"O que irá dizer em meu funeral se é você quem me matou?".
Senti-me como um grão, algo sem sentido, apenas mais um em meio a tantos. Enquanto todos estavam virando as costas, e seguindo suas vidas, eu estava ali, parado e olhando, enquanto a terra acertava a madeira fazendo um barulho a qual não vou esquecer nunca mais. O Dr. Sabia que eu precisava de um tempo, todos estavam esvaiando para suas vidas, para suas monotonia diárias, aos poucos ele seria esquecido. Mas, eu não iria permitir, enquanto eu estivesse vivo, ele também estaria, vivo em mim, em meus pensamentos, em meu simples ato de viver. Aos poucos, uma chuva fina começou a cair. Os coveiros já haviam acabado o seu trabalho, enquanto eu ainda estava prostrado ali olhando. Aos poucos a chuva começou a ficar mais intensa. As flores estavam aparentemente chorando. Eu ainda estava seguro, inerte e quieto. Alguém chegou por trás, me tapando com um guarda chuva.
- Já está na hora de ir...
Jhon estava frio, sua mão tocou a minha por dentro do meu bolso, eu não conseguia falar, ainda não era hora.
- Miguel, por favor!.
Me virei para ele, ele estava pálido.
- Você irá pegar um resfriado. Eu sei, não precisa falar, eu sei o que está passando.
Um onda de ódio me subiu e finalmente as palavras saíram.
- Não, você não sabe. Jhon, você sabia disto desde o início, não é?.
Ele não olhou nos olhos, senti que ele guardava algo.
- Por que não me disse, cara? Por quê me escondeu algo desse porte? Eu não consigo... Eu não consigo imaginar em esconder algo desse porte de um amigo, se é que posso lhe chamar de amigo.
Ele olhou fixamente para o chão, e em seguida me olhou.
- Foi para o seu bem, Miguel. Você não entenderia.
Suspirei fundo.
- É claro que eu não entenderia. Acha que eu permitiria que essa loucura acontecesse?.
Me ódio fluía por todo o meu corpo.
- Agora, carregue essa culpa!.
Andei vagarosamente até a saída daquele lugar, sua energia era tão forte quanto a do hospital. O Dr. Estava me esperando dentro do carro, e quanto me viu, veio correndo até mim com um Guarda-chuva aberto.
- Estava quase indo atrás de você, Miguel. Está tudo bem?.
Assenti com a cabeça.
- Você está ensopado, vamos para casa, irei te preparar algo quente, se não irá pegar um resfriado.
Ele me levou até o carro, e após entrar, deu partida e seguimos. As ruas estavam turvas por conta da chuva, a qual estava cada momento mais forte. Eu sei que os céus choravam, a dor da perda era perceptível até mesmo para ele, e sua imensidão. Meu interior súplicava por algo, mas o que exatamente?. Perdido novamente eu me encontrava. seguimos o caminho em silêncio, e quando finalmente chegamos em casa, o doutor o quebrou.
- Miguel!.
Olhei para ele com uma face de interrogação.
- Eu estava pensando, se quiser ficar aqui por uns tempos, será muito bem vindo.
Ele já havia repetido aquilo tantas e tantas vezes que fiquei enjoado. Então, nem o respondi. Segui reto para o banheiro, tinha que tomar um banho para tirar aquele cheiro de morte do meu corpo. Ali, eu poderia chorar, mas algo, uma força maior me fazia segurar, prender, me sentia sufocado, como se um milhão de socos fossem desferidos em meu estômago de uma só vez. Após alguns devaneios, ouvi batidas na porta, sai do box vagarosamente e abri pela metade.
- Miguel, há chocolate quente pronto. Venha provar antes que esfrie.
Assenti com a cabeça, me sequei e vesti qualquer coisa. O Dr. Estava na cozinha lendo algo e tive alguns devaneios.
Flashes
O dia era estranhamente frio. No lado de baixo um cheiro delicioso tomava conta de toda casa. Eu curiosamente desci, era Dona Tina com mais uma de suas extraordinárias receitas.
- Olá Miguel, acordou?
Sorri e fui até ela.
- O que está preparando? O cheiro está ótimo.
Ela sorriu e respondeu enquanto voltava a ler a sua revista de receitas.
- É um bolo de nozes com chocolate. Essa revista é ótima.
- Ah sim. Eu não sou muito bom na cozinha, não chego nem ao seus pés.
- Ah, para disto. Você vai achar algo que é bom, tenho certeza.
Minha sogra era minha mãe a qual nunca tive. Senti uma mão se envolvendo na minha cintura.
- Que cheiro bom, é este?.
Luke foi diretamente para o forno abrir, mas queimou sua mão em seguida, me fazendo rir.
- Isso é para largar de ser inxerido.
Dona Tina o atiçou.
- Poxa mãe, estou com fome... Caminhar dar uma puta fome, Miguel, você almoçou?.
Ultimamente eu não estava me alimentando bem, eu mal sabia o porquê. Tina voltou a o responder.
- Não, ele não comeu de novo. Se continuar assim vai ter que ter uma consulta... Fiz até esse bolo para atiçar sua fome, parece que deu certo. Não é Miguel?.
Dei uma gargalhada.
- sim, o cheiro está ótimo.
Luke me olhou sério.
- Já te falei que não pode ficar sem comer, desse jeito não vai desenvolver..
Olhei sério para ele, senti como uma ofensa para ser sincero.
- Espera aí! Não está satisfeito com meu corpo, Luke. É isto?.
Ele sorriu.
- Claro que não, amor. Você entendeu errado.
Virei-me e fui em direção a escadas. Aquilo não soou bem, eu sei que fazia alguns dias que não transamos. Seria este o motivo?. Luke veio rapidamente em minha direção e se posicionou em minha frente.
- Você não vai subir sem comer algo, Miguel. Pode parar!
Olhei em seus olhos e senti que ele queria rir.
- É, e você quem vai me impedir, bonitão?.
- Se conseguir passar por mim, o que eu duvido muito.
O abracei vagarosamente, senti seu corpo grudar no meu.
- Hey gatinho, você está estranho hoje, bem bipolar ein.
Quando ele devolveu o meu abraço, entrelacei os seus pés no meus o jogando para trás. O mesmo caiu sentado, e eu comecei a rir.
- Não foi tão difícil bobão.
Dona tina começou a rir da cozinha, e mais um clima agradável em minha nova família havia se formado.
Flashes off.
- Se não quiser o chocolate quente, posso preparar outra coisa, chá ou café.
Sorri timidamente.
- Obrigado pela hospitalidade Richard. Mas, vou querer apenas o chocolate.
Ele me olhou de cabeça aos pés e soltou.
- Você emagreceu mais um pouco, não é?
- Talvez...
Fiquei um pouco apreensivo com a análise do Dr. Eu odiava quando ele fazia isto.
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Dias Chuvosos (Depois de você) - Parte ||
RomantikPrólogo. Naquela manhã o ar era gélido, a rua estava deserta. O vento forte anunciava uma forte chuva, fazendo estremecer meu corpo. Aquela dor rasgava no âmago do mais implacável tormento. Sentia suas carícias, seu calor, seu desejo... Mas não ha...