Capítulo Seis - Negação

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"Vamos mesmo dar um tempo?"

Eu sei que poderia estar exagerando. Mas eu não podia sequer olhar na cara de quem no mínimo cogita em concordar com as atitudes do Luke, aliás, falecido. Me dói tanto falar isto... Eu não estou aceitando, não posso aceitar,a negação me inundava, talvez fosse coisa de momento, uma fase, mas quem lugar para essa coisa de fases?. Eu estava tão estressado e apático que nem sabia de fato para onde ia, o frio fazia minhas bochechas doerem. Parecia que algo quisesse que eu voltasse, andei, andei e andei. Até chegar em uma praça, ali não havia ninguém, então, me sentei no primeiro assento que vi. Encolhi-me e fiquei quietinho, pensativo, aflito, triste. Era minha terrível situação atual, o Dr. Provavelmente estava atrás de mim, mas duvido muito que iria me encontrar, eu espero que não. Eu não fazia ideia de para onde eu iria, dinheiro não seria o problema, mas eu? Logo que fui tão dependente, agora, solto no mundo. Até que sinto a presença de alguém, era um senhor, aparentava ter para lá de 60 anos, e pelas suas vestes, o julgaria um morador de rua.
- Rapaz, você não parece ser daqui.
Ele se dirigiu a mim com um sorriso simpático.
- Eu não sei nem de onde sou mais ...
- Posso me sentar aqui, do seu lado?
Assenti com a cabeça.
- Está bastante frio hoje, né ?.
Voltei a assentir com a cabeça.
- Você é da cidade?
- Sou.
Ele olhou para o céu e depois para mim.
- Parece que você não é deu muita conversa, né ? Ou aconteceu algo ...
Ele estranhamente parecia saber. Me senti um pouco incomodado.
- Qual é seu nome?.
- Meu nome ? Ah, costumam me chamar de Will, mas sou Willian. É o seu ?
- Miguel...
- Prazer Miguel... Então, quer conversar ou posso lhe deixar em paz.
Eu não havia nada a perder.
- O que você faria se seu amigo mentisse pra você, não de fato mentir, mas sim omitir.
Ele ficou um pouco pensativo.
- Depende muito. Pra ser sincero, océ não foi claro.
- Ah, deixa pra lá.
Ele sorriu, havia poucos dentes em sua boca. O frio estava cada vez mais intenso. Então o questionei.
- Você não sente frio aqui a noite?.
Ele olhou para o céu.
- Ah, sim. Frio, sol, calor, chuva... Mas, com a vista que tenho, vale a pena.
Me senti um pouco mal, as vezes eu era muito ingrato.
- E sua família?
- Nós da rua não temos família, meu caro.
Sorri.
- É, sei bem como é.
- Você parece ter uma boa vida, não é rapaz ?
Dei um sorrisinho, ah se ele soubesse.
- Nem tanto...
Um vento frio soprou fazendo meu cachos voarem. Um voz começou a me chamar de longe, cada vez mais perto.
- Miguel!
Era obviamente o Dr. O olhei de esguelha.
- Eu te procurei em vários lugares,está tudo bem? Não faça isso de novo.
Fingi que não estava o vendo, então, me voltei para o morador de rua, mas ele havia desaparecido. Me arrepiei e fiquei um pouco desnorteado.
- Você não me parece bem...
O doutor se sentou-se do meu lado, o frio aumentava gradativamente em casa segundo.
- Miguel, você quer conversar?.
Balancei a cabeça em sinal de negação, eu não queria, não tinha nada para conversar com ele.
- Eu entendo e respeito a sua situação, mas, vamos para a casa, por favor!.
Me dirigi a ele um pouco mais agressivo.
- Já disse que eu não tenho casa, me deixe aqui e pode ir, por favor!.
Ele me olhou e me estudou dos pés a cabeça.
- Minha casa, é sua casa. E se você não estiver se sentindo bem, pode me falar.
Não o respondi. Ele se espichou no banco afim de ficar mais confortável.
- A senhora Tina me ligou... E disse que queria falar com você.
Alguns garotos atravessam a praça, eu não dei muita bola, mas quando foram se aproximando, eram eles. Os amigos de Luke, eles vinham cada vez mais rápido, senti meu corpo estremecer, e um onda de medo me tomou. Senti-me enfurecido em seguida, não conseguia falar e nem me mover, algo de errado estava acontecendo.
- Dr. Por favor, eles estão vindo, vá embora!.
Falei vagarosamente, parecia que algo estava me prendendo, apertando o meu pescoço.
- Miguel, o que você está falando?. não tem ninguém...
Aos poucos, vi que todos os meninos haviam simplesmente desaparecido. Feito fumaça.
- Vamos para a casa, agora!.
O Dr soou um pouco mais autoritário, então, eu só o segui. Me sentia estranho, como se levitasse. Pisasse alto, algo estava diferente em mim, talvez estivesse perdendo o restante da minha sanidade, não iria estranhar se fosse. Quando adentrei no carro não vi mais absolutamente nada, tudo ficou turvo, um sonho profundo roubou-me.
Dr. Richard.
Era óbvio que algo estava errado com Miguel, e em todos esses anos com diversos casos, o dele era diferente, algo psíquico. Eu havia uma excelente amiga psicóloga, e eu poderia falar com ela, além das consultas que já marquei. Eu sei que perder alguém especial é muito duro, mas ele... Estava fora de si, alucinando. Era tanta coisa para fazer, trabalho, pesquisas. Enfim, o celular começou a tocar. Eu com minha mania curiosa, resolvi atender sem sequer ver quem era.
- Alô!
- Boa Noite Senhor Richard. Aqui é o Detetive Evans. Eu liguei para te dizer que o seu pedido de documentação está pronto.
- Você é realmente rápido como me disseram, você pode me encontrar em um restaurante aleatório na próxima segunda?.
- Quando você quiser, já está com o restante do dinheiro em mãos?.
- Estou, como combinamos. Obrigado!
- Boa noite senhor Richard!
Desliguei em seguida, e depois olhei para o Miguel, ele simplesmente tinha apagado, claramente estava muito cansado, seu psicológico estava. Meu coração se partia em ver ele assim, por isso estava dando o meu melhor, sendo o que nunca foram para mim, pois ele merece, pelo que passou, pelo o que está passando. Irei dar o meu melhor, como médico, e amigo. Talvez não vejam isso da melhor forma, mas no Miguel havia algo especial, eu sabia, eu sentia.

Dias Chuvosos (Depois de você) - Parte ||Onde histórias criam vida. Descubra agora