrar seu gramado verde e uma área grande de lazer. Ele estacionou o carro vagarosamente.
- Bem vindo, Miguel!.
Sorri um pouco sem graça. Eu realmente não sabia responder o doutor. Ele me deixava de total sem jeito. Ele desceu primeiro e abriu a porta para mim.
- Você obviamente deve estar com fome.
Ele mais uma vez estava certo. Eu estava, ela havia começado a me incomodar um pouco mais.
- É, estou. Ultimamente não tenho me alimentado bem.
- Vou preparar algo. A senhora Marie volta semana que vem.
Provavelmente era empregada dele, então não questionei. A casa era incrívelmente grande. Sua arquitetura moderna me deixou fascinado. Tudo em seu devido lugar, o que eu vi havia me agradado um tanto.
-Você pode escolher o quarto Miguel, tem um na parte de cima, e um na parte de baixo. O de cima é do lado do meu. Fica a seu critério.
Quando eu vi o sofá, fui direto me sentar. Eu estava tão cansado.
- Eu acho melhor ficar em baixo, doutor. Subir escadas não é meu forte nessa etapa da minha vida.
- Como assim? Você está na melhor etapa, Miguel.
Dei um sorriso.
- Vai ficar pior? Impossível.
Ele ficou sem graça e tentou entrar no meu jogo.
- Okay. Irei tomar um banho rapidinho, e volto pra preparar algo pra você. Mas para enganar, procure algo na cozinha, sempre tem alguma porcaria para comer. Fique a vontade para assistir e jogar também. Já volto.
Me deitei vagarosamente me afundando naquele sofá macio. Me senti abraçado fechei os olhos e algumas lembranças invadiram meus pensamentos.
Flashes
- O que foi amor ? Não gostou do seu quarto?.
- Não é isto, é estranho estar em um lugar novo.
Luke sorriu para mim.
- Hey, seu babaca. O que está rindo?
- Você fica fofo quando está indeciso. Sei algo está o incomodando. Pode falar!.
Respirei fundo e soltei.
- Okay, eu admito. Não quero te tirar do seu quarto para que eu durma aqui. Não me sinto bem.
Luke balançou a cabeça negativamente.
- Para com isso. Já disse que eu irei dormir perfeitamente na sala. Eu amo assistir tv a noite, e já durmo lá várias vezes. Não é problema algum.
Continuei indeciso.
- Vamos entrar em acordo então. Se quiser que eu fique.
Ele sorriu e assentiu com a cabeça. Luke estava sentado enquanto eu estava em pé olhando fixamente para ele.
- Que tal dividirmos o quarto? Eu durmo no chão e você na cama, e quero que você volte sua decoração para o lugar.
Ele sorriu timidamente.
- Sério que você quer isso? Não vai se incomodar comigo?.
- É claro que não, o quarto é seu Luke.
Ele revirou os olhos.
- As vezes você é bem chato Miguel, juro. E quanto a decoração, prefiro assim. Já estava querendo trocar.
Ele puxou minha blusa e me trouxe para o seu colo.
- Eu tenho uma condição também meu gatinho.
Ele me deu um selinho no rosto. e eu me arrepiei.
- Poderíamos dividir a cama, só assim aceito.
Senti o Luke acesso, seu volume acertava minha coxa. Dei uma risadinha.
- Pervertido. Mas, tudo bem para mim.
Após nossa discussão pelo quarto, o mesmo selou tudo com mais um beijo fervente e apaixonado.
Flashes off
Fui tirado de meu doce devaneio quando o Doutor voltou. Era a primeira vez que eu o via com uma roupa menos formal. Ele trajava uma blusa azul e bermuda preta, de um pano parecido com moletom. Seu físico era invejável, seu cabelo estava molhado e ele me olhava com ternura e gratidão, era o que eu sentia.
- Espero que esteja bem. Por quê não foi buscar algo para forrar o estômago Miguel? Teimoso.
Ele andou para cozinha e para não ficar sozinho, fui atrás, eu não queria ficar sozinho. Tinha medo, um medo que não sei explicar, algo me atiçava quando eu estava só, algo pesado, algo ruim.
- Espero que esteja gostando.
- Sua casa é muito aconchegante, doutor.
