Capítulo Dezoito - Esperança

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"O "Nunca" se tornou tão significativo para mim, é uma pena."

Aquela voz, meu corpo estremeceu. Não poderia ser, eu a vi, morta. Eu senti que iria desmaiar, de medo ou surpresa. Não sei, não era possível. Houve um enterro, não. Minha boca secou, não sabia o que dizer.
- Miguel. Quanto tempo. Já fazem alguns meses desde que morri, certo?
Ela soltou uma gargalhada. E eu continuava em silêncio, aquele misto de sentimentos me deixava paralisado.
- Ande, levante-o.
O detetive assim o fez.
- Agora pode ir, até mais tarde.
- Beijão gata.
- Corta essa!
E assim o cara sumiu.
- Então, você está um pouco diferente. E não irá me responder? Tudo bem. Você quem sabe.
Ela deu um suspiro.
- Não queria chegar a esse extremo, Miguel. Mas, seu pai era mais esperto que eu pensava.
Arqueei as sombrancelhas. E finalmente as palavras saíram.
- Rita? Então... Você está viva, como.?
Ela voltou a sorrir.
- Eu costumo morrer e ressuscitar as vezes. Mas, está bem óbvio que essa resposta você sabe bem, né ?
- Eu vi...eu vi você no chão.
- Poxa Miguel, você é tão ingênuo. Fazer uma cena de crime não é tão difícil. Fica mais fácil quando se tem detetives com você.
Fiquei boquiaberto, ela está indo tão longe assim?.
- Você é patético como a sua mãe.
- Minha mãe, quem é, o que você fez?
Algo me dizia que Rita tinha algo a dizer. E minha intuição não havia mentido novamente.
- Aquela pata sonsa ? Eu sinceramente não sei. Foi mais fácil com o seu pai, ele era fácil de domar. A pata sonsa era minha amiga no colégio, sua mãe.
- Pode me dizer o nome dela ?
- Não custa nada. Michele no início era alguém agradável, mas, depois... Quando ela conheceu o ricasso do seu pai, me senti um pouco excluída. E não acho justo ignorar os amigos.
Meu olhos lacrimejaram, eu não sabia de fato o que era uma mãe. O único relacionamento familiar que eu tinha era com a Rita.
- Deixe me ir, por favor!.
Ela ficou seria.
- Para ser sincera, eu até poderia, Miguel. Mas, não é só pelo dinheiro. Sua mãe roubou a vida que era para ser minha. Ela sempre teve tudo de melhor. E eu... Bom, eu não merecia pelo o que passei. Então, só tomei o que é meu de direito. Ela te amava tanto, nada mais justo do que ter você comigo.
Arqueei as sombrancelhas.
- Junte-se a mim, Miguel. Seja o menino que eu criei, que lhe mostrarei o melhor da vida. O importante você já tem.
Ela esfregou os dedos, insinuando dinheiro.
- Rita, não seja ridícula. Eu jamais seria alguém como você. Jamais!. Você, olha o que você fez. Destruiu a vida da minha família por capricho. Me fale, anda, me fale o que você fez com minha mãe!.
Ela deu uma gargalhada.
- Você não está em uma posição de exigir absolutamente nada, Miguel.
Um olhar matador foi direcionado a mim.
- Mas, quanto aquela pata sonsa. Eu não sei de absolutamente nada quanto a ela.
Fiquei confuso, então, continuei em silêncio.
- Meu objetivo era você, sempre você. O dinheiro seria seu, mas, estava claro que você não iria me dar de bandeja. E aqui, estamos.
Tudo Aquilo por ambição e inveja? Rita era um ser humano podre.
- E pensar que eu nutria algum sentimento por você.
- Pois é o mínimo, Miguel. Dooei uma boa parte da minha vida para cuidar de você.
Ridícula e dissimulada.
Jhon
Eu não dormi absolutamente nada durante a noite, e quando o sol apareceu, saltei da cama e corri para o chuveiro. Eu tinha que encontrá-lo, todas as ligações na caixa postal, e nenhuma mensagem respondida. Aquilo estava longe de ser normal.
Minha mãe estava na cozinha, aparentemente tinha acabado de acordar também.
- Filho, já está acordado?
- Eu nem dormi, mãe. Tenho que encontrá-lo.
- Certo, se até o final do dia não o acharmos, notificarei a polícia.
- Não, mãe. Ainda não.
Algo me diz que aquilo não era a coisa a se fazer, e eu confiava firmemente em minha intuição.
- Poxa, por quê?
- Eu não sei, só não acho uma boa ideia. Podemos esperar mais um pouco, talvez eu o ache.
- Eu espero, Jhon. Mas, só até a noite.
- Já é algum tempo, irei dar meu jeito.
- Cuidado meu filho!.
Andei rapidamente até a garagem, peguei minha bicicleta,e comecei a andar pelas ruas aleatóriamente. Até que, o detetive que esteve na escola alguns meses atrás entrou pela trilha que havia na mata adentro. Eu fiquei curioso, não posso negar. Será que ele estava procurando pistas, ou algo?. Mas, na cidade não havia nada muito surpreendente naqueles dias. Fui até lá, camuflei a bike em cipó's e comecei o seguir vagarosamente. Fui cauteloso, algo me fazia seguir aquele homem, o dia estava frio, o barulho  ocasionado pelo córrego que passava por dentro do mata, camuflava os meus passos. Agradeci a Deus mentalmente, ele estava em uma trilha diferente, eu já havia vindo ali com o Luke, uma sensação de nostalgia e saudades havia me tomado. Mas, aquela trilha que o detetive tomou já não era a mesma de antes, mas uns 10 minutos andando sem ser notado, eu estava me sentindo um espião. Meu estômago doía de ansiedade, algo me chamava. Até que, chegamos em uma cabana. Ela era velha, feita de madeira, e aparentemente inabitável. Parecia filme de terror. Ele em seguida entrou, estava levando algo em uma sacola, eu não reparei bem, mas se eu julgasse, seria uma Marmitex. Fui até a janela que havia, era de um vidro bem empoeirado, me impedindo de visualizar algo lá dentro.
- Trouxe algo para você comer, vadiazinha.
Não ouvi respostas, será que alguma garota estava ali dentro.
- Eu não quero nada de você. .
Escutei a voz do Miguel, impossível. Ele estava sobre cárcere privado. Quando fui me virar, escutei o trinco da porta girando. Eu seria pego, até que enfiei debaixo das pequenas escadas que havia na entrada. Fazendo assim, me encolhi e fiquei sem silencio. Uma  voz feminina domou o ar em minha volta, então prossegui com o silêncio até que ela passasse.

Dias Chuvosos (Depois de você) - Parte ||Onde histórias criam vida. Descubra agora