Capítulo Sete - Meu dia.

353 56 4
                                    


"Eu vivo em um estado constante de medo e miséria"

Deve ser horripilante  estar inerte no espaço, sem ter onde ir, o que sentir, algo para se prender e criar raízes. Eu me sentia exatamente assim, o meu redor se tornou oco, sem produtividade, é por mais que eu me esforce, tente reerguer, ser maior, simplesmente não acontece. Naquela manhã,eu me sentia alguns milésimos melhor, enfim, dona Tina me ligou uma par de vez, eu sei que não estava certo do meu atual isolamento, porém, todos precisam ter o seu tempo. Mas, por ela, eu iria quebrar minha plenitude.
- Alô, bom dia Tina!
Ouvi um suspiro de alívio do outro lado da linha.
- Bom dia, Miguel! Ainda bem que me atendeu.
Ela estava com um tom de voz mais animado, o seu luto estava um pouco mais desenvolvido, aparentemente, estava aceitando muito rápido, o que me deu um pouco de... Repulsa.
- Pode falar, Dona Tina. Richard disse que você precisava falar comigo.
- Sim, eu precisava. Miguel, não queria falar por ligação, mas, quase que não me sobra tempo, recebo várias visitas diariamente... Eu gostaria que... Você voltasse.
Voltar ? Não. Eu acho que ainda não era o momento, a dor da lembrança seria muito para mim no momento, eu não teria condições psicológicas para lidar com nossa cantinho a qual dividimos os últimos meses.
- Desculpa Sr. Tina, mas acho que ainda não é o momento...
- Eu entendo perfeitamente, e sei que você precisa de mais um tempo. Espero que fique bem meu filho, eu posso te ligar mais vezes?.
- Claro.
Respondi desanimado.
- Então tá, irei te deixar descansar, um beijão.
- Outro.
Há exatamente uma semana, eu vi o seu semblante pela última vez, talvez seria retórico se eu dissesse que dá vontade de tirar-le terra por terra, grão por grão, e o trazê-lo de volta daquele maldito cemitério. Egoísmo da minha parte? Talvez seja. Mas não desejo esse sentimento absolutamente para ninguém. Pesadelos dominavam minha noite, fazendo eu acordar o pobre do Dr. Richard várias vezes com meus gritos estridentes. Talvez ele estivesse um pouco saturado disto tudo, e mesmo bancando o "Bom samaritano" para cima de mim, isto não colava de fato. Existia algo por trás de toda bondade e disposição do Dr. Apesar de eu estar bastante inerte e abalado, a esperteza não me abandonava por completo. O que ele iria querer de um garoto como eu ? Dinheiro? Eu acho que não faria sentido, já que tem sua vida financeira bastante estável. Sexo ? Não, com certeza ele poderia ter outros mil's garotos ao seu dispor, e se ele me amasse? Dei uma risadinha e dei um tapa em minha testa, as vezes eu era bem tonto, de onde um cara lindo, esperto e inteligente iria se apaixonar por alguém tão sem graça e oscilante como eu. A empregada bateu vagarosamente na porta do meu quarto me convocando para o café da manhã.
- Eu não irei, obrigado.
- O Dr. Pediu-me para lhe dizer para comer no mínimo algo, eu posso trazer aqui se quiser.
Prossegui negando até ela desistir. Vários pensamentos invadiram minha mente, pra ser sincero, eu não queria ficar ali,e também não queria voltar para a casa de Dona Tina. Talvez, se eu voltasse para a casa onde eu sempre morei, não seria uma má ideia. Estava na hora de ser grande e independente. Meu celular voltou a soar, eu me estressei, mas quando me notifiquei, Dulce, iria atendê-la, já que a mesma sempre me entendeu bem.
- Miguel?
Murmurei baixinho.
- Como você está ?
- Vivo, eu acho. E você ?
- Pra ser sincera, viva também. Gostaria de falar com você, pessoalmente.
O que de tão especial que ela queria falar para me tirar da minha cama? As vezes a Dulce era bem chata.
- Sim, mas não pode falar por aqui? Não me sinto muito disposto.
- Não, isso é algo para se falar pessoalmente. Posso te buscar?
Pensei um pouco, não iria fazer nada de produtivo,e a curiosidade começou a me incomodar, então, me obriguei a ir. Me levantei, lavei o rosto bem rápido e arrumei o cabelo mais ou menos, não queria ficar apresentável, não tinha ânimo e nem vontade nenhuma para isto.
- Se o Dr. Chegar, pode avisar que fui a casa de Dulce ?
- Aviso sim. Você tem horas para voltar ?
Aquelas mesmas perguntas, algo me incomodava ali.
- Não, mas não demoro. Até!
Sai sem olhar para atrás, eu odiava ser limitado, eu fui a vida inteira, já chega.
Dulce estava usando um óculos escuro e uma blusa azul, aqueles traços marcantes a qual eu amava. Mas ela não estava animada, dava para ver de longe.
- Olá Miguel. Meu rapaz!
A abracei, e em seguida fomos para sua casa.
- Você está sozinha, certo?
Ela assentiu com a cabeça.
- Entendi, não sei se ele comentou, mas eu e Jhon nós... Nós tivemos um pequeno desentendimento, enfim.
- Ele murmurou algo sobre, mas não prestei muita atenção, é normal, você acabou de perder alguém muito importante...
Meu corpo e coração gelou, ela entendia minha condição, por isso nos dávamos tão bem, Dulce me entendia como ninguém. Após chegarmos e irmos para a cozinha, ela preparou um chá para tomarmos.
- Então, Miguel... O que está se passando nessa cabecinha?
- Pra ser sincero? Eu não sei te responder está pergunta... São milhões de coisas.
Ela sorriu e acendeu um cigarro, era a primeira vez que eu a via fumando.
- Ah, isto? Não é frequente, só quando as coisas não saem como eu planejo. Um último refúgio.
Ela se referiu ao cigarro quando me viu reparando.
- O Jhon... Estava planejando se casar, eu não quero isto, Miguel. Pra ser sincera, ainda o acho irresponsável.
Meu coração gelou, casar? Não é possível, minha melhor amiga irá se casar e não me disse absolutamente nada.
- Se casar? Eu não fiquei sabendo de nada.
- Pois é, ele a pediu está semana, foi algo bem aleatório. E eu ainda acho loucura.
- Claro que é... Tipo, estou surpreso. Geralmente eu era o melhor amigo dela, agora só mais um pelo jeito.
- Depois de algum relacionamento, tudo se acaba se esvaiando, Miguel. Até os melhores amigos, acredite, já tive sua idade.
Me afundei em pensamentos. E logo eu, que achei que teria todos para sempre, até o fim no mínimo.
- Mas, você não me chamou aqui para falar disto, certo?
Ela sorriu.
- Você como sempre curioso. Te conhecendo bem, sei que está na casa do Dr. Richard, e sei que não está confortável. Lhe conheço. Então, se quiser vir para cá, será muito bem vindo.
Sorri, não seria uma má ideia, Dulce era maravilhosa. O problema seria o Jhon.
- Temos um quarto sobrando, você pode usá-lo e fazer a decoração do seu jeito.
Pensamentos me invadiram novamente fazendo minha voz sumir, a tarde se passou bem rápido, mudamos de assunto e tivemos outros vários assuntos aleatórios, meu celular tocava sem parar, mas eu sequer olhava quem era. Era o meu dia, e nada iria i atrapalhar.

Dias Chuvosos (Depois de você) - Parte ||Onde histórias criam vida. Descubra agora