Me sentei em uma cadeira e me escorei na bancada enquanto ele preparava alguns ingredientes para o jantar. A fome tinha ido embora, estranhamente. Mas quando o cheiro invadiu minhas narinas, ela voltará ainda mais fervente. Minha vida havia mudado tanto. Eu estava calmo, mas meu interior, ele queria explodir, socar, destruir. Por quê eu estava calmo? Que maldito namorado péssimo era este que sou eu. O doutor era esperto, e ele podia sentir minha frustação de longe.
- Não queria falar sobre isto, eu juro.
Lançou ele. Gelei na hora, e assim o mesmo começou a falar.
- Eu sei que é difícil, Miguel. Perder alguém importante. Mas você está indo bem, e sei que está guardando e aguentando firme. Não precisa disto, eu estou aqui.
Eu não consegui falar, se eu falasse, eu iria chorar, e se eu chorasse, não iria parar nunca mais. Eu escolhi aquilo, tudo poderia ser diferente, era o preço a qual eu paguei por ter me afastado do caminho a qual minha falecida tia me resguardou. Eu sei que ela era uma assassina e cruel, e que estava apenas atrás dos meus dotes, e que sequer era minha tia. Mas, como alguém agiria quando descobre que alguém que sempre endeusou, se inspirou e fostes criado, não valestes absolutamente nada?. É uma pergunta de ouro, com certeza. Pra mim ela era ainda minha tia Rita, eu não me acostumaria do dia pra noite a trata- lá como alguém normal, mas com o tempo e esforço, eu conseguiria. O doutor me deu mais espaço, e preparou tudo em silêncio. Ele lançava alguns olhares para mim, olhares tristes e prepotentes. Eu queria ser forte, mas estava tão difícil. No jantar, ele tentou mudar de assunto, mas o clima estava tão pesado que não rolou. Eu quase não comi, estava delicioso, e só o parabenizei pela performance excelente na cozinha, mas eu precisava descansar, pois o outro dia seria cheio.
- Richard, preciso tomar um banho,por favor!.
- Oh, finalmente me chamou pelo nome. É claro, irei mostrar o seu quarto.
Ele me levou pela sala de jantar a um corredor, alguns quadros enfeitaram a parede. Eu estava tão absorto que não os reparei bem. O quarto era um closet com um banheiro dentro, tudo muito bem planejado.
- Aqui está, tem algumas roupas do meu irmão nas gavetas da cômoda. Pode ficar a vontade, ele só é um pouco maior. Mas algumas irão servir para você.
Fiquei um pouco receoso.
- Ele não irá se importar se eu as usar?
O doutor sorriu.
- É claro que não, e o mesmo vem muito pouco para cá, só nas férias. E já tem um tempo que o mesmo não vem.
- entendi, obrigado Richard. Por tudo!
Ele sorriu e colocou a mão atrás da nuca. Lembrei-me dele imediatamente, aquilo era cruel, e ali eu sabia que não iria aguentar, meu rosto esquentou juntamente com meu estômago. Sentei-me na beira da cama e elas saíram, as aceitei em silêncio e sem burburinhos. Era o mínimo, aceitar, deixar sair. O doutor sentou-se do meu lado.
- Eu sei que está as segurando a algum tempo, não precisa disto Miguel. Estou aqui por você. Não precisa carregar isto sozinho, pode compartilhar sua dor comigo, somos amigos ou não?.
Assenti com a cabeça, eu não havia forças para falar absolutamente nada. Seus braços envolveram, e ele me deitou em seu peito. Me deixei ser conduzido, ele estava sendo excelente comigo, nunca imaginei que logo o doutor estaria do meu lado naquela situação. Sorri, e após me recompor segui para o banheiro para tomar banho. Eu tinha que estar disposto no outro dia, recuperar minhas forças, ser forte, ser o sustento da minha nova família a qual havia se resumido em Tina, Hillary, Dulce, Jhon... e o doutor. Eu não queria que eles me vissem daquele jeito, não queria ser o motivo de preocupação, alguém bobinho a qual todos tratam como criança. Eu iria ser forte.
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Dias Chuvosos (Depois de você) - Parte ||
RomancePrólogo. Naquela manhã o ar era gélido, a rua estava deserta. O vento forte anunciava uma forte chuva, fazendo estremecer meu corpo. Aquela dor rasgava no âmago do mais implacável tormento. Sentia suas carícias, seu calor, seu desejo... Mas não ha